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Paranaense Géssica Pereira é a primeira deficiente visual do País a obter mestrado na área de Engenharia Elétrica


Paulo Lisboa
Géssica durante a defesa do mestrado, ontem, na UFPR: "Vou seguir com as pesquisas e também pretendo transmitir o conhecimento para outros alunos"
Curitiba – No final da tarde de ontem, dentro do ônibus a caminho de casa, Géssica Michelle dos Santos Pereira, de 29 anos, mal podia acreditar na façanha que tinha acabado de realizar. Depois de três horas de defesa, ela teve a dissertação de mestrado em Engenharia Elétrica aprovada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). A conquista, motivo de orgulho para qualquer estudante, é ainda mais superlativa no caso de Géssica. Ela é a primeira deficiente visual do Brasil com a graduação na área.

"A ficha ainda não caiu. A hora que encontrar com a minha mãe eu sei que vou desabar, mas de felicidade", comentou ao telefone para a reportagem. Há quase dez anos, ela perdeu a visão por conta de um glaucoma que afetou o nervo óptico. Géssica estava no quinto período do curso de graduação em Engenharia Elétrica pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). "Foi uma surpresa, achava que era uma doença que poderia ser revertida. Quando descobri que iria ficar cega, foi um choque", lembrou.

PROVA DE FOGO

Com apoio do Instituto dos Cegos de Curitiba, Géssica descobriu que ser cego não era o fim. Depois de um ano de tratamento ela retornou à sala de aula. "Eu coloquei na cabeça que eu ainda queria ser engenheira. A cegueira não foi capaz de me tirar este sonho", contou. Ela conversou com o coordenador do curso e expôs o desejo de continuar os estudos. O professor sugeriu que ela fizesse três das mais difíceis disciplinas; se passasse poderia prosseguir. A prova de fogo foi vencida pela jovem. O diploma da graduação foi conquistado em 2010. Mas Géssica queria mais.

Após trabalhar como auxiliar administrativa na Copel, ela foi chamada para atuar como pesquisadora na Lactec, centro de pesquisas dentro da UFPR. A maior dificuldade, no entanto, foi durante o mestrado. Com muitos artigos e fórmulas para ler, ela precisava contar com a ajuda dos amigos. Foi somente quando aprendeu a usar determinados softwares que conseguiu recuperar um pouco da independência. "É possível ser cego e atuar em qualquer área. Até mesmo nas exatas. Se algum deficiente visual alguma vez duvidar disso, quero que lembrem do meu exemplo e vejam que é possível", incentivou.

Géssica gosta de se comunicar com deficientes visuais da área de ciências exatas, do Brasil e do mundo. "Existem diversas listas de discussões na internet para o compartilhamento de textos, artigos e outros recursos adaptados para cegos em formato digital sobre como lidar com recursos gráficos, como diagramas e fluxogramas, pois precisam compreender as informações sem conseguir vê-las", contou.

Com o desafio do mestrado conquistado, ela pretende dar férias à cabeça, mas não parar de estudar. "A Engenharia demanda estudos constantes para não ficarmos desatualizados. Vou seguir com as pesquisas e também pretendo transmitir o conhecimento para outros alunos", planejou.
Celso Felizardo
Reportagem Local-FOLHA DE LONDRINA
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