(13-01-2016)Jataizinho tem 6,4 mil pessoas afetadas na maior cheia em 20 anos
De acordo com a Defesa Civil, 350 pessoas ficaram desalojadas e 50 desabrigadas; água do Rio Tibagi chegou aos 6 metros acima do nível normal
Ponte da BR-369, que liga a região de Londrina ao Norte Pioneiro, ficou interditada por cerca de 4h; muitos pedestres ignoraram as ordens e a atravessaram
"Colocamos alguns animais no telhado e retiramos alguns móveis, mas os mais pesados não tivemos como salvar", conta João Paulo Pleichevel
Equipes do Corpo de Bombeiros deram apoio aos moradores que tiveram casas atingidas
Jataizinho – O Rio Tibagi registrou ontem a maior cheia dos últimos 20 anos em Jataizinho. Segundo a Defesa Civil do município, a água chegou aos 6 metros acima do nível normal, dois a mais que o registrado no dia anterior. Cerca de 6,4 mil pessoas foram afetadas, com 350 desalojadas e 50 desabrigadas. A ponte da BR-369, que liga a região de Londrina ao Norte Pioneiro foi interditada por cerca de quatro horas, das 16 às 19 horas.
A madrugada foi descrita como "assustadora" pelos moradores da Vila Pimenta, à margem esquerda do Tibagi. A água chegou no teto de algumas casas. Algumas famílias conseguiram salvar alguns móveis de maior valor, mas a maioria perdeu tudo. "Não deu tempo de fazer nada. Em menos de 20 minutos estava tudo alagado", contou assustado Sebastião Antônio da Silva, de 79 anos. Cerca de dez casas permanecem submersas.
João Paulo Pleichevel, de 19, ajudava a retirar móveis da casa de um amigo. A água subiu quase de dois metros e ficou a poucos centímetros do teto da garagem. No pequeno espaço não inundado, alguns jovens se arriscavam nadando para retirar o pouco do que sobrou. "Colocamos alguns animais no telhado e retiramos alguns móveis, mas os mais pesados não tivemos como salvar", contou.
A região das chácaras próxima ao Rio Tibagi também ficou debaixo d´água. Cerca de 40 casas foram inundadas e os moradores ainda retiravam alguns móveis em barcos. Bárbara de Souza, de 19, contou que, no domingo, percebeu que a água já havia alagado a rua. Por precaução, ela dormiu na casa da sogra. "Não arrisco mais. A água sempre sobe muito rápido. Enchente igual esta eu nunca tinha visto", contou.
O coordenador da Defesa Civil do Município, Dorival Pereira Duarte, contou que a última vez que o Tibagi chegou aos 6 metros acima do nível normal havia sido em 1996. Segundo ele, as informações repassadas pela Defesa Civil Estadual na noite de segunda-feira não previam uma cheia de mais dois metros no rio. "Não dá pra saber até que ponto podemos confiar nessas informações. Se estivesse previsto que o nível continuaria subindo, teríamos retirado mais famílias com antecedência", lamentou.
PONTE INTERDITADA
Por volta das 16 horas, quando o nível da água encobriu todos os pilares da antiga ponte ferroviária sobre o Tibagi, a Defesa Civil Estadual determinou a interdição da ponte, na BR-369. Com efetivo reduzido, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) teve trabalho em conter os pedestres que ignoravam as ordens e atravessam a ponte. Dois policiais isolaram a ponte com fitas, mas por volta das 18 horas, no horário de pico do retorno dos trabalhadores, foi impossível conter a multidão. "A PRF não autorizou a passagem. Daqui para frente é por conta e risco dos senhores", advertiu um policial.
A reportagem flagrou pelo menos duas ambulâncias com pacientes à espera da liberação da ponte. Em um micro-ônibus da Prefeitura de Nova Fátima (Norte Pioneiro), a aposentada Benedita Cardoso Vergílio, de 63, contou que havia retirado o tampão após uma cirurgia no olho e precisava usar um colírio com urgência. Já em um carro da Secretaria de Saúde de Jataizinho, a servidora municipal Edileuza Cavalcante de Albuquerque sentia dores na vesícula.
Além dos trabalhadores e pacientes, houve quem foi até a ponte apenas para admirar a força da natureza e tirar um autorretrato, o famoso selfie. "Esse povo se arrisca demais. Eu vim aqui só dar uma espiada, mas não fico andando sobre a ponte, não", disse o porteiro Elsio Sanches, de 58.
Celso Felizardo
Reportagem Local
Reportagem Local
FOLHA DE LONDRINA