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Atenção adequada ao 'minuto de ouro'

Campanha nacional alerta que cuidados específicos durante o primeiro minuto da vida do bebê podem evitar mortes e sequelas

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Estimativa aponta que entre quatro e cinco bebês nascidos a termo e sem malformações morram todos os dias no País por asfixia na hora do parto
Dados da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) apontam que 10% dos recém-nascidos precisam de intervenção médica nos primeiros 60 segundos após o nascimento. O chamado "Minuto de Ouro" é tão importante na vida do bebê que é alvo de uma campanha da SBP. A entidade estima que atualmente entre quatro e cinco bebês nascidos a termo e sem malformações morram todos os dias no Brasil na primeira semana de vida por causas ligadas à asfixia na hora do parto. "Consideramos 'de termo' aqueles bebês que nasceram dentro da época esperada, são crianças saudáveis e não prematuras", alerta a médica Ruth Guinsburg, uma das coordenadoras do Programa de Reanimação Neonatal da SBP. De acordo com ela, os números são considerados muito altos especialmente porque a maioria destas mortes pode ser evitada se a criança receber atendimento adequado no minuto após o parto.

O médico pediatra Ary Parreira explica que vários fatores devem receber atenção no instante do nascimento do bebê. "Para nós é importante saber se a gestante está entre 38 e 42 semanas, se a criança chora e respira logo após o nascimento e se ela apresenta um bom tônus muscular", afirma. Além de observar estas características, o pediatra deve saber da história da paciente e da gestação.

Há 20 anos a SBP promove ações de capacitação de pediatras para estas situações. A campanha Minuto de Ouro foi lançada recentemente para incentivar os médicos e profissionais de saúde que atendem recém-nascidos nas salas de parto a fazerem os cursos oferecidos pela entidade. De acordo o médico, a ventilação mecânica de bebês que nascem sem respirar ou com batimentos cardíacos baixos é suficiente para salvar muitas vidas e evitar graves sequelas que podem afetar o desenvolvimento neuropsicomotor da criança. "As sequelas (da falta de oxigênio) dependem da gravidade da situação e do tempo levado para estabilizar a criança", destaca Parreira.

Após o nascimento, o pediatra explica que o primeiro procedimento a ser feito é secar e aquecer a criança. "Só a secagem geralmente já estimula o choro e a respiração", diz. Após este procedimento, o pediatra usa uma seringa ou um equipamento específico para aspirar as vias aéreas da criança e faz a ausculta cardíaca. "Estes três procedimentos devem durar 30 segundos, se a criança apresentar algum sinal fora do normal, como baixa frequência cardíaca, respiração irregular ou apneia, é preciso intervir. Inicialmente oferecemos oxigênio no cateter ou na máscara e, se mesmo assim o bebê não apresentar melhora, pode ser necessário entubar e iniciar outros procedimentos", destaca o pediatra.

Os resultados da iniciativa da SBP já estão aparecendo. Dados da entidade apontam que no ano de 2005 morriam por asfixia no Brasil 1,61 bebê com até uma semana de vida. No ano de 2010 o número de mortes caiu para 1,26. Na região Sul do País, em 2005, o registro era de 1,14 morte a cada mil bebês nascidos vivos e em 2010 a incidência caiu para 0,87. "Acreditamos que todas as famílias devem ser atendidas por pessoas capacitadas", destaca Ruth Guinsburg.

Para atingir o objetivo de reduzir as mortes nestas circunstâncias, além de oferecer cursos específicos a médicos pediatras e outros profissionais que atuam na sala de parto, a capacitação também pode ser feita por residentes em pediatria de diversas instituições de ensino. O objetivo é complementar a formação destes profissionais e possibilitar que eles sejam preparados para atender estas situações mesmo antes de concluírem a formação.
Michelle Aligleri
Reportagem local-folha de londrina
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