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CONTROLE GLICÊMICO - Nova insulina dura até 36 horas

Por ter uma ação mais longa, toujeo propicia redução de 25% de hipoglicemia se comparada à insulina lantus, atual padrão ouro em tratamento do diabetes

Gina Mardones
Após aberta, a caneta da toujeo pode ficar fora da geladeira por até 42 dias, 14 a mais do que a maioria das insulinas
Divulgação
"Poderia ter escolhido ficar deprimido, mas decidi mostrar que se tivermos um bom controle, um dia regrado como todo mundo deveria ter, é possível levar uma vida normal e com qualidade", frisa Emerson

Pacientes diabéticos que enfrentam problemas para estabilizar a glicemia (açúcar no sangue), mesmo fazendo dietas, praticando exercícios físicos e tomando corretamente a medicação, passam a ter mais uma opção terapêutica. Já está à venda nas farmácias do País a insulina toujeo, que promete dar aos usuários maior estabilidade glicêmica. Isto porque amplia de 24 para até 36 horas a duração do medicamento no organismo, se comparada ao atual padrão ouro em tratamento do diabetes, que é a insulina lantus.
Pesquisas clínicas mostraram que toujeo e lantus são semelhantes do ponto vista de eficácia (redução de hemoglobina glicada que avalia o índice glicêmico nos últimos 90 dias). Só que toujeo apresentou menor variabilidade glicêmica (glicose no sangue), independentemente do horário de aplicação, seja matinal ou noturna, ou combinados. Os dois medicamentos, desenvolvidos pela empresa farmacêutica Sanofi, contém glargina, uma insulina humana análoga de última geração no tratamento do diabetes, tanto tipo 1 como tipo 2. Enquanto a lantus pode ser consumida por pacientes a partir de dois anos, a toujeo é indicada somente para pessoas com mais de 18 anos. 
A nova medicação é uma evolução da lantus. Apesar de ter a mesma quantidade de insulina no mesmo tipo de molécula, a toujeo está mais concentrada, o que permite uma liberação gradual. "Quando a pessoa aplica a caneta de insulina no subcutâneo, a liberação ocorre de forma mais lenta e faz com que, ao longo do tempo, exista uma importante redução de hemoglobina glicada, similar à de lantus, mas a quantidade de glicose no sangue fica estável, mais similar ao fisiológico", explica Luciana Giangrande, diretora médica da Sanofi. Segundo ela, com toujeo, o paciente ganha mais flexibilidade temporal para aplicar a insulina, "promovendo assim uma maior adesão ao tratamento".

BENEFÍCIOS
Os estudos clínicos comparativos entre os dois medicamentos apontaram que o toujeo reduz em 25% a incidência de hipoglicemia (baixo nível de açúcar) noturna e severa. Como a hipoglicemia está relacionada a distúrbios cardiovasculares e danos cerebrais, que podem até levar a demência e morte súbita, a nova medicação pode ser um diferencial no tratamento de pacientes que têm mais dificuldade em manter a glicemia estável, principalmente na madrugada. "A hipoglicemia pode ser fatal, já que ocorre a qualquer hora do dia ou da noite, quando o paciente está dormindo e não tem como reagir para corrigir essa situação. Estudos apontam que indivíduos que têm hipoglicemias frequentes apresentam quatro vezes mais risco de desenvolver doenças cardiovasculares", enfatiza Luciana. Com toujeo, a incidência de hiperglicemia também cai.
Para a endocrinologista Denise Franco, pesquisadora do Centro de Pesquisas Clínicas (CPClin) e coordenadora do Departamento de Novas Terapias da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), o mais importante da descoberta da toujeo é a ampliação de opções de terapia, principalmente porque o tratamento do diabético é individualizado. "Ao longo do tratamento, o paciente passa por etapas e uma das principais dificuldades é o controle da glicemia, então se uma insulina oferece tempo maior de estabilidade glicêmica isto facilita o ajuste no dia a dia", avalia.
Outra vantagem da insulina toujeo é que, após aberta, ela pode ficar fora da geladeira por até 42 dias, 14 a mais do que a maioria das insulinas, desde que seja mantida em local fresco.

VIDA NORMAL
O educador físico Emerson Bisan sabe muito bem a importância da evolução da insulina, dieta e exercícios físicos na vida do diabético. Hoje, convivendo há 20 anos com o diabetes tipo 1, tendo participado de 68 maratonas nos mais diversos países, ele é categórico em dizer que o diabetes interfere no dia a dia, mas que esta interferência é positiva" porque faz com que as pessoas passem a ter uma vida mais saudável. "Poderia ter escolhido ficar deprimido, mas decidi mostrar que se tivermos um bom controle, um dia regrado como todo mundo deveria ter, é possível levar uma vida normal e com qualidade. O efeito do exercício é incrível no controle glicêmico", frisa Bisan.

INTRODUÇÃO NO SUS
Apesar da evolução para a insulina glargina lantus ter ocorrida nos anos 2000, até hoje a rede pública de saúde fornece insulinas de ação lenta (NPH e Regular). De acordo com Denise, isto acontece porque todos os estudos clínicos de insulina provam apenas que ela é capaz de baixar a hemoglobina glicada, mas dificilmente apontam se é superior a outras porque implicaria em titulação. Para reverter esta situação, a SBD luta para que seja incluso nos estudos de farmacoeconomia não só os dados de eficácia da insulina, mas também qual o impacto na qualidade de vida e quanto reduz os episódios de hipoglicemia. "Dados que nem sempre são inseridos na análise do governo na hora da decisão sobre a introdução de novas terapias", conclui Denise.
A jornalista viajou a convite da Sanofi

Marilayde Costa
Reportagem Local/FOLHA DE LONDRINA

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