Menos agrotóxicos, mais dinheiro
Cenário econômico arrefecido faz com que agricultores se atentem mais aos custos de produção, investindo em uma atividade mais sustentável

Agroquímicos mais usados no País continuam sendo os herbicidas, seguidos dos inseticidas e fungicidas
Mais uma safra em andamento e, no atual cenário econômico arrefecido, o agricultor paranaense olha para os custos de produção de forma mais criteriosa. Ele quer saber exatamente no que vai investir e se aquele produto ou semente, de fato, gerará retorno.
Do outro lado está o mercado de defensivos agrícolas – bastante agressivo - tentando emplacar novos produtos que prometem a defesa e incremento produtivo das lavouras. Se a utilização de agrotóxicos cresce safra a safra, 2016 pode ser um ano decisivo para o produtor pensar no consumo consciente deste tipo de produto, favorecendo a economia em tempos difíceis e, principalmente, praticando uma agricultura mais sustentável, mesmo em grandes áreas de plantio de grãos.
Apesar de muito já ter sido debatido acerca do assunto, o que teoricamente faria com que os produtores utilizassem tais defensivos de forma mais criteriosa, o que se vê é que a agricultura paranaense ainda é muito dependente dos agrotóxicos. Os números provam isso. Dados do Sistema de Monitoramento do Comércio e Uso de Agrotóxico (Siagro), da Agência de Defesa Agropecuária (Adapar), o volume total de agrotóxicos comercializados no Estado em 2011 foi de 96,1 mil toneladas. Em 2014, eram 112 mil toneladas, elevação de 16,5% em apenas três anos.
O Paraná não está sozinho. Há sete anos, o Brasil ocupa o primeiro lugar no uso de agrotóxicos no mundo, com crescimento aproximado de 190%, segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). De acordo com pesquisa dos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (IDS), o agricultor brasileiro utiliza aproximadamente sete quilos de agrotóxicos por hectare por ano (kg/ha/ano), enquanto há dez anos atrás o consumo era de menos de três kg/ha/ano, uma variação superior a 130%. A área plantada do Brasil aumentou 78% em quatro décadas, enquanto o uso de agrotóxicos subiu 700%. Para efeito comparativo, o crescimento mundial de agroquímicos foi de 93%, bem abaixo da média brasileira.
Na corda bamba entre o uso consciente e o indiscriminado, o que se percebe no Estado é que existem produtores de todos os perfis. O professor Carlos Hugo Rocha, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), doutor em Gestão de Recursos Naturais pela Universidade do Estado do Colorado (EUA) e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, salienta que existem áreas, principalmente no Oeste do Estado, em que produtores chegam a utilizar 15 kg/ha/ano de agroquímicos.
"Os mais utilizados continuam sendo os herbicidas, seguidos dos inseticidas e fungicidas. Vale dizer que 25% do total dos agrotóxicos utilizados no Paraná são de classe I, ou seja, extremamente tóxicos", ressalta Rocha.
Sem jogar a responsabilidade nos produtores, o especialista critica as políticas públicas, que tornam tais produtos isentos de impostos, associadas a uma liberação de crédito que fomenta o consumo, com foco apenas em aumento de produtividade. "O produtor faz o melhor possível dependendo das regras do jogo impostas. Precisamos também de um maior número de agrônomos para prestar assistência técnica imparcial. Com a perda de força das empresas públicas de assistência técnica e extensão rural, as empresas privadas e cooperativas assumiram essa lacuna, muitas vezes com metas de vendas para cumprir. A combinação de políticas públicas e um mercado agressivo faz com que toda a sociedade pague pelo consumo exagerado de agrotóxicos nas lavouras", opina o professor.

Victor Lopes
Reportagem Local
Reportagem Local
FONTE - FOLHA DE LONDRINA