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Suspeita de fraude revela centenária no interior do PR


Aos 120 anos, Jesuina dos Santos Cardoso precisou ir até a agência do INSS para provar que está viva

Gina Mardones
Apreciadora de chimarrão e sempre independente, a idosa realizou afazeres domésticos até os 110 anos

Rio Branco do Ivaí - Em meio à paisagem montanhosa do Norte Central do Paraná vive dona Jesuina dos Santos Cardoso. A moradora de Porto Espanhol, distrito do município de Rio Branco do Ivaí (a 170 km de Londrina), está entre os poucos idosos centenários do País. De acordo com os dados do Censo de 2010, pouco mais de 24.236 brasileiros tinham 100 anos ou mais. Destes, 933 moravam no Paraná. Entre eles estava dona Jesuina.
A história da moradora de Rio Branco do Ivaí veio à tona nas últimas semanas, quando a pensão recebida por dona Jesuina foi cancelada por suspeita de fraude. O sistema informou que ela estava morta. "Ela não conseguiu se aposentar. Quando foi pedir a aposentadoria, ela já tinha mais de 80 anos e o pessoal disse que não podia fazer mais. Aí ela ficou só com o salário dele [do marido já falecido]", explicou a neta Dalíria Franco.
O recurso deixou de ser pago nos meses de abril e maio, até que amigos da família decidiram levar a idosa até a agência do INSS, que fica na cidade de Apucarana (a 140 km de Rio Branco do Ivaí) para provar que Jesuina está viva. "Lá constava que ela tinha morrido e eu não conseguia os documentos do marido. Ele não tinha CPF. Ela foi deitada no carro e o rapaz falou com o gerente. Aí quando viram que ela estava lá, o cadastro foi desbloqueado na hora", afirmou. As parcelas atrasadas foram pagas e o recebimento foi normalizado.
Dona Jesuina nasceu no dia 30 de janeiro de 1896, na cidade de Reserva (a 90 km de Rio Branco do Ivaí). Para se ter uma ideia, naquele mesmo ano foi realizada a primeira edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, em Atenas. Já o Brasil estava sob a gestão do terceiro presidente da República, Prudente de Morais.
Na teoria, a centenária teria acompanhado as duas Guerras Mundiais, a Era Vargas, os lançamentos de Pixinguinha e Noel Rosa, o início da Bossa Nova, a discussão dos seis textos da Constituição Brasileira e a gestão de mais de 30 presidentes do Brasil. Porém, na prática, a vida de Jesuina se resumiu à serenidade e à simplicidade do campo no interior do Paraná.
Mãe de 15 filhos, a idosa estava com 90 anos, a mesma idade do marido, quando ficou viúva. Desde então, passou a morar sozinha em uma pequena casa construída próximo à residência de parentes. Dalíria Franco, casada com um dos netos de dona Jesuína, a adotou como avó e dedicou os últimos 30 anos a cuidar da matriarca. A família não para de crescer. Hoje são 36 netos, 63 bisnetos e 44 trinetos. "Se é trineto que vem depois de bisneto, a gente tem que contar os tataranetos ainda", sorriu Dalíria.
A primeira visita ao médico só ocorreu aos 100 anos, quando Jesuina reclamou de dores no peito. Apreciadora de chimarrão e sempre independente, a idosa realizou afazeres domésticos até os 110 anos. "Ela se virava sozinha. Fazia comida, tomava banho, ela só dependia da gente para dar o remédio na hora certa." Um medicamento para o coração e outro para controlar a pressão arterial, além de vitaminas, são administrados diariamente.
Jesuina está lúcida, mas o corpo já se deixou abater pelo cansaço. Ela passou a enxergar pouco, ouve perguntas apenas em voz alta e quando feitas bem próximas ao ouvido e precisa de apoio para dar alguns passos dentro de casa. Hoje a avó permanece a maior parte do tempo deitada e embaixo das cobertas para se proteger do frio.
Com a repercussão sobre a idade de Jesuina, parentes e amigos estão mobilizados para incluir a idosa no Guinness Book. Em maio, o Livro dos Recordes confirmou que a italiana Emma Morano, de 116 anos, é a pessoa mais idosa do mundo. "Vamos ver se vai dar certo", disse ansiosa a neta.
Viviani Costa
Reportagem Local
FOLHA DE LONDRINA

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