Teste de remédio falha, e paciente tem morte cerebral
Outros cinco estão hospitalizados na França; três deles com possíveis sequelas "irreversíveis" no cérebro

"Iremos até o fundo (...) desse acidente trágico. Não tenho conhecimento de nenhum acontecimento comparável", avalia a ministra da Saúde, Marisol Tourain
São Paulo - As autoridades da França anunciaram ontem que um teste malsucedido de medicamento deixou um paciente com morte cerebral e outros cinco hospitalizados - três deles com possíveis sequelas "irreversíveis" no cérebro. Não há antídoto conhecido para a droga. Noventa voluntários tomaram diferentes doses do mesmo medicamento experimental.
De acordo com comunicado do Ministério da Saúde francês, os seis voluntários foram hospitalizados em Rennes depois de consumir por via oral o remédio em fase inicial de teste. O procedimento estava sob responsabilidade do laboratório privado Biotrial, que opera desde 1989 e tinha todas as autorizações necessárias para realizar o teste.
Os pacientes estavam em boas condições de saúde antes do experimento. Segundo o jornal francês "Le Monde", todos eram homens e tinham entre 28 e 49 anos.
Ainda de acordo com o "Le Monde", os voluntários receberam a primeira dose do medicamento no dia 7 de janeiro, e a primeira hospitalização ocorreu no último domingo - a do homem que sofreu morte cerebral.
Depois, foram realizadas outras cinco internações. Quatro com pacientes que também apresentaram sérios problemas neurológicos e um outro assintomático - mas que deve permanecer sob observação.
Segundo a imprensa francesa, o medicamento testado era um analgésico. No entanto, diferentemente do previamente divulgado, ele não seria derivado da maconha, mas, sim, agiria sobre receptores canabinoides do sistema nervoso humano (os mesmos ativados por derivados da maconha).
Todos os testes feitos com a droga foram suspensos, e os outros voluntários que participaram do experimento foram convocados.
A ministra da Saúde, Marisol Tourain, viajou a Rennes ontem, após solicitar uma investigação sobre o laboratório e sobre as condições em que realiza testes clínicos. "Iremos até o fundo (...) desse acidente trágico", declarou a ministra.
Marisol destacou ainda que este acidente é um fato inédito no país e afirmou ainda que as vítimas faziam parte de um grupo que havia recebido o medicamento de forma repetida. "Não tenho conhecimento de nenhum acontecimento comparável", declarou a ministra durante coletiva de imprensa em Rennes.
A molécula estava sendo testada no marco de um teste terapêutico dirigido por um laboratório privado, que investigava seu efeito para tratar problemas de humor e ansiedade, informou Touraine.
Este ensaio clínico, realizado pela empresa Biotrial, um centro de pesquisa médica credenciado pelo Ministério da Saúde, foi encomendado pela empresa farmacêutica portuguesa Bial. O Biotrial faz testes clínicos para empresas farmacêuticas e emprega 300 pessoas em todo o mundo, 200 delas em Rennes, de acordo com o jornal Ouest France.
N tarde de ontem, o grupo Bial disse que tinha respeitado as regras em vigor para este tipo de teste.
A Justiça abriu uma investigação sobre o ocorrido, e o Ministério da Saúde pediu a inspeção geral de Assuntos Sociais, que estuda "a organização, os meios e as condições de intervenção" do laboratório "durante a realização do teste clínico".
Das Agências-FOLHA DE LONDRINA