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MPF quer desvendar novos tentáculos do Petrolão

Força-tarefa investiga extensa lista de operadores do esquema de desvio milionário de recursos da Petrobras

Theo Marques/20-05-2014
Oitenta e oito pessoas já se tornaram réus em processos da Lava Jato, sendo que 11 já foram condenadas em duas das ações penais
Curitiba – A dois meses de completar um ano, a Operação Lava Jato avançou significativamente nas investigações, mas conforme aponta a força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF), ainda há muito trabalho a ser feito. Além de desvendar outros tentáculos ocultos dentro do esquema de desvios de recursos da Petrobras, os procuradores que estão à frente do caso verificaram uma extensa lista de operadores que, além dos quatro doleiros inicialmente investigados (Alberto Youssef, Carlos Habib Chater, Nelma Kodama e Raul Henrique Srour), também atuavam na engrenagem criminosa.

Identificando esses novos personagens, os procuradores esperam desestruturar muitos outros esquemas de lavagem dinheiro por meio de contratos de suposta prestação de serviços. Seria praticamente uma derivação da Lava Jato, apontam. Desta forma, a apuração atualmente basicamente restrita às irregularidades encontradas na estatal petrolífera, será ampliada para outras obras públicas do País.

"Como fizemos na época do Banestado, quando desestruturamos o mercado de dólar paralelo no País, desta vez vamos desestruturar os diversos esquemas de lavagem de dinheiro promovidos por meio de contratos de prestação de serviços. É um mercado amplo e varia conforme os prestadores que atuam para empresas específicas. Empresa de fachada é o que mais temos visto aqui na Lava Jato. O duro é descobrir todos, mas já temos bons indicativos neste sentido, de bastante gente. É praticamente uma derivação da Lava Jato", ressaltou o procurador da República, Carlos Fernando dos Santos Lima.

Em quase um ano de trabalho, o MPF também espera que, desmantelando essas redes de lavagem de dinheiro, além da punição dos responsáveis, consiga prevenir crimes futuros. "Toda investigação criminal sempre tem a pretensão de impedir que as pessoas façam isso novamente. Acho que nada vai ser igual como era antes da Lava Jato, não será perfeito, mas vai ser diferente", apontou.

BALANÇO

Oitenta e oito pessoas já se tornaram réus em processos da Lava Jato que tramitam na 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba, sendo que 11 já foram condenadas em duas das ações penais, entre eles os doleiros Nelma Kodama e Carlos Habib Chater. Dentro da operação também foram fechados 12 acordos, sendo 11 delações premiadas (Alberto Youssef, Paulo Roberto Costa, Lucas Pacce Jr., Augusto Ribeiro de Mendonça, Júlio Gerin de Almeida Camargo, Pedro Barusco Filho, Rafael Ângulo Lopez, Ariana Azevedo Costa Bachmann, Humberto Sampaio de Mesquita, Shanni Azevedo Costa Bachmann e Márcio Lewkowicz); e um de leniência (que engloba seis empresas de Augusto Mendonça).

No início do próximo mês começam as audiências envolvendo os processos em que os executivos de grandes empreiteiras são réus. Primeiramente serão ouvidas as testemunhas de acusação convocadas pelo MPF. Mas outras denúncias citando outras empresas e diretores da Petrobras devem ser apresentadas. A expectativa é de que nos próximos dias serão oferecidas ações cíveis de improbidade administrativa.

Em dezembro foram denunciadas seis empreiteiras (OAS, Camargo Corrêa, UTC, Mendes Jr., Galvão Engenharia e Engevix). Na época, o MPF informou que vai pedir o ressarcimento de R$ 1,1 bilhão com as ações na Justiça Federal. Deste total, o órgão estima que as 36 pessoas denunciadas tenham movimentado pelo menos R$ 286,4 milhões em pagamentos de propina. Este valor se refere aos desvios envolvendo exclusivamente a diretoria de Abastecimento da estatal, em que o diretor era Paulo Roberto Costa. Ou seja, esta quantia corresponde a 1% de um total que chega a quase 5% dos valores de contratos firmados entre as empreiteiras investigadas e a Petrobras, por meio do esquema de fraude em licitações. O restante teria sido movimentado por outros operadores e envolvem outras diretorias da estatal. Os recursos desviados, conforme os procuradores, eram distribuídos aos beneficiários (agentes políticos e públicos e executivos) por meio de operadores financeiros do esquema, de 2004 a 2012, com pagamentos estendendo-se até 2014.

"Diria que fomos muito longe na investigação, mais longe do que as pessoas supunham, mas ainda tem muito trabalho para transformar tudo em denúncias. A princípio trabalhamos somente com os valores correspondentes a um 1% do total de propina paga dentro da estatal. Este valor era pago a Paulo Roberto Costa, na diretoria de Abastecimento, e envolve seis empreiteiras. Se olharmos o todo, é uma coisa muito pequena frente ao que vem por aí", destacou.
Rubens Chueire Jr. Reportagem Local-folha de londrina
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