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Compra no crediário é hábito para 10% dos brasileiros

Opção perdeu espaço para o cartão de crédito, mas pode ser vantajosa em parcelamentos

Lis Sayuri
Preferência pelo crediário pode estar relacionada à dificuldade em controlar gastos pessoais
 
Gustavo Carneiro
A dona de casa Elizete Bueno tem crediário na mesma loja há quase 40 anos: "Dá para parcelar em mais vezes"
A londrinense Elizete Bueno Santos, 59, compra no crediário há quase 40 anos. Cliente da mesma loja de calçados durante esse período, ela destaca os benefícios do sistema de pagamento. "Dá para dividir em mais vezes", afirma. A loja incentiva o crediário oferecendo facilidades, como o pagamento da primeira parcela apenas no mês de dezembro, ou seja, quatro meses após a compra. Com isso, consegue fidelizar clientes como dona Elizete. "Compro a cada quatro meses", diz ela.

A dona de casa pertence a uma parcela pequena da população brasileira que ainda recorre com frequência ao crediário, apenas 10%. Entre os que utilizam o crediário esporadicamente, até três vezes ao ano, o índice sobe para 40%, segundo levantamento do SPC Brasil em parceria com o portal Meu Bolso Feliz. Os que nunca utilizaram essa opção de pagamento chegam a 50% dos brasileiros.

O educador financeiro do portal, José Vignoli, explica que o crediário perdeu fôlego a partir da popularização do cartão de crédito. "Hoje o crediário é usado por pessoas não bancarizadas ou que recebem uma condição melhor da loja para aderir a ele", explica. A pesquisa não aferiu a faixa etária desses clientes, mas, por observação, Vignoli acredita que tenham acima de 40 anos.

Para o educador financeiro, a preferência desses brasileiros pelo crediário pode ser explicada pela dificuldade em controlar gastos pessoais. "A pessoa não olha o extrato do seu cartão, mas com o boleto na mão ela se sente mais segura", comenta. Vignoli destaca que os juros embutidos nas operações de crediário tendem a ser menores que os do cartão de crédito. Dados da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) mostram que, ao ano, o índice chega a 238,67% no "dinheiro de plástico" contra 72,33% do crediário.

Para oferecer o sistema ao cliente, as lojas podem optar tanto pelo próprio quanto por meio de financeiras. "No caso da loja ter crediário próprio, ela mesma pode determinar a taxa de juros, mas às vezes ela não quer usar seu próprio capital nem se comprometer com risco de crédito e inadimplência e, então, terceiriza isso", detalha Vignoli.

Para o educador, o mais importante, antes de escolher a forma de pagamento, é o consumidor reconhecer a real necessidade da compra e o que menos comprometerá sua renda. "Se puder economizar dois ou três meses para comprar à vista é melhor", diz.

BENEFÍCIOS

O consultor econômico da Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil), Marcos Rambalducci, indica o uso do crediário para pessoas que não costumam ter rigor no controle das finanças. Ele acredita que o consumismo facilitou o advento e a permanência do cartão como principal opção de pagamento, pois basta entregá-lo para ter acesso ao bem. "O cartão é imbatível em facilidade, você já tem crédito pré-aprovado e não há necessidade de cadastro a cada compra", ressalta.

Ralbalducci lembra que as empresas precisam pagar taxas de manutenção às operadoras de cartão de crédito e que o não pagamento desse valor poderia ampliar as facilidades de negociação no crediário. "O benefício pode ser transferido para o cliente", finaliza.
Cecília França
Reportagem Local-FOLHA DE LONDRINA
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