ANDRÉ VARGAS CONHECIA O DOLEIRO QUE EMPRESTOU SEU JATINHO POR MAIS DE 20 ANOS…E AFIRMOU QUE NÃO SABIA COM QUEM ESTAVA SE RELACIONANDO.
A Folha de S. Paulo desta segunda-feira (1º) informa que o vice-presidente da Câmara dos Deputados, André Vargas (PT-PR), viajou em um avião emprestado por Alberto Youssef, doleiro alvo da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, que desarticulou em março quadrilhas no País suspeitas de lavagem de dinheiro. Segundo a repórter Andréia Sadi, o deputado petista trocou mensagens no dia 2 de janeiro com Youssef, que conseguiu para o parlamentar um jato particular rumo a João Pessoa (PB). A intenção do ‘voo amigo’ foi evitar o gasto de Vargas com passagem de voo comercial. O vice-presidente da Câmara admitiu à Folha que foi imprudente. Disse: “Eu não sabia com quem eu estava me relacionando. Não tenho nenhuma relação com os crimes que ele eventualmente cometeu”. Detalhe: o deputado conhece Youssef há mais de duas décadas.
Documentos obtidos por VEJA revelam que o aluguel do Learjet 45, fretado para transportar a família do petista de Londrina (PR) a João Pessoa, na Paraíba, custou 100 mil reais.
Vargas e Youssef moram na mesma cidade, Londrina, se conhecem há vinte anos e, nos últimos anos, com a chegada de André Vargas a cargos importantes no Congresso, conversavam rotineiramente sobre negócios variados. “Ele me procurava para avaliar investimentos, colher informações, trocar ideias”, disse Vargas na semana passada. Nessa “troca de informações” entrariam dados valiosos sobre o programa Minha Casa, Minha Vida – cujo relator foi justamente André Vargas, na Câmara – e negócios do doleiro no Ministério da Saúde.
Foi interceptando o telefone BlackBerry, o mesmo modelo utilizado por André Vargas, que a Polícia Federal estabeleceu o vínculo do doleiro com o deputado petista. No dia 2 de janeiro, véspera da viagem de férias da família, Vargas e Youssef trocaram vinte mensagens sobre o avião. “Tudo certo para amanhã. Daqui a pouco te passo o tel do comandante… Duração do voo: 3h45 minutos, João Pessoa, Paraíba”, avisa Youssef a Vargas. “Tem o telefone da América?”, pergunta o deputado, referindo-se ao hangar aonde o avião chegaria. “Da América, não. Mas é só buzinar no portão que eles abrem”, orientou o doleiro. “Valeu irmão”, devolveu Vargas. “Boa viagem e boas férias abs (sic)”, responde Youssef.
A proprietária do jato disponibilizado por Youssef ao vice-presidente da Câmara é a Elite Aviation, uma empresa de taxi aéreo de Salvador, na Bahia. O dono da empresa, Bernardo Tosto, conta que o voo de André Vargas foi acertado diretamente com uma agência de São Paulo, que intermediou o contrato com o cliente no Paraná. “Eu não sei nem quem é esse doleiro e esse deputado. Não gosto da política brasileira e não trabalho com isso. Eu fretei o avião para uma empresa de agenciamento de voos. Não preciso saber quem entra no avião. Só tenho que saber que o dinheiro é lícito”, diz Bernardo, que confirmou os valores pagos pelo fretamento da aeronave, mas não quis revelar o nome da agência que intermediou o contrato. Jatos luxuosos como o disponibilizado ao petista costumam vir acompanhados com mimos a bordo, como bebidas caras, chocolates e até pratos sofisticados. A empresa nega, no entanto, que o voo de André Vargas e sua família, com duração de 3 horas e 45 minutos, tenha contado com tais mordomias.
Na sexta-feira, quando foi ouvido por VEJA, André Vargas negava ter obtido qualquer vantagem a partir da amizade com o doleiro. Na verdade, nem a relação de proximidade o deputado confirmava: “Amizade é uma palavra sagrada. Não dá para dizer que ele é meu amigo. É no máximo um conhecido corriqueiro. Eu tinha ele como um cidadão comum, que tinha passado por problemas como outros passaram. Posso ter incorrido em alguma coisa imprópria, mas eram apenas conversas, nada ilegal. Se eu soubesse que ele estava sendo investigado de novo eu não teria falado com ele”, disse Vargas. Questionado se o doleiro havia providenciado um avião para sua viagem, André Vargas despistou: “Esse negócio de avião quem está espalhando é o deputado Fernando Francischini, mas não existe isso.” Ontem, porém, ao jornal Folha de S.Paulo, que revelou a viagem de Vargas, o deputado mudou o discurso. Disse que pediu o avião porque os voos comerciais estavam muito caros no período. “Não sei se o avião é dele, ele foi dono de hangar e eu perguntei se ele conhecia alguém com avião”, disse o petista.
Fonte: Brasil Post e Veja


