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Delator teria recebido caminhões de empresário

Auditor Luiz Antonio de Souza deve confirmar hoje, em depoimento ao Gaeco, negócio feito com "Dinho do Porco" como pagamento por empréstimo em 2014

Gina Mardones/24-4-2016
Luiz Antonio de Souza teria exigido propina de empresário para que não revelasse um suposto megaesquema de sonegação fiscal no setor de abate de suínos

O principal delator do suposto esquema de corrupção na Receita Estadual de Londrina, o auditor Luiz Antonio de Souza, que já estava preso, mas cuja prisão preventiva foi decretada na quinta fase da Operação Publicano, deflagrada na semana passada, deve confirmar que recebeu "três ou quatro caminhões" como parte de pagamento de um empréstimo que teria feito em 2014 para o empresário Aparecido Domingues dos Santos, conhecido como "Dinho do Porco", de Quatiguá (Norte Pioneiro).
"O Luiz Antonio emprestou uma quantia significativa de dinheiro ao empresário e recebeu três, quatro caminhões como pagamento. Ele não vai negar isso", disse o advogado do auditor, Eduardo Duarte Ferreira.
Souza deve ser interrogado hoje pelo delegado do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Alan Flore, assim como os outros três presos na quinta fase: a irmã de Souza, Rosângela Semprebom, recolhida no 3º Distrito Policial, também ré colaboradora; Antonio Luiz da Cruz, empresário do setor de abate de suínos, de Londrina; e Santos.
Souza e Rosângela tiveram a prisão decretada novamente porque teriam extorquido o empresário de Quatiguá. Teriam exigido propina para que Souza não revelasse um suposto megaesquema de sonegação fiscal no setor de abate de suínos, que envolveria pelo menos sete empresas da região. Esse grupo, desde 2011, pagaria propina mensal de R$ 100 mil a auditores da Receita.
O advogado de Souza nega qualquer possibilidade de extorsão. Se tal crime ficar demonstrado, o acordo de delação premiada entre o auditor e o Ministério Público (MP) poderia ser rescindido, já que se trataria de hipótese de prática ilícita após a assinatura do termo, em maio do ano passado. Pelo acordo, Souza conseguiria deixar a prisão no final de junho.
Ferreira, após conversar com seu cliente, preso desde janeiro do ano passado quando foi flagrado em um motel com uma adolescente, disse que o empréstimo foi de um "valor vultoso", que acredita passar de R$ 1 milhão. "Ele nunca escondeu que emprestava dinheiro". O montante teria sido levantado em 2014, após Dinho supostamente ter tido problemas financeiros e ter o crédito cortado em bancos.
Alguns meses depois de firmado o acordo de delação e quando Rosângela já estava em liberdade, no segundo semestre de 2015, disse Ferreira, Souza começou a cobrar o pagamento do suposto empréstimo. A irmã teria se encontrado pessoalmente com o empresário para exigir o pagamento da dívida. Teria sido então que o empresário teria repassado os caminhões a Souza. "Mas eram veículos bloqueados. Ele (Souza) até tentou vender, mas estavam bloqueados no banco", disse o advogado, sem descartar a possibilidade de devolução de tais bens ou outros recursos recebidos de empréstimos passados. "Se o MP entender que são recursos ilícitos, ele poderá devolver, sim."
Ferreira comentou ainda que outros devedores de Souza teriam sido cobrados não apenas por Rosângela, mas também por outros interlocutores. "Ele emprestava dinheiro e estava cobrando as dívidas. Isso nunca foi escondido de ninguém."
O advogado disse que não apresentou habeas corpus em favor de seus clientes – Rosângela e Souza – porque entende que tal atitude implicaria a nulidade do acordo de delação, o qual acredita que ainda está válido. O MP não descarta a rescisão, embora não dê detalhes sobre tal possibilidade ou mesmo sobre a responsabilidade do delator na quinta fase da Publicano. "O acordo está válido. Acho temerário romper um acordo quando tantos frutos já surgiram dele", afirmou Ferreira.
Loriane Comeli
Reportagem Local/FOLHA DE LONDRINA

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