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Etanol aos olhos do mundo

Combustível fabricado a partir da cana brasileira é tido como mais eficiente que o de milho dos EUA


O Brasil tem potencial para reduzir as emissões globais de gás carbônico em 5,6% por meio do aumento da produção de etanol. A conclusão é do artigo "Etanol de cana-de-açúcar como uma alternativa verde expansível ao uso de petróleo bruto", publicado na segunda-feira, 23, na revista "Nature Climate Change", nos Estados Unidos, e divulgado no site da Universidade de Illinois. No entanto, o setor carece de maior previsibilidade para que os investimentos no plantio e industrialização voltem a ocorrer, depois de anos dificuldades financeiras.

O estudo foi coordenado pelo professor Stephen Long, de Illinois, em parceria com pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo). Na comparação ao etanol de milho produzido nos EUA, o derivado de cana é bem mais eficiente porque as usinas brasileiras têm a possibilidade de usar toda a planta para a produção de energia, tanto para alimentar o moinho como para vender o excesso em eletricidade de volta às distribuidoras. "E gera apenas 14% das emissões de dióxido de carbono do petróleo", diz a coautora do estudo Amanda De Souza , da USP, ao site da Universidade de Illinois.

Ela lembra que a maioria dos carros no País são flex, o que permite uma mudança no consumo por parte dos motoristas de acordo com oferta e preço de etanol ou de gasolina. Afirma ainda que em 2012 os postos vendiam maior volume do biocombustível de cana.
Vale destacar que, para chegar aos 5,6% de redução na emissão de gás carbônico, os pesquisadores consideraram três cenários em que a área plantada de cana aumentaria de 37,5 milhões e 116 milhões de hectares. O cenário mais modesto significaria quadruplicar o espaço destinado no Brasil para a safra 2017/18, que será de 8,7 milhões de hectares, de acordo com o último levantamento para a cultura publicado pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).

Mesmo assim, Long diz, a site da universidade norte-americana, que os custos relacionados à conversão da terra em campos de cana foram incluídos na análise e considera apenas áreas que podem ser usadas para agricultura, indústria ou outros tipos de desenvolvimento. Ainda, considera os planos estipulados para redução cada vez maior da queimada de palha antes da colheita nos próximos anos, o que contribuirá mais para reduzir danos. "A produção brasileira de cana é provavelmente a mais avançada do mundo", afirma Long.

A proposta contribuiria para o cumprimento do acordo climático de Paris, assinado por representantes de 196 nações em dezembro de 2015 e depois renegado pelos EUA, que visa limitar a média da temperatura global a menos de 2ºC acima dos níveis pré-industriais.

FUTURO
O presidente da Alcopar (Associação dos Produtores de Bioenergia do Paraná), Miguel Rubens Tranin, afirma que é necessário que o mercado tenha maior previsibilidade para que se faça investimentos, tanto na produção quanto na moagem. "Temos estudos que mostram que o etanol polui 80% menos que o combustível fóssil, quando se considera todo o ciclo, desde o preparo do solo, ao sequestro de carbono no desenvolvimento das plantas e também com a emissão de carbono na colheita."

Tranin considera que o etanol, assim como o biodiesel, sejam fontes ideais para o País nos próximos anos. "Mesmo quando se fala em carros elétricos, uma coisa é no Brasil e outra é na Europa. Uma boa alternativa é um híbrido."

Porém, apesar de dados que corroboram a eficiência dos biocombustíveis, diz que o setor passou por anos de aumento nos custos de produção e baixa competitividade com os derivados de petróleo. "Hoje ainda temos uma margem apertada para competir com a gasolina, apesar da atual política correta de acompanhar os preços do petróleo no mercado internacional, porque o valor do barril está muito baixo", conta. "Quando a crise chegou, o setor já estava em dificuldade, com alto endividamento, mas basta uma diretriz que dê maior previsibilidade para que se estimule os investimentos", completa Tranin.

Setor espera por RenovaBio
O setor sucroalcooleiro espera com ansiedade que o Ministério das Minas e Energia implante o programa RenovaBio, proposto para estabelecer metas nacionais para os próximos dez anos de redução na emissões de combustíveis. A ideia é usar notas diferentes para cada tipo de matriz energética, em valor inversamente proporcional à intensidade de gás carbônico.

Dessa forma, será criado o CBIO (Crédito de Descarbonização por Biocombustíveis), um ativo financeiro, negociado em bolsa, emitido pelo produtor de biocombustível a partir da nota fiscal de comercialização dos produtos. Os distribuidores cumprirão metas e o governo terá maior controle sobre a sonegação fiscal.

A proposta está engavetada na Secretaria da Casa Civil da Presidência, envolta em denúncias que tomaram a frente de projetos voltados ao setor produtivo. O presidente da Alcopar (Associação dos Produtores de Bioenergia do Paraná), Miguel Rubens Tranin, contudo, acredita que é de interesse do governo apresentar o RenovaBio na COP-23 (Conferência Mundial de Clima da ONU), entre os dias 6 e 19 de novembro, em Bonn, Alemanha. "É um projeto inovador e que vai trazer a previsibilidade que o setor tanto precisa para programar investimentos", diz. (F.G.)
Fábio Galiotto
Reportagem Local/FOLHA DE LONDRINA

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