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Ovinos o ano todo

Apesar do bom momento para os criadores, o que se percebe é que o consumo de carne de ovinos ainda é pequeno no País

Com uma carne saborosa e um rebanho que enche os olhos do criador, os ovinos são animais com um potencial enorme dentro da pecuária paranaense. Algumas raças, inclusive, já estão bem solidificadas, com bons números de comercialização como é o caso da Dorper e White Dorper. No Paraná, de acordo com a Pesquisa Pecuária Municipal (PPM) de 2015, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são 614,7 mil cabeças, ainda modestos 3,3% do rebanho nacional.

Apesar do bom momento para os criadores, o que se percebe é que o consumo de carne de ovinos ainda é pequeno no País e cresce a passos lentos. A média é de 800 gramas per capita por ano, enquanto países como Austrália, Nova Zelândia e África do Sul já ultrapassaram a marca de 80 quilos per capita/ano. Mas afinal, o que falta para que essa carne tão saborosa, de fato, entre no cardápio dos brasileiros?

Entre diversos fatores, está a falta de padronização da produção, com uma oscilação grande de volume e qualidade durante o ano. Muitos criadores ainda estão se adaptando ao manejo dos animais e, claro, fazendo com que o rebanho, de fato, gere receita. Na ExpoLondrina, durante o 5º Ciclo de Palestras em Ovinocaprinocultura Moderna, um dos temas mais quentes foi a produção de cordeiros na chamada contra estação.

Normalmente, os animais entram no cio durante o outono/inverno e os filhotes nascem na primavera/verão, ou seja, um parto por ano. Os criadores, portanto, precisam buscar técnicas para produzir mais animais na chamada contra estação, fazendo as fêmeas parirem três vezes no período de dois anos. "A ovinocultura está crescendo e é neste momento que os produtores estão procurando formas de produzir mais animais na contra estação, deixando de explorar somente o cio natural, e sim induzi-los a isso, reduzindo os intervalos de parto", explica a médica veterinária Maria Carolina Ricciardi Sbizera .

Para sair desse ciclo natural e ter animais nascendo, inclusive, no outono/inverno, são pelo menos três técnicas importantes. A primeira delas é a alteração de fotoperíodo, fazendo com que os animais permaneçam 16 horas sob luz artificial, estimulando o cio da ovelha. "A segunda técnica é o que chamamos de 'efeito macho', em que se separa por 60 dias os machos das fêmeas e, quando retornam ao mesmo ambiente, há um estimulo da produção hormonal."



Por fim, a técnica mais indicada pela veterinária e considerada eficiente, pela velocidade do retorno, é a administração de hormônios nas fêmeas. Ela explica que geralmente utiliza-se dispositivos intravaginais contendo progesterona, com o intuito de "zerar" todos os hormônios da ovelha. "Quando retirado esse dispositivo, utilizamos os hormônios eCG e FSH criando assim uma nova onda folicular, a ovelha assim entra no cio. Com essa técnica, temos os resultados em menor período. Em 22 dias é possível saber se os animais estão prenhes ou não", afirma. Num experimento realizado pela profissional utilizando essa técnica todas as 51 ovelhas entraram no cio e 21 ficaram prenhes.

Independentemente da técnica, os resultados só são favoráveis para animais considerados saudáveis, com score médio 3 (de 1 a 5), ou seja, animais nem tão magros e nem obesos. "Fora desse score, a reprodução pode ser prejudicada. Existe inclusive o que chamamos de "flushing", que é uma suplementação ofertada de 30 a 40 dias antes da estação de monta".

Em busca de rentabilidade

Os produtores José Henrique e Beatriz Ferdinandes deixaram a produção de leite para investir na ovinocultura:
Os produtores José Henrique e Beatriz Ferdinandes deixaram a produção de leite para investir na ovinocultura: "Hoje somos donos da mercadoria"

José Henrique e Beatriz Ferdinandes tinham uma bagagem grande na produção de leite em sua propriedade localizada em Arapongas. Eles então, pensando no futuro dos negócios no campo, resolveram realizar uma reviravolta e viram na produção de ovinos uma grande oportunidade de faturamento.

A mudança, segundo os criadores, veio da própria família que resolveu não trabalhar mais com grandes ruminantes. "Hoje somos donos da mercadoria, o que não acontecia com o leite. Nós entregávamos o produto e só depois de 30 dias é que tínhamos uma ideia de como ficaria o preço para nós. Isso era bem complicado", explica José Henrique.

Hoje a JBC Carneiros conta com 300 animais, sendo 280 matrizes. A expectativa deles é fechar este ano com pelo menos 500 cabeças e, em 2018, atingir a marca de 1 mil matrizes. "O consumo da carne está crescendo e esperamos trabalhar com animais registrados a partir do ano que vem. Assim, estaremos em duas frentes: a comercialização de carne e também de genética", diz o produtor.

No que diz respeito ao manejo, por já trabalharem com gado de leite, Beatriz relata que a adaptação foi tranquila. "Saímos dos grandes para os pequenos ruminantes. Como sou médica veterinária, estudei por conta própria o comportamento deles, fomos nos atualizando e implantando. Acho que o mais complexo acaba sendo a alimentação no inverno. É difícil e por isso temos que nos preparar".

Quando se trata da cadeia da carne como um todo, um problema que eles projetam para o futuro é a dificuldade para o abate dos animais. Os criadores relatam que não há na região frigoríficos apropriados para trabalhar. Assim, ficará a dependência de juntar um lote grande para que possa parar uma linha de produção de suínos, por exemplo, e atender os criadores. "Será necessário a união dos produtores. Em Castro e Guarapuava, por exemplo, o volume de produção já é grande e isso facilita o processo", diz Beatriz.

Mesmo com algumas adversidades, José Henrique e Beatriz se mostram animados com o futuro da ovinocultura. "Existem estudos que apontam que por 20 anos ainda não haverá carneiro suficiente no País para atender o mercado interno. Ou seja, o que produziremos, vamos vender". (V.L.)
Victor Lopes
Reportagem Local/folha de londrina

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