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Muita uva para pouca mão de obra

Marcos de Carvalho se sente frustrado: "estamos produzindo como nunca, mas não temos quem colha"

Os parreirais de Marialva nunca estiveram tão produtivos. Só neste ano, a região espera colher 50 mil toneladas de uva. O volume, de acordo com dados da secretaria de agricultura do município, é 3 mil t a mais do que no ano passado. De acordo com a entidade, se confirmada, essa deverá ser uma das melhores safras dos últimos 5 anos. Entretanto, o que deveria ser motivo de comemoração, está se tornando um problema para os produtores locais. Com a elevação da oferta de empregos no centro urbano, a mão de obra na zona rural está sumindo. Atraídos por promessas de melhores salários, muitos trabalhadores, principalmente os mais jovens, têm deixado os parreirais em busca de conforto e melhores condições de vida na cidade. Silvia Capelali, engenheira agrônoma do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) de Marialva, explica que muitas famílias estão saindo da zona rural para trabalhar na construção civil. ''A cidade está crescendo e esse setor tem buscado cada vez mais trabalhadores''. Silvia acrescenta que a promessa de carteira assinada, incluindo benefícios trabalhistas como vale transporte e refeição são fatores que motivam os trabalhadores a deixarem o campo. A especialista destaca que o atual sistema de pagamento nas lavouras de uva não tem convencido os trabalhadores a ficarem na zona rural. Hoje, segundo ela, há dois tipos de pagamentos: um é o sistema participativo familiar, onde cada família recebe 30% do valor da produção, e o outro é o pagamento por diária, que atualmente gira em torno de R$ 40. O parreiral do produtor Odair Tiago da Silva está com as uvas prontas para serem colhidas. Neste ano, ele estima produzir 80 toneladas da fruta, 20 a mais do que em 2011. Contudo, Silva tem sentido na pele essa escassez de mão de obra. Para substituir os trabalhadores que migraram para a cidade, o viticultor tem contado com a ajuda de vizinhos para iniciar a colheita. Ele garante que os valores pagos ao pessoal que trabalha em seu sítio são os mesmos da cidade, mas o diferencial são os benefícios oferecidos pelos empregos na zona urbana, ''os quais ele não tem condições de arcar''. Silva conta que a remuneração na viticultura varia de acordo com o que é produzido, o que gera insegurança ao trabalhador. Com o sucesso da safra, Silva revela que só a ajuda dos produtores vizinhos não será suficiente para colher os 1,5 hectare de parreiral. ''Estou pensando em buscar trabalhadores em outras regiões para dar conta da minha colheita''. O produtor observa que tem aparecido muitos migrantes de Umuarama e demais localidades que, fugindo da falta de emprego no setor de cana-de-açúcar, estão buscando em Marialva uma nova oportunidade de trabalho. Marcos Aparecido de Carvalho, vizinho de Silva, se mostra frustrado com o que está acontecendo. ''Antigamente tínhamos baixa produção e uma vasta oferta de mão de obra. Hoje estamos produzindo como nunca, mas não temos quem possa colher''. A demora no recolhimento do fruto pode gerar grandes prejuízos, já que as frutas podem apodrecer no pé. Para evitar esse tipo de problema, os dois produtores adotaram um sistema de poda escalonada. O objetivo, contam eles, é para que os frutos não amadureçam de uma só vez. ''Com o uso dessa técnica, é possível colher com apenas duas pessoas'', elucida Carvalho. O viticultor aponta que para um tamanho de área como a dele, esse sistema funciona. Porém, em uma área maior, o produtor necessita de três ou mais trabalhadores.
Ricardo Maia Reportagem Local


FONTE - folhanews

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