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Habitação - Meu lar, meu improviso

Em queda em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, moradias precárias crescem 39% no Estado em apenas um ano, de acordo com estudo nacional

Marcos Zanutto
Na soleira dos barracões, fez-se o lar de Maria e seus agregados. Em 2012, faltavam quase 250 mil moradias no País
Londrina - Nos fundos do shopping mais novo da cidade mora Maria de Oliveira Cardoso, 32 anos. Mas a casa dela, embora esteja localizada no entorno do Marco Zero, passa ao largo do boom imobiliário que tem feito daquele pedaço da zona leste de Londrina uma das regiões mais valorizadas da cidade. Um puxadinho montado na soleira dos barracões da rua detrás do Boulevard Shopping – a alguns metros do futuro Teatro Municipal – é o lugar onde Maria mora. Ali, ela e eventuais colegas de rua dividem um sofá e uma cômoda com panelas e colchões em três "cômodos" separados por lençóis.

Na zona norte, Lucélia Alves Chapieski, 33 anos, tem como lar um dos vestiários do campo de futebol do Conjunto Sebastião de Mello. Fica numa área localizada entre a sede da 4ª Companhia Independente de Polícia Militar e o Hospital da Zona Norte, a alguns passos da Avenida Saul Elkind. A TV e o fogão foram doados. O rádio achou no lixo. Falta água nos banheiros, mas a luz vem da fiação puxada da banca ao lado.

Em comum, as duas mulheres carregam histórias de vida marcadas pela dependência química, o afastamento dos filhos e a esperança de morar com dignidade. Elas fazem parte de uma fatia da população brasileira na qual os programas habitacionais não conseguem contemplar. Moram onde não mora ninguém.

Segundo estudo realizado pela Fundação João Pinheiro, de Minas Gerais, sobre o déficit habitacional no Brasil em 2011 e 2012, o número de habitações precárias no Paraná cresceu 39% entre um ano e outro – acima do índice nacional, que foi de 34%. Em 2011, eram 35.442 habitações precárias no Estado. No ano seguinte, foram contabilizadas 49.338 novas moradias. No Brasil, o número saltou de 883.777 habitações para 1.187.903. A situação é inversa nos outros dois estados da Região Sul, que viram o número de moradias precárias cair em um ano. Em Santa Catarina, a queda foi de 36%, pouco mais do que no Rio Grande do Sul, de 32%.

DÉFICIT

Ainda conforme o mesmo estudo, o déficit habitacional no Paraná também cresceu entre 2011 e 2012, ao passo que em Santa Catarina e Rio Grande do Sul diminuiu. Aqui, o déficit passou de 232.783 moradias em 2011 para 248.955 em 2012 (alta de 6,95%). A Fundação João Pinheiro é uma entidade do governo de Minas que atua na produção de indicadores estatísticos em todo o País.

A Companhia Paranaense de Habitação (Cohapar) calcula que o déficit de habitações no Estado atualmente seja de 270 mil moradias. Em Londrina, a Companhia de Habitação (Cohab) tem como meta entregar 7,5 mil casas até o final da gestão do prefeito Alexandre Kireeff (PSD), de forma a tentar reduzir à metade o déficit real de 15,5 mil unidades. Mas até onde o problema de pessoas como Maria de Oliveira e Lucélia Chapieski é tão somente a falta de um lugar digno para morar?

A assistente social Edna Braun, atualmente na Cohab de Londrina, diz que já atendeu muitos casos de pessoas em situação de risco, geralmente envolvidas com drogas e álcool, nos anos em que atuou na Secretaria Municipal de Saúde. "O fato de pessoas ocuparem espaços inusitados não se deve à falta de moradia, mas a um fator de saúde mental", afirma. "É muito comum que essas pessoas que moram em lugares considerados inóspitos tenham transtornos mentais. Elas não conseguem localizar suas famílias e a situação se institucionaliza. Além disso, muitas resistem ao acolhimento, isso é um outro limitador que interfere no nosso trabalho", acrescenta.

A Lucélia Chapieski, diferente da Maria de Oliveira, já está cadastrada na Cohab. Nenhum dos sete filhos mora com ela no vestiário do campo de futebol. Quatro foram encaminhados pelo Conselho Tutelar a lares e casas de abrigo, dois moram com o pai, e a mais velha, de 17 anos, vive com a família do namorado, de apenas 15 anos. Lucélia admite ter tido envolvimento com drogas e álcool, mas garante que se livrou do vício depois que perdeu a guarda dos filhos. "Sei que aqui não é lugar para criar as crianças. Quero voltar a morar numa casa de verdade com meus filhos, vai ser a melhor coisa que vai acontecer pra mim", diz ela, que ganha a vida guardando carros junto com o namorado nas cercanias da Avenida Saul Elkind, a artéria vital da zona norte de Londrina.

Cohapar

O presidente da Cohapar, Luciano Machado, disse que o órgão fez um mapeamento em todas as regiões do Estado para identificar loteamentos irregulares e habitações inadequadas. Desse trabalho, acrescentou ele, resultou o Plano Estadual de Habitação de Interesse Social (Pehis), elaborado por técnicos da companhia e entidades civis. "A partir daí e concomitante a reuniões com diversos setores da sociedade, trabalhamos para atender a realidade de favelas, cortiços, loteamentos irregulares e habitações inadequadas", afirmou. Machado também citou como ação para reduzir o déficit habitacional o projeto Família Paranaense, uma parceria da Secretaria da Família e Cohapar, com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). "O contrato já está assinado. Esse projeto dá sustentação para um número grande de famílias que estão em assentamento submornal", pontuou.


FONTE - FOLHA DE LONDRINA
Diego Prazeres
Reportagem Local
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