Crise estimula pais a trocar escola particular por pública
Federação Nacional das Escolas Particulares aponta queda de até 12% nas matrículas neste ano; em Londrina, pedidos na rede municipal triplicaram
Maior migração para a rede pública ocorreu nas classes C e D; rede municipal de Londrina teve 600 pré-matrículas nas últimas semanas, contra média de 200 nesta época do ano
A crise econômica provocou uma migração de alunos da rede privada para a rede pública. Em âmbito nacional, as matrículas caíram entre 10% e 12% nas escolas particulares neste ano, segundo a Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep). No Paraná, não há números precisos. O Sindicato das Escolas Particulares (Sinep) de Londrina admite uma redução de 8%, mas o Sinep-PR acredita em estabilidade ou, no máximo, queda de 2%.
"Teve migração maior de escolas que atendem as classes C e D, que cresceram mais nos últimos cinco anos com aquela ilusão do grande boom do crescimento. Essas classes tinham o sonho de colocar os filhos na escola particular e, com os cortes que fizeram no orçamento, a escola não coube mais", diz Amábile Pacios, diretora da Fenep. De acordo com ela, nas escolas que atendem as classes A e B, houve aumento que variou de 3% a 4% nas matrículas.
O presidente do Sinep de Londrina, Alderi Ferraresi, fez uma pesquisa informal ontem à tarde com diretores das escolas privadas menores. E estimou uma redução de 8%. "Mas não há nenhum desespero por causa de perda de aluno", declara. Segundo ele, as matrículas vêm diminuindo nos últimos anos devido a outros fatores, como a queda do índice de natalidade. "Dá para atribuir à crise apenas 4%, 5%", diz ele. Nas escolas particulares maiores, ele estima que a redução nas matrículas tenha sido menor.
REDE MUNICIPAL
Na rede municipal de Londrina, a procura por pré-matricula nas últimas semanas triplicou na comparação com o mesmo período do ano passado, o que pode indicar migração de alunos da rede privada. A secretária municipal da Educação, Janet Thomas, afirma que a Prefeitura recebeu 600 pedidos desde 25 de janeiro. O normal seriam cerca de 200. "A gente percebe que os pais demoraram para tomar a decisão (de mudar os filhos para a rede pública). No fim do ano passado, não houve muitos pedidos. Penso que os pais aguardaram o início do ano para ver como a economia se comportava. Como as perspectivas são ruins, acabaram fazendo a mudança", declara.
De acordo com ela, está sendo difícil encaixar tantos novos alunos na rede municipal. Antes de fazer a matrícula propriamente dita, os pais fazem a pré-matrícula. Em seguida, a Prefeitura faz o georreferenciamento e pede para os pais procurarem a escola mais próxima de suas residências para a matrícula. "Pode ser que os alunos novos não consigam vaga perto de casa", afirma.
Questão de orçamento
Segundo o consultor Maicon Putti, da Ideia Consultoria e Treinamentos, a migração é uma "realidade". "Para uma família com renda de cerca de R$ 6 mil, só de mensalidade com escola particular o gasto representa cerca de 20% do orçamento", calcula. "Os pais ficam frustrados porque querem dar uma educação de melhor qualidade para seus filhos, mas, se não fizerem a migração, o orçamento não aguenta", declara.
Ele lembra que, além de mensalidade, as escolas particulares costumam oferecer eventos e atividades que envolvem outros custos. Putti ressalta que, ao mesmo tempo que existe mudança de crianças da escola particular para a escola pública, há muita gente saindo de uma escola particular para outra mais barata. "Tudo para encaixar no orçamento." (Com Agência Brasil)
FOLHA DE LONDRINA
Nelson Bortolin
Reportagem Local
Reportagem Local