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Vocação religiosa atrai menos jovens

Censo da Igreja Católica aponta que existem menos padres disponíveis por habitante em relação a 40 anos atrás, indicando uma suposta "crise vocacional"

Lis Sayuri
Hoje, existem apenas 19 seminaristas estudando para transformarem-se em padres na Arquidiocese de Londrina
Londrina - Cada vez menos interessados pela vida religiosa, os jovens causam mudanças nas estatísticas católicas brasileiras. O Censo da Igreja Católica no Brasil, realizado pelo Centro de Estatísticas Religiosas e Investigações Sociais (Ceris) em 2010, aponta que, apesar da evolução no número de presbíteros no País, há uma menor disponibilidade de religiosos diante do crescimento da população. Em 1970, o Brasil tinha 13.092 presbíteros, com um deles para cada 7,1 mil habitantes. Quarenta anos depois, o número de padres aumentou para 22,1 mil mas, proporcionalmente, eles estão menos presentes entre os brasileiros, visto que a última pesquisa apontou um religioso para cada 8,6 mil habitantes.

Na Arquidiocese de Londrina, que abrange 20 municípios da região, a realidade indica que os jovens se interessam cada vez menos pela vida religiosa, o que pode ocasionar uma falta de padres no futuro. Hoje, existem apenas 19 seminaristas estudando para transformarem-se em padres, o que significa passar por um processo de pelo menos dez anos de formação.

"Vivemos uma crise vocacional", afirma o padre Edivan Pedro dos Santos, reitor do Seminário Propedêutico São José, em Londrina, onde são realizados os dois primeiros anos de formação para o sacerdócio. Em 2014, segundo ele, apenas quatro candidatos ingressaram no seminário, sendo que o ideal seria uma média de dez a 15 novos alunos por ano. "O clero está envelhecendo e ficando doente. Se continuar assim, em 2050 não haverá mais padres", afirma.

Para tentar reverter este quadro, a Igreja Católica realiza, no Brasil, o chamado ano vocacional. O objetivo é despertar novas vocações e atrair jovens para o seminário. Conforme Santos, a explicação para a crise é a chamada secularização, ou seja, a "perda do sentido religioso da vida". Somado a isto, ele enumera o que chama de tendência hedonista da sociedade, que busca o prazer imediato alavancado pela necessidade cada vez maior de consumo. "Os shoppings são os novos templos", sentencia.

O reitor do Seminário São José acrescenta que a redução da taxa de fecundidade das mulheres brasileiras é outro fator determinante da queda do interesse dos jovens em se tornarem padres. "Quando as famílias tinham dez filhos, era natural mandar um deles para o seminário. Hoje, os pais hesitam", afirma. Por fim, ele elenca a dificuldade da Igreja Católica em se comunicar com os jovens como outro limitador. "Não foi à toa que realizamos o Ano da Juventude", exemplificou.

MUDANÇA DE PERFIL

O censo da Igreja Católica apontou, também, que famílias humildes de regiões pobres são as que mais geram candidatos ao sacerdócio. A diferença em relação a décadas passadas é que a maioria vem de áreas urbanas, e não da zona rural, como ocorria no século passado.

O novo censo da Igreja está sendo realizado em 2014 e deve apresentar mudanças importantes com relação ao perfil dos jovens interessados em se tornarem padres, conforme antecipou o padre José Carlos Pereira, do Ceris, responsável pela análise sociológica da pesquisa. Isto porque a presença de candidatos vindos de classes menos abastadas – e preocupados com a realidade da qual são oriundos – ainda é muito forte, mas muitas vocações são despertadas, também, em movimentos que Pereira considera "conservadores", como é o caso da Renovação Carismática. "Estes novos padres são mais preocupados com as celebrações e sacramentos e menos envolvidos com questões sociais", afirma, lembrando que este é um legado, também, do papado de Bento 16. "Em um futuro mais distante, acredito que esta realidade volte a mudar, pois o papa Francisco está dando um caráter muito humanitário à Igreja", analisou.

A explicação para as vocações despertarem principalmente entre os mais pobres, segundo ele, está principalmente na religiosidade mais aflorada das famílias humildes. "São mais religiosas e participam da vida na Igreja", diz. O estudioso avalia, porém, que ainda existem pessoas que entram no seminário em busca de ascensão social. "Quando se percebe esta característica, procura-se não alimentar a continuação no seminário", explica.
Carolina Avansini
Reportagem Local-FOLHA DE LONDRINA
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