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AGRICULTURA - Dois lados do El Niño

Chuvas regulares trazidas pelo fenômeno climático favorecem produção de soja, mas umidade dificulta o controle da ferrugem asiática

Gustavo Carneiro
Laurindo Hiroishi conta que as perdas com a ferrugem na safra 2013/14 chegaram a 42%
Anderson Coelho
Segundo a pesquisadora da Embrapa Soja, Cláudia Godoy, a ferrugem é mais agressiva quando se tem chuva bem distribuída
Com o final do vazio sanitário – no dia 15 de setembro – os sojicultores iniciaram o plantio da oleaginosa de olho nas boas produtividades projetadas, já que a safra 2015/16 será diretamente influenciada pelo El Niño. A expectativa de chuvas acima da média na região Sul favorece consideravelmente as lavouras. Se por um lado o fenômeno climático é positivo para o desenvolvimento da soja, por outro, a umidade também traz junto diversas doenças, sendo a principal delas a ferrugem asiática, provocada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi.

Os produtor conhece a ferrugem de longa data - desde a safra 2001/02 - mas as discussões acerca dos impactos que a doença causará no futuro não param. O número de fungicidas pouco eficientes, a aplicação negligente dos produtores e o aumento do plantio da soja safrinha podem colocar em xeque as safras que vêm pela frente, já começando pela próxima. A expectativa, segundo o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado de Agricultura (Seab), é que o plantio ultrapasse 5,2 milhões de hectares e uma de produção de 17,9 milhões de toneladas, alta de 6%.

A pesquisadora da Embrapa Soja, Cláudia Godoy, decreta: a ferrugem é mais agressiva quando se tem chuva bem distribuída. Ela ressalta que o fungo vem criando resistência ano após ano aos fungicidas e a eficiência dos produtos cai drasticamente. "Hoje, uma soja produzida em altos patamares de produtividade está ligada diretamente à boa ação de fungicidas. Sem eles, uma planta sem tratamento perde de 30% a 40% de produtividade. Não é à toa que pesquisas apontam perdas desses percentuais nos próximos dez anos."

É preciso dar "nome aos bois". São três grupos químicos que possuem ação contra a ferrugem. Os triazois começaram a perder eficácia a partir da safra 2007/08, sendo que moléculas que possuíam 90% de controle da doença hoje têm eficiência de 20%. Entre 2013 e 2014, as estrobilurinas começaram a perder resistência e a mistura entre esses dois grupos citados também. Por fim, as carboxamidas estão no mercado desde 2013 e já estão ameaçadas, caso as aplicações continuem intensas, além claro, do plantio de soja após soja, quando o ideal seria a rotação de cultura.

"É preocupante porque não há moléculas novas que podem chegar no mercado num futuro próximo. O desafio é a manutenção dos fungicidas eficientes que se tem hoje no mercado. O risco é grande. Do total de 115 produtos registrados ofertados, tem-se apenas cinco deles com eficiência acima de 60%", salienta Cláudia.

Com os produtos perdendo eficiência safra a safra, as medidas alternativas se tornam fundamentais: rotação de culturas, eliminação de plantas voluntárias, cumprimento rígido do vazio sanitário e desenvolvimento de cultivares resistentes, o que já tem acontecido para a região Sul. Tudo isso favorece a diminuição de aplicação de fungicidas.

Um ponto importante, que está sendo discutido no Estado, é que plantio da oleaginosa aconteça até 31 de dezembro, o que inibiria a soja safrinha. "Enquanto aqueles produtores que iniciam o plantio em setembro fazem apenas uma aplicação de fungicida, os que fazem plantio mais tardio, para a safrinha atingem cinco aplicações. A média acaba sendo de três aplicações, mas a preocupação é que em pouco tempo não tenhamos mais fungicidas eficientes, prejudicando inclusive a principal safra do Estado. Os sojicultores estão olhando para a rentabilidade, mas não para o futuro da cultura. Também é preciso utilizar doses e intervalos de aplicação recomendados pelo fabricante e quanto aos produtos com carboxamidas, não devem ser utilizados em mais que duas aplicações por cultivo", relata a pesquisadora.

Outras doenças
Com umidade trazida pelo El Niño, outras doenças também ganham espaço nas lavouras e necessitam de cuidados. "O mofo branco, em ano de El Niño, é bastante severo, lembrando que, neste caso, a doença ocorre em regiões mais altas e temperaturas baixas. É um fungo que depende de umidade. Ele tem difícil controle e precisa ser monitorado. A mancha alvo também é preocupante, mas para ambos os casos, o produtor tem melhores ferramentas para controlá-las."
Victor Lopes
Reportagem Local-FOLHA DE LONDRINA
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