[Fechar]

Últimas notícias

Corinthians e Caixa chegam a consenso em renegociação que definirá futuro da Arena.

CorinthiansArena Corinthians e Caixa chegaram ao primeiro consenso em relação à renegociação do empréstimo público de R$ 400 milhões, cujas parcelas o clube parou de pagar em novembro de 2016. O “primeiro tempo” das conversas foi dedicado à reoganização operacional do estádio – um novo contrato, com grau maior de complexidade e tetos de gastos, vai substituir o atual, impossível de ser cumprido a partir de 2017. Isso acaba de ser acordado. O “segundo tempo”, que vai definir taxas, prazos e valores, começa agora e tem até 30 de abril para acabar. As parcelas voltarão a ser cobradas pelo banco a partir de 15 de maio. A renegociação, além de fundamental para que o estádio se recupere financeiramente e deixe de drenar dinheiro do futebol corintiano, trata de um financiamento público feito com recursos do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no ensejo da Copa do Mundo de 2014.
O Corinthians parou de pagar as parcelas à Caixa porque, como seu estádio gera muito menos receita do que o clube sonhou no passado, o dinheiro não é suficiente para pagar as despesas e ainda quitar as mensalidades. O banco estatal deu cinco meses de carência, de 15 de novembro de 2016 a 15 de abril de 2017, para que o clube pudesse parar de pagar o empréstimo enquanto ambos renegociam o financiamento. O prazo de carência, inclusive, foi formalizado em reunião dos cotistas da Arena Corinthians – Corinthians, Odebrecht e o fundo que rege o estádio, BRL Trust – em 8 de março. As parcelas de R$ 5,7 milhões mensais se estenderiam até 2028 nas condições atuais do empréstimo. A diretoria corintiana quer termos mais favoráveis. A solução não necessariamente envolve alongar o prazo da dívida para além de 2028 – existe a possibilidade de pagar parcelas menores no início e mais altas no fim, o que ajudaria o negócio a se manter adimplente enquanto a operação não pega no tranco.
Ata de assembleia da Arena Corinthians sobre renegociação de empréstimo com a Caixa (Foto: Reprodução)
A Arena Corinthians, na maneira como foi concebida, se tornou impossível de ser administrada a partir de 2017. O gargalo está no contrato entre o fundo que administra o estádio, a BRL Trust, e a Caixa. O documento diz que, de toda a arrecadação do estádio, 20% devem ser reservados para a despesa dele e 80% para o pagamento de dívidas, entre elas o financiamento público. Nos primeiros três anos – 2014, 2015 e 2016 –, havia um mínimo de R$ 30 milhões reservado para a despesa mesmo que esse dinheiro fosse menor do que o percentual previsto. O que de fato aconteceu. De 2017 em diante, o Corinthians seria obrigado a seguir a regra dos 20%. Se continuasse a arrecadar R$ 90 milhões anuais, o clube teria de administrar a Arena com R$ 18 milhões em vez de R$ 30 milhões. Quase a metade.
O fluxo do dinheiro dentro da Arena Corinthians terá de mudar, assunto resolvido no “primeiro tempo” da renegociação com a Caixa. Com a reorganização do negócio, haverá três linhas de receitas e despesas diferentes. A primeira corresponde ao dia de jogo. Das receitas com bilheterias, 30% serão reservados para as despesas das partidas, como segurança, limpeza, taxas, entre outros. Isso funciona como um teto de gastos. O Corinthians terá de adequá-los às receitas do próprio jogo. A segunda linha representa a área comercial. O clube poderá usar no máximo 20% das receitas com vendas de camarotes, por exemplo, em negócios ligados aos próprios camarotes – o percentual também é um teto de gastos, mas vamos explicar no próximo parágrafo por que ele vai gerar uma folga. A terceira linha ainda vai consumir R$ 28 milhões com despesas fixas: água, energia elétrica, seguro, manutenção predial, folha salarial da Arena. O que sobrar vai ser dedicado, enfim, às dívidas, uma delas com a Caixa.
A distinção das receitas e despesas em três linhas funciona como um plano de austeridade, porque impõe tetos para cada gasto que o Corinthians tem com seu estádio, mas também alivia algumas amarras sobre a administração. Digamos que, hoje, uma agência de marketing esportivo leve à Arena Corinthians um cliente disposto a comprar um camarote. Esse intermediário tem direito por lei a uma comissão sobre o negócio. No contrato vigente com a Caixa, o Corinthians precisa tirar essa comissão da despesa global do estádio, ou seja, dos 20% sobre a receita, um valor que é insuficiente até para pagar os custos mais básicos do estádio. A burocracia, portanto, poderia levar o clube ao extremo de recusar negócios que tenham terceiros por não poder pagar comissões a intermediários. É por isso que uma das três linhas de receitas e despesas tem aspecto comercial. Depois da renegociação com a Caixa, a Arena poderá abater a comissão da receita gerada pelo próprio negócio.
A próxima etapa da renegociação, financeira, vai rever condições de pagamento, entre elas taxa de juros, prazo e valor a ser pago pelo Corinthians. A Arena precisava rever o funcionamento de sua operação para que, num contrato adequado à realidade, pudesse calcular quanto dinheiro sobrará para o pagamento de dívidas. O financiamento com a Caixa precisa ser resolvido em 2017 porque é apenas uma parte do endividamento. A partir de 2018, o Corinthians terá de começar a pagar as parcelas de emissões de debêntures, no valor de R$ 350 milhões, mais juros, feitas para viabilizar a construção. Ainda há, por fim, uma dívida superior a R$ 365 milhões com a própria Odebrecht, que injetou recursos próprios durante as obras. O consenso entre Corinthians e Caixa, portanto, é o primeiro de uma série de desafios a serem superados pelos cartolas para tornar o estádio num negócio rentável para o futebol corintiano.
Arena Corinthians (Foto: ÉPOCA)
 Blog do JJ

Nenhum comentário

UA-102978914-2