[Fechar]

Últimas notícias

Ortigueira na mira do crime

Onda de assaltos a banco assusta moradores; em nove meses, pelo menos quatro ocorrĂȘncias foram registradas

Fotos: Marcos Zanutto
Com pouco mais de 23 mil habitantes, Ortigueira registrou assaltos cinematogrĂĄficos nos Ășltimos meses
"O povo nĂŁo quer se envolver de jeito nenhum, nem por meio de denĂșncia anĂŽnima", lamenta o delegado Rafael Souza Pinto

Ortigueira - ExplosĂ”es, assaltos com refĂ©ns e atĂ© uso de retroescavadeiras para arrombar bancos tiraram a paz dos moradores de Ortigueira, na regiĂŁo dos Campos Gerais. Desde julho do ano passado, uma sĂ©rie de ocorrĂȘncias cinematogrĂĄficas registradas nas agĂȘncias bancĂĄrias do municĂ­pio aterroriza a população e desafia a segurança pĂșblica. O silĂȘncio e o medo de grande parte dos moradores sĂŁo explicados pela onda de assaltos que passou a fazer parte da rotina local.
No ano passado, caixas eletrĂŽnicos de trĂȘs agĂȘncias foram alvos de explosĂ”es realizadas por um grupo fortemente armado que agiu na madrugada do dia 31 de julho. Em novembro, duas retroescavadeiras da prefeitura foram utilizadas pelos assaltantes, que conseguiram ter acesso ao cofre de um banco. Um mĂȘs depois, quatro pessoas foram feitas refĂ©ns Ă  luz do dia enquanto um grupo roubou um malote de dentro de uma agĂȘncia bancĂĄria. Na Ășltima ocorrĂȘncia, registrada hĂĄ uma semana, clientes e funcionĂĄrios do banco foram retirados de uma agĂȘncia e obrigados a se ajoelhar no chĂŁo formando uma espĂ©cie de cordĂŁo humano, que isolou a ĂĄrea enquanto os assaltantes tiraram o dinheiro do cofre. Alguns refĂ©ns foram levados pelo grupo e liberados na rodovia que dĂĄ acesso Ă  cidade. A ação ocorreu durante a tarde e durou poucos minutos, mas Ă© revivida diariamente por quem estava do lado de dentro da agĂȘncia.
Os moradores evitam falar sobre a onda de violĂȘncia que assola Ortigueira. Comerciantes temem represĂĄlias. Muitos acreditam que os responsĂĄveis pelos crimes permanecem na cidade. "NĂŁo posso falar, pode ser algum cliente meu. Eles estĂŁo soltos por aĂ­", diz a pequena empresĂĄria, olhando para os lados. Quem viveu os momentos de tensĂŁo nas mĂŁos dos assaltantes tambĂ©m prefere nĂŁo comentar o que ocorreu. "Todos aqui sabem quem estava lĂĄ na agĂȘncia e virou refĂ©m. Mesmo que a gente nĂŁo se identifique, nĂŁo Ă© difĂ­cil descobrir quem fala sobre o assunto. Graças a Deus, eles nĂŁo mataram ninguĂ©m", diz o parente de um dos refĂ©ns.
Na cidade, de pouco mais de 23 mil habitantes, impera a lei do silĂȘncio. Poucos moradores concordaram em falar com a reportagem, mesmo na condição de anonimato. "NinguĂ©m ficou ferido, mas eles atiraram vĂĄrias vezes para cima. A cidade parou. Fechamos as portas e corremos para os fundos da loja", relata um comerciante. "NĂŁo temos segurança nenhuma aqui. Tem dois policiais civis e dois militares. E com essa estrutura que eles tĂȘm aqui... O pessoal chega com fuzil, a polĂ­cia vai fazer o quĂȘ?", reclama um jovem. "Ficamos quatro meses sem uma das agĂȘncias. Demoraram para fazer o conserto. O pessoal saĂ­a de van para receber a aposentadoria em TelĂȘmaco Borba [a 50 km de Ortigueira]. AĂ­ tinha assalto no caminho mesmo. Muita gente ia de van e dava um jeito de voltar mais tarde, sozinho", conta o aposentado.
Com poucas denĂșncias e informaçÔes sobre os crimes, o delegado que atua em Ortigueira conduz as investigaçÔes com dificuldade. Conforme Rafael Souza Pinto, a ação dos criminosos registrada na Ășltima semana durou, aproximadamente, 30 minutos. Quatro homens armados com fuzis e submetralhadoras renderam os funcionĂĄrios da agĂȘncia. O grupo chegou encapuzado e usava coletes Ă  prova de balas e fardas do ExĂ©rcito. Dois carros roubados utilizados na ação foram abandonados prĂłximo ao municĂ­pio. "A gente tem um grande problema aqui. O povo da regiĂŁo dos Campos Gerais nĂŁo quer se envolver de jeito nenhum, nem por meio de denĂșncia anĂŽnima. Quatro ou cinco ladrĂ”es de banco jĂĄ foram presos e estĂŁo aqui na delegacia. Todos eles sĂŁo aqui da cidade mesmo. SĂŁo conhecidos, andavam no comĂ©rcio, faziam emprĂ©stimos, frequentavam eventos sociais e ninguĂ©m falou nada", critica.
O delegado suspeita que o mesmo grupo tenha atuado nas ocorrĂȘncias recentes. Segundo ele, dois assaltos foram evitados nos Ășltimos meses apĂłs informaçÔes recebidas pela polĂ­cia. Meses apĂłs os primeiros roubos, os valores levados pelos criminosos ainda nĂŁo foram revelados pelos representantes das agĂȘncias bancĂĄrias.
Viviani Costa
Reportagem Local/FOLHA DE LONDRINA

Nenhum comentĂĄrio

UA-102978914-2