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Mais maleáveis, micros e pequenas empresas demitem menos


Setor representa quase 98% do total de empresas no Brasil e é responsável por cerca de 55% a 60% dos postos de trabalho formais no País

Rei Santos
Os empresários Maria Tereza, Breno e Lucia Francovig se prepararam para a crise ampliando áreas de atuação e desenvolvendo novos processos

O ritmo de fechamento de postos de trabalho nas micros e pequenas empresas do Brasil diminuiu no mês de abril em comparação com março, aponta levantamento do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) baseado em dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Para o consultor do Sebrae Rubens Negrão, essas empresas têm maior facilidade para se adaptar a novas realidades, mas o quadro de funcionários enxuto também segura as demissões.
Segundo informações do Sebrae, em abril, as micros e pequenas empresas demitiram 10,5 mil pessoas a mais do que contrataram em todo o País. O número é quase quatro vezes menor que o registrado em março, que teve 46,9 mil postos de trabalho fechados. Ainda de acordo com o levantamento da entidade, as demissões nas médias e grandes empresas foram cinco vezes maiores em abril: 54,6 mil postos de trabalho fechados. O Sebrae não tem os números setorizados por municípios.
As micros e pequenas representam quase 98% do total de empresas no Brasil e são responsáveis por cerca de 55% a 60% dos postos de trabalho formais no País. "São empresas bem enxutas, com poucos funcionários e de perfil bastante familiar", descreve Negrão.
Com esse perfil, não têm muitas alternativas de cortar custos com demissões, o que pode explicar, em parte, o motivo da redução das demissões. "Com o cenário atual, há uma tendência de impacto alto nos primeiros meses e, nos outros, de reajustes, mantendo as pessoas fundamentais para a empresa funcionar", diz.
Negrão também ressalta que a estrutura das micros e pequenas empresas, menos departamentalizadas que as médias e grandes, as tornam mais versáteis e, normalmente, têm funcionários que sabem fazer um pouco de tudo. "Se a parte da produção está indo devagar, o empresário consegue remanejar a equipe para focar no comercial, tentando reduzir as demissões", explica.
Elas ainda são descritas por Negrão como mais flexíveis nas tomadas de decisões, o que as tornam mais adaptáveis à realidade, reduzindo o impacto da crise econômica no segmento.
Para o consultor do Sebrae, os altos números de demissão nas micros e pequenas devem ter encerrado, mas ainda deve demorar para as contratações serem retomadas. Isso ocorre porque, após reduzir o quadro, os processos são revisados para tornarem-se mais funcionais, aumentando a produtividade com menos trabalhadores. Após isso, novos funcionários só serão chamados quando a demanda ficar maior que a oferta.

Sem demissões

A PZL Tecnologias em Equipamentos, de Londrina, enquadra-se nas descrições feitas por Negrão, com um diferencial: não demitiu mão de obra por conta da crise. "A única que ocorreu foi porque o funcionário não se adequou à rotina", afirma o sócio-proprietário Breno Francovig Rachid.
A empresa produz equipamentos para análises de laticínios e para a área médica, focada em cirurgias vasculares. Atualmente com 17 trabalhadores, está na estrada há 32 anos e diz que as experiências passadas prepararam para tomadas de decisões de curto, médio e longo prazo que reduzissem os impactos da crise econômica. "No início dos anos 1990, por exemplo, quando o (ex-presidente) Fernando Collor de Mello (hoje senador pelo PTB-AL) abriu o mercado, nós sentimos muito o impacto da concorrência externa", recorda.
Segundo Rachid, a PZL já se preparava para "tempos difíceis" desenvolvendo novos equipamentos, ampliando as áreas de atuação e desenvolvendo novas metodologias de processos para focar num menor gasto e maior produtividade com a quantidade de funcionários que possui. "Quando houve aquele aquecimento entre os anos 2013 e 2014, no auge do mercado, nós contratamos uma ou duas pessoas, porque estávamos focados nas melhorias dos nossos processos", revela.
Dentro dessa perspectiva, a PZL buscou alternativas para que os mesmos trabalhadores pudessem desenvolver processos diferentes. Assim, se a manutenção está em baixa, o funcionário pode auxiliar em outra atividade, como a montagem.
Além disso, ampliou a gama de produtos, em parceria com órgãos de fomento e desenvolvimento de produtos. "Se, em tempos de crise, você mostra ao cliente novos equipamentos ou diversifica a área, passa a atuar em um mercado maior e equilibrar melhor as finanças."
A PZL passou, ainda, a retomar processos que antes terceirizava. A direção percebeu que a metalurgia, essencial para a empresa, podia ser feita dentro da própria indústria, reduzindo custos e atraindo novos clientes. "Abrimos uma nova empresa dentro da nossa para nos servir, enquanto outras do ramo fechavam", reforça Rachid. Assim, clientes das outras que fecharam passaram a trabalhar com a Verga Metalurgia, inaugurada há seis meses e que demandou quatro novos funcionários.
Luís Fernando Wiltemburg
Reportagem Local
FOLHA DE LONDRINA

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