Placar do impeachment mostra 'cada um por si' no Congresso
Maioria da bancada paranaense quer saída de Dilma, mas não há consenso entre os partidos
Debate, que durou até as 4h42 de ontem, será retomado amanhã
As divergências entre os deputados federais sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) retratam bem o momento político do País: é cada um por si. Conforme o placar de momento para a votação do relatório na Câmara, elaborado pela Agência Estado, a maioria da bancada paranaense quer a saída da petista, mas não existe consenso entre todos os partidos. Parlamentares ouvidos pela reportagem confirmam o clima de individualismo.
Exemplo significativo do caos é o PMDB, que já anunciou a saída do governo, porém, com exceção de Henrique Alves (ex-ministro do Turismo) e apadrinhados de Michel Temer, os demais filiados continuam agarrados aos cargos. Fontes em Brasília contabilizam, ainda, que o PMDB terá 30 votos fiéis ao PT na hora da decisão. E não é difícil encontrar incoerências em outras siglas de grande porte como PP e PSD, com bancadas suscetíveis às investidas do Planalto.
Na sexta-feira, a Executiva paranaense do PP divulgou nota afirmando que apoia a tramitação e aprovação do impeachment da presidente, "em defesa dos interesses da Nação e da sociedade brasileira". Por outro lado, o comando nacional do PP decidiu não sair do governo e não negociar mais cargos enquanto o impeachment segue indefinido, mas liberou os seus integrantes para o voto.
Dos quatro deputados federais da bancada estadual do PP, Nelson Meurer e Ricardo Barros, este até cogitado para um ministério (especula-se que seria o da Saúde), já revelaram os votos favoráveis a Dilma. Meurer justificou a sua posição dizendo que "ela foi eleita pelo povo e deve concluir o mandato". "A eleição é o momento adequado para as mudanças políticas", disse à FOLHA, acrescentando que a crise econômica é "consequência de um cenário internacional".
O PSD, com mais de 30 cadeiras na Câmara Federal, também está esperando para ver o que acontece. Enquanto o líder principal da legenda, Gilberto Kassab, segue normalmente no Ministério das Cidades, diretórios estaduais se posicionam pela cassação da presidente. O prefeito de Londrina, Alexandre Kireeff (PSD), e o comando estadual do PSD, por exemplo, discursam em favor do impeachment.
O deputado federal Giacobo (PR), disse que é a favor do impedimento, embora a posição não seja unanimidade entre os 40 correligionários na Câmara. "É uma posição pessoal. Até pedi para que o partido não fechasse questão sobre o assunto, pois é um momento delicado para os deputados", afirmou.
Para o professor de Filosofia Elve Cenci, da Universidade Estadual de Londrina (UEL), os partidos políticos, comandados por caciques que se perpetuam no poder, não representam uma ideologia que possa identificá-los perante o eleitorado. "Não existe coerência interna, servem de cartório para o candidato disputar a eleição e colocar em prática os interesses pessoais. Grupos diferentes se juntam em uma mesma sigla e se voltam para as suas bases eleitorais, pensando sempre no futuro político individual."
Além da falta de representatividade social, a maior parte dos 35 partidos do País sobrevivem das mesmas fontes financeiras. A lista da Odebrecht, revelada durante a Operação Lava Jato, é uma amostra. "Na política não existe espaço vazio. Se alguém deixa uma posição, outro vem e ocupa, conforme os seus interesses", analisa Cenci.
O deputado federal Nelson Meurer resumiu o clima como de personalismo. "Infelizmente, faz tempo que não existe mais ideologia."
Edson Ferreira
Reportagem Local/folha de londrina
Reportagem Local/folha de londrina
Nenhum comentário