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(15-07-2017) AGRICULTURA - Um olhar para o solo, mais uma vez

Para segurar ameaça de erosão à sua propriedade, Wilberto Léo Janz teve de arrendar sítio vizinho onde cuidados com o solo não eram levados à risca

Bastou o impacto forte das chuvas do fenômeno El Niño sobre as lavouras paranaenses entre o final de 2015 e o ano passado para um assunto que andava esquecido voltar a martelar a cabeça do produtor, a conservação de solo. As precipitações com médias duas vezes superior ao do histórico dos últimos 20 anos mostrou a força da erosão em muitas propriedades do Estado e os prejuízos financeiros, estruturais e ambientais foram enormes. Um alerta foi ligado: as boas práticas conservacionistas ficaram escanteadas ao longo dos últimos anos.

É bem verdade que o Estado já esteve na vanguarda das ações de conservação de solo, lá na década de 1980. O tempo foi passando e o produtor deixou algumas ações importantes de lado, como o próprio terraceamento, rotação de culturas com plantas de cobertura e curvas de nível. Os números estimados pela Embrapa Solos são alarmantes. As perdas no País chegam a US$ 5 bilhões por ano pelo processo erosivo em áreas cultivadas.

Entidades públicas e privadas do agronegócio ligaram o sinal de alerta no ano passado e a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), juntamente com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) elaboraram um pré-projeto, que há quase um ano se tornou o Programa Integrado de Conservação de Solo e Água do Paraná (Prosolo). O programa tem diversas frentes, desde ações em eventos pelo Estado para sensibilizar produtores sobre o tema, investimentos em pesquisa aplicada, capacitação de técnicos, e, principalmente, a adesão dos produtores (pessoa física ou jurídica) ao programa, elaborando projetos de conservação de solo e água para cada propriedade.

Hoje, se o produtor tem uma situação de risco em sua área, ele é autuado e a legislação estadual dá um prazo de 30 dias para apresentar um projeto e dar sequência às adequações. Caso isso não ocorra, ele é multado posteriormente. O secretário executivo do Prosolo, Werner Hermann Mayer Junior, explica que caso o agricultor se inscreva no programa até o próximo dia 29 de agosto, ele tem um ano para apresentar o projeto. A expectativa é que 10% dos produtores do Estado se cadastrem no Prosolo até o prazo final.

Para facilitar esse trâmite dos projetos, a expectativa é capacitar até o ano que vem 20 mil técnicos. "Devido à falta de demanda do produtor, muitos profissionais acabaram deixando essa área de agronomia e hoje pouca gente faz projetos relacionadas à conservação de solos. Temos também um investimento de R$ 12 milhões em pesquisa aplicada lançado há cerca de dois meses pela Fundação Araucária, em que identificamos assuntos importantes ligados à conservação de solos."

(Plantio direto) É uma ferramenta poderosa no controle do processo erosivo, desde que seja bem feito em conjunto com outras estratégias
(Plantio direto) É uma ferramenta poderosa no controle do processo erosivo, desde que seja bem feito em conjunto com outras estratégias"


FATORES

Para Werner, são muito pontos que colocaram os produtores paranaenses novamente nessa situação complicada. O plantio direto feito sem qualidade foi um dos fatores. "Criou-se a ideia de que o plantio direto resolvia todos os problemas de solo, mas ele vem perdendo qualidade, com pouca cobertura de solo, sem rotação de cultura. Ele é uma ferramenta poderosa no controle do processo erosivo, desde que seja bem feito em conjunto com outras estratégias, como o uso de cordão vegetado e terraços."

Outro problema grave e comum é a utilização de máquinas de maior porte sem necessidade. Como elas têm seu rendimento comprometido pela utilização dos terraços, muitas vezes eles acabam sendo retirados. "É preciso ter cuidado com a compactação do solo. O produtor nos últimos anos aumentou muito o tamanho das máquinas, às vezes sem necessidade e retira os terraços para um maior espaço de manobra."

Agora, a expectativa é que o Prosolo ultrapasse as barreiras de apenas um mandato político e siga ao longo da próxima década. "Como temos envolvimento da iniciativa privada, isso pode dar uma sobrevida ao projeto. Temos esse respaldo científico e aplicaremos isso em campo, o que demanda tempo, além de continuar o processo de sensibilização do setor, capacitação, o que será bem eficiente para um maior controle de erosão no Paraná."

A terra é parte fundamental na ‘empresa rural’

"A propriedade rural é nossa empresa e o solo é parte importante dela." É dessa forma que o produtor de grãos em Londrina, Wilberto Léo Janz, resume a importância do manejo do solo – em todos os aspectos – dentro da sua área de 300 hectares. Ele não poupa esforços para mantê-lo equilibrado quimicamente e livre de erosões.

Mesmo assim, há cerca de seis anos ele acabou passando por um problema devido a uma falta de atenção não dele, mas na propriedade vizinha. Como o produtor vizinho não seguia à risca esses preceitos, o problema de erosão ficou sério e, quando chovia, a água descia forte na área de Janz e na de outros produtores rurais próximos. "A saída foi eu arrendar a área e fazer todo o manejo necessário."

Foram 18 hectares que passaram por conserto de valetas, curvas de nível com auxílio de um técnico da cooperativa e calagem. Ele não se lembra exatamente o valor gasto, mas só a contratação de uma máquina para os trabalhos custou em torno de R$ 160 a hora. "Têm muitos agricultores que sabem da importância de cuidar do solo, mas outros, acredito, não fazem até por falta de recursos. Com esse sobe e desce dos preços das commodities, a pessoa fica descapitalizada e esse é um investimento que não se vê retorno no momento, mas é necessário."

O olhar de Wilberto, claro, não está ligado apenas aos problemas de erosão, mas também extrair do solo tudo que ele oferece. "Trabalho com plantio direto e agricultura de precisão. Hoje se não utilizarmos todos os recursos disponíveis, ficamos fora do mercado. Temos que não apenas vencer a erosão, mas também buscar as correções de solo necessárias para aumentar a produtividade. Uma vez que o solo vai embora para o rio, ele não volta. Se não tivesse arrendado e consertado essa área, teria gerado transtornos enormes."
Victor Lopes
Reportagem Local/FOLHA DE LONDRINA

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