Candidatos à CNH reclamam de rigor nos testes práticos
Londrina tem um dos mais altos índices de reprovação entre as principais cidades do Estado; no ano passado, 53% dos candidatos fracassaram no teste

Para Ciretran, candidatos ficam nervosos e não conseguem cumprir exigências do teste
O grande número de reprovações nos testes práticos para primeira habilitação no Detran em Londrina tem gerado reclamações dos candidatos, que se queixam da conduta dos examinadores. Entre as principais cidades do Paraná, Londrina tem um dos mais altos índices de reprovação. Dos 14.716 exames feitos entre 2 de fevereiro de 2015 e 16 de fevereiro de 2016, 53,62% dos candidatos não tiveram sucesso. Segundo dados do Detran, os números de Londrina só não superam os de Ponta Grossa, onde foram registradas 58,21% de reprovações no mesmo período, mas com um número de testes maior: 26.080.
No último dia 18, a artesã Adriana Lhlapak de Toledo, de 35 anos, tentava pela nona vez passar no exame prático. Nas primeiras sete vezes, reprovou na baliza e, na oitava, deixou o carro morrer duas vezes seguidas no trajeto de rua. "Dei início ao processo no dia 29 de dezembro de 2014 e já gastei R$ 5 mil. Se os examinadores fossem mais simpáticos, o aluno iria relaxar. Não precisa beneficiar ninguém, mas seja simpático, deixe a pessoa tranquila", criticou.
Para tentar vencer o nervosismo, Adriana conta que assistiu a muitos vídeos motivacionais e recorreu a chás, mas eles reduziram os seus reflexos e, em vez de ajudar, acabaram prejudicando o seu desempenho. "Aprendi a dirigir na autoescola e aprendi logo. Mesmo sem carteira eu pego o carro porque tenho necessidade. Dirijo bem, mas na hora do teste fico nervosa por ter um examinador ao meu lado." Naquele dia, finalmente, a artesã saiu do Detran com a tão aguardada aprovação.
O chefe da Ciretran em Londrina, Antenor Ribeiro, diz que o índice de reprovações na cidade é "histórico" e que chegou a 77% em um único dia no início deste mês, mas discorda que o problema sejam os examinadores. "O normal já é alto e chegou a 77% em um dia para as categorias A e B [motocicleta e carro]. O Detran cumpre o Código de Trânsito Brasileiro. O candidato, a princípio, é que não consegue cumprir as exigências", disse.
A explicação para o elevado número de pessoas que fracassam no teste para a primeira habilitação, afirma Ribeiro, pode estar nos centros de formação de condutores (CFCs), que não estariam preparando os alunos adequadamente. Na primeira semana de fevereiro, entre os dias 8 e 12, foram 143 testes realizados com um índice de reprovações de 55,94%. Na semana seguinte, foram 243 exames e 57,02% dos candidatos não passaram. "Recebemos queixas de alunos em relação aos examinadores, mas ficou comprovado que os examinadores cobram o que é exigido no código. O aluno está chegando aqui mal preparado", disse Ribeiro.
O instrutor de autoescola Jair Antunes da Silva discorda que a falha esteja na qualidade da formação oferecida ao aluno pelos centros de formação, mas afirma que o número mínimo de 25 aulas práticas ao volante determinadas por uma resolução do Departamento Nacional de Trânsito são insuficientes. "Vinte e cinco aulas é muito pouco para preparar o aluno." Silva também isenta os examinadores da culpa pelo elevado índice de reprovações. A razão de tantas reprovações, diz ele, pode estar no nervosismo dos candidatos. "Tem aluno que está mal preparado, psicologicamente não está bem. Eles já chegam nervosos. Os examinadores cumprem com o papel deles e se o aluno não está preparado, tem que ser reprovado mesmo."
O instrutor Jair Antunes da Silva também considera que o trajeto escolhido pelo Detran para o teste de rua contribui para dificultar a aprovação. "A Vila Casoni [Centro] é confusa. Eles tinham que melhorar a sinalização. Há muitas placas escondidas. Durante as aulas, a gente passa por lá para o aluno se familiarizar com o percurso, mas tem que passar várias vezes e tem gente que não ‘pega’ fácil o trajeto."
Chefe de Acompanhamento das Bancas Examinadoras do Detran-PR, Jocelmo Xavier defende a equipe de avaliadores. "A gente comprova que as reprovações acontecem por nervosismo. No ano passado, tivemos 11 reclamações em relação aos examinadores, mas a gente percebe que a falha não é deles."
Simoni Saris
Reportagem Local-FOLHA DE LONDRINA
Reportagem Local-FOLHA DE LONDRINA