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MUHAMMAD ALI - Legado ultrapassa os ringues

As batalhas da maior lenda do boxe foram muito além da cordas com confrontos políticos e sociais, entre eles, a luta contra o racismo nos Estados Unidos

Mike Fiala/AFP
Primeira estrela do boxe com duelos em países do Terceiro Mundo, Muhammad Ali se dedicou a missões de cunho humanitário depois da aposentadoria

São Paulo - O ex-boxeador americano Muhammad Ali, 74, morreu na madrugada de sábado, nos Estados Unidos. Seu porta-voz, Bob Gunnell, havia anunciado na última quinta-feira que o ex-atleta estava hospitalizado por causa de problemas respiratórios.
Campeão olímpico, Ali foi o primeiro tricampeão mundial dos pesados, dominou o boxe no período mais competitivo entre os grandalhões dos ringues e se tornou a primeira estrela globalizada do esporte, com duelos em países do Terceiro Mundo.
Poderia ter conquistado mais como atleta, muito mais, não tivesse sido forçado a ficar inativo durante mais de três anos no auge da carreira. Mas, graças a esse sacrifício, transcendeu o esporte e influenciou a sociedade americana em questões sociais, políticas e religiosas.
Nascido Cassius Marcellus Clay Jr. em 1942, na cidade de Louisville, oriundo de uma família humilde, Ali descobriu o boxe na infância por acaso. Aos 12 anos, quando roubaram sua bicicleta, procurou Joe Martin, um policial que dava aulas em um centro de recreação, para reclamar do roubo. Nunca mais viu a bicicleta, mas logo estava calçando as luvas de boxe.
Rapidamente ele conquistou títulos amadores que lhe abriram caminho até a Olimpíada de Roma, em 1960. Lá, aquele jovem tagarela ganhou a medalha de ouro entre os meio-pesados. Ao retornar aos Estados Unidos, foi acolhido como herói.
Naquela época, prevalecia o racismo. Os restaurantes, hotéis e cinemas, especialmente os do sul do país, reservavam espaços para que os negros se acomodassem separados dos brancos.
Quando teve o pedido de um hambúrguer e um milk shake negado em uma lanchonete por causa da cor de sua pele, Ali foi à Ponte Jefferson County e atirou no Rio Ohio sua medalha olímpica, com a qual sonhava desde que desferira os primeiros socos no ginásio. "Não houve dor ou remorso, só alívio e renovação de forças", disse Ali sobre o episódio, anos depois.
O boxeador se adaptou facilmente ao profissionalismo, no qual estreou ainda em 1960. Poucos meses após conquistar o título mundial dos pesos-pesados, ao bater Sonny Liston, em fevereiro de 64, revelou que se convertera ao islamismo, abrindo mão do seu e passando a se chamar Muhammad Ali.
Três anos depois, ainda campeão, foi convocado a comparecer ao centro de recrutamento do Exército, onde recusou o alistamento para a Guerra do Vietnã. "Nenhum vietnamita jamais me chamou de crioulo", justificou Ali.

LUTA DO SÉCULO

Em 1971, enfrentou na "Luta do Século" Joe Frazier, que então era o dono de seu cinturão, em um choque de invictos. Ali perdeu por pontos em 15 assaltos, mas em 1974 ganhou nova oportunidade de lutar pelo título, desta vez contra George Foreman, na "Rumble in the Jungle" ("Briga na Selva"), no Zaire. Ali subiu ao ringue como o azarão. Sem a agilidade e os reflexos do auge da carreira, Ali usou a cabeça. Encostou-se nas cordas e permitiu que o rival o castigasse, assalto após assalto, até que Foreman se cansasse. Então, no oitavo assalto, partiu para o ataque e derrotou o rival.
Em 1978, Ali perdeu o título para o novato de sete lutas Leon Spinks, mas o recuperou no mesmo ano para se tornar o primeiro tricampeão dos pesados. Anunciou sua aposentadoria, mas retornou para mais duas lutas.
Foi ao acender a pira olímpica nos Jogos de Atlanta-96 que o mundo descobriu os avançados sintomas do Mal de Parkinson, que reduziu drasticamente a sua mobilidade e a sua capacidade de comunicação. Passou os últimos anos de sua vida dependente de tratamentos e remédios, e suas aparições públicas se tornaram cada vez mais raras.
Eduardo Ohata
Folhapress
FOLHA DE LONDRINA

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