No Brasil, iniciativas auditadas já mostram essa combinação de impacto climático e social. Projetos REDD+ verificados e de integridade alta, como os desenvolvidos pela Carbonext, protegem mais de 6 milhões de hectares, beneficiam mais de 5 mil famílias e evitam milhares de toneladas de CO₂ por ano. Para Roveda, “o REDD+ é pragmatismo climático: organiza incentivos econômicos para manter a floresta em pé agora, sem substituir os projetos de reflorestamento (ARR) e de agricultura regenerativa (ALM). Pelo contrário: servem de base para que eles prosperem e, depois, também possam ser conservados”.
4) Integridade e “permanência”: o que muda com o Art. 6.4
As decisões de outubro do Órgão Supervisor do Artigo 6.4 mantiveram as soluções baseadas na natureza dentro do mecanismo de créditos do Acordo de Paris e reforçaram pilares como adicionalidade, vazamento e linhas de base conservadoras. Ao mesmo tempo, sinalizaram como lidar com “não permanência” — risco de reversão que, em projetos florestais, exige buffers, monitoramento e respostas proporcionais às realidades de cada metodologia.
O recado para o mercado é pragmático: calibrar regras para que projetos de alta integridade sejam viáveis operacionalmente. A integridade não se confere por rótulo metodológico, mas por evidências verificáveis. Esse equilíbrio é chave para destravar capital, especialmente para países do Sul Global, onde está a maior parte do potencial de mitigação via natureza.
5) O legado possível: liderança brasileira e coalizão tropical
A oportunidade de legado da COP30 está em consolidar uma coalizão de países tropicais ancorada em conservação, bioeconomia e financiamento por resultados. Isso significa conectar TFFF, mercados voluntário e mecanismos do Acordo de Paris a políticas públicas que reduzam risco regulatório e deem previsibilidade a quem investe em natureza.
Se Belém conseguir transformar discurso em critérios e cronogramas, a conferência será lembrada não apenas pelas promessas, mas pelas escolhas que viabilizaram escala com integridade. Como sintetiza Roveda, “o legado de Belém dependerá menos do volume de compromissos e mais de escolhas que preservem a base da nossa estabilidade: a floresta. Sem conservação agora, não há meta que se sustente.”