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Ciência devolve mobilidade a paraplégicos

Técnica cirúrgica possibilita que pessoas com alguns tipos de lesão medular retomem movimentos e funções perdidos

Reprodução
Eletrodos são conectados a um gerador que fica embaixo da pele, comandado por controle remoto; cada programa proporciona uma autonomia diferente ao paciente
A reabilitação motora de pacientes que apresentam lesão medular torácica já é uma realidade. Devolver os movimentos das pernas a uma pessoa paraplégica significa mais qualidade de vida, autonomia e independência. Quatro pacientes brasileiros já passaram pelo procedimento, que foi desenvolvido na Suíça. A primeira cirurgia foi realizada no Brasil em 2012 com auxílio de doações e os outros pacientes foram beneficiados pela cobertura de convênios médicos.

O responsável por trazer a técnica para o Brasil é o médico Nucelio Lemos, que integra a equipe da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), responsável pelas cirurgias no País. Lemos explica que o procedimento não é mais experimental e que desde janeiro deste ano a técnica já está prevista nas coberturas dos planos de saúde, de acordo com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

O procedimento consiste em uma cirurgia por laparoscopia que implanta eletrodos nos nervos ciático, femoral e pudendo. O médico salienta que a neuroestimulação sacral já existe desde a década de 1980, mas a nova abordagem traz como diferença o local de implante dos eletrodos. "Em vez de colocá-los na medula (coluna) como era feito antigamente, usamos a videolaparoscopia para a implantação após a formação dos nervos, possibilitando respostas mais diretas aos estímulos elétricos", destaca.

Os eletrodos são conectados a um gerador que fica embaixo da pele e é comandado por controle remoto. "Quando o paciente aciona o controle, ele envia estímulos aos nervos, que contraem os músculos e possibilitam retomar alguns dos movimentos e funções perdidos", explica o médico. Cada programa do controle remoto proporciona uma autonomia diferente como reter e soltar a urina, controlar a postura do tronco, subir e descer as pernas ou diminuir os espasmos musculares.

Como o estímulo é realizado diretamente no nervo, o resultado da cirurgia é imediato. "Quando estimulamos o nervo femural, fazemos o paciente contrair o músculo quadríceps. Quando estimulamos o nervo ciático, o paciente contrai o glúteo. As contrações musculares possibilitam esticar a perna e forçar o pé para baixo, fazendo com que a pessoa consiga ficar em pé", exemplifica Lemos.

A técnica possibilita que o indivíduo consiga voltar a andar com a ajuda de andador, mas o médico salienta que provavelmente estes pacientes não terão condições de andar sozinhos, sem ajuda de andador ou muletas. Para estes pacientes, segundo o médico, a marcha possibilita a realização de pequenas atividades e confere maior independência em ambientes adaptados. "O maior objetivo é que a pessoa fique em pé para alcançar um objeto sobre uma estante, por exemplo. O paciente pode dar alguns passos, mas a proposta não é que ele faça uma caminhada", reforça.

A cirurgia e o aparelho custam em torno de R$ 300 mil e o custo da fisioterapia chega a R$ 5 mil por mês. Segundo o médico Nucélio Lemos, como já está regulamentado pela ANS, os procedimentos realizados no país foram cobertos por planos de saúde mas ainda não há previsão de inclusão desta técnica na lista de procedimentos oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Michelle Aligleri
Reportagem Local-FOLHA DE LONDRINA
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