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Índios usam smartphones para monitorar desmatamento

Tribo ainda vende créditos de carbono para o exterior com objetivo de preservar a Floresta Amazônica

Theo Marques
"A tecnologia é a melhor forma do povo Suruí se comunicar com o mundo", destacou o cacique
Curitiba - Uma tribo indígena está usando recursos tecnológicos como computadores, celulares, GPS e internet para preservar a Amazônia. Os Pater-Suruí de Rondônia, na língua indígena "Povo Verdadeiro", fizeram uma parceria com o Google em 2007 para mapear o desmatamento da floresta com a utilização de smartphones.

O cacique da tribo, Almir Narayamoga Suruí, de 39 anos, conta que o município de Cacoal, onde vive a população indígena, tinha 248 mil hectares de mata nativa em 1985 e hoje 7% deste total já foi desmatado. "Fizemos um diagnóstico para levantar potenciais, problemas e estratégias", explicou Suruí, que esteve ontem em Curitiba.

Em uma palestra em 2007 nos Estados Unidos sobre os problemas que a tribo enfrentava, o cacique pediu a executivos do Google que ajudassem sua tribo a monitorar a floresta. Depois disso, a empresa forneceu celulares e laptops equipados com programas de dados capazes de abastecer a tribo com informações da floresta. Alguns índios da tribo foram treinados para monitorar os limites das terras suruís com o auxílio de celulares e laptops.

No trabalho de treinamento, o Google ensinou os índios como criar um blog, e-mail, filmar e postar vídeos no YouTube, colocar informações no Google Maps, além de utilizar um GPS. Foram dois anos de treinamento. A partir disso, foi possível gerar informações para que o desmatamento fosse mapeado através da utilização de smartphones. A tribo passou a utilizar documentação digital e mapeamento por satélite como ferramentas de conservação da natureza. O projeto funciona hoje por meio de doações.

Segundo ele, a parceria com o Google durou até 2011. A partir daí, segundo o cacique, a tribo percebeu que já podia caminhar sozinha. A tribo tem hoje 1,4 mil integrantes e apenas há 44 anos iniciou o contato com a sociedade. "A tecnologia é a melhor forma do povo Suruí se comunicar com o mundo", destacou. De acordo com ele, o trabalho realizado pela tribo dos Paiter-Suruí também foi implementado na Tanzânia, na África.

Para tentar minimizar o desmatamento, os índios também plantaram 180 mil árvores de 17 espécies na região da tribo, como mogno, cerejeira, assaí e pupunha.

A tribo também vende créditos de carbono. Por este sistema, uma empresa ou país poluidor pode compensar suas emissões de carbono comprando créditos de quem ainda tem o que preservar. Segundo o cacique Suruí, entre 2009 e 2012 foram gerados 220 mil toneladas de créditos.

A área de floresta dos suruís em Rondônia é capaz de evitar a emissão de 7,4 milhões de toneladas de carbono em um período de 30 anos, se mantida da forma como está.
Andréa Bertoldi
Reportagem Local-FOLHA DE LONDRINA
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