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Curitiba concentra 45,9% dos médicos no Paraná

Curitiba concentra 45,9% dos médicos existentes no Paraná. São 10.867 médicos atuando na capital contra 12.794 profissionais no restante do Estado. Essa distribuição de profissionais é desproporcional quando comparada com a de pessoas. A população estimada de Curitiba é de 1.908.359 (17,22%), enquanto o restante do Estado possui 9.171.641 habitantes (82,77%).

As informações constam na pesquisa Demografia Médica 2018, realizada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), com o apoio do Conselho Federal de Medicina (CFM) e do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), e divulgado nesta terça-feira (20). O levantamento, coordenado pelo professor Mário Scheffer, usou ainda bases de dados da Associação Médica Brasileira (AMB), Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Ministério da Educação (MEC).

No País, as capitais das 27 unidades da federação reúnem 23,8% da população e 55,1% dos médicos. Em síntese, mais da metade dos registros de médicos em atividade se concentra nas capitais, onde mora menos de um quarto da população do País. A média das 27 capitais é de 5,07 médicos por mil habitantes. No interior, esse índice é 1,28, ou seja, 3,9 vezes menor.

O estudo mostra que as 3.802 cidades brasileiras com até 20 mil moradores somam 32.227.796 habitantes e 11.657 médicos. Isso significa que os 15,5% da população do País, instalados nas menores cidades, contam com 2,6% do total de profissionais em atividade no País. Por sua vez, as 42 cidades com mais de 500 mil habitantes somam 62.625.010 moradores e são atendidos por 271.366 médicos. Esse cálculo mostra que enquanto 30,2% da população vive nos grandes centros 60,2% dos médicos atuam nesses locais.

"O estudo deixa claro que os problemas de distribuição ainda estão longe de ser solucionados. A expansão de vagas não se traduz em facilitação de acesso", afirma o autor do trabalho, o professor da FMUSP, Mário Scheffer.

O professor observa que a desigualdade não é apenas geográfica, mas no próprio sistema de saúde. Há ainda grande concentração de profissionais que trabalham apenas nos sistemas privados e entre níveis de especialidade. "Ainda convivemos com uma hiperconcentração de médicos e com deserto de médicos", constata.

PROBLEMAS
Para entidades médicas, a desigualdade na distribuição dos profissionais é fruto sobretudo da ausência de políticas públicas que estimulem a fixação dos profissionais. Entre os problemas apontados estão o de precariedade de emprego, a falta de acesso a programas de educação continuada e falta de condições adequadas de trabalho.

Para o presidente da Associação Médica Brasileira, Lincoln Ferreira, o aumento do número de médicos e a má distribuição têm relação direta com o que a abertura de novas escolas e cursos de medicina e com o que ele chama de política de transbordamento. "A vida profissional de um médico é longa. Formar médicos custa muito, mas formar mal custa muito mais caro", disse.

Já o presidente do Conselho Federal de Medicina, Carlos Vital, avaliou que uma boa distribuição de profissionais depende de estímulo, vontade política e investimento adequado. Ele voltou a cobrar, entre outras medidas, a implementação de uma carreira de Estado para médicos, além de formação adequada de profissionais. "Os desafios estão postos", disse. "O cuidado de um ser humano vai muito além da técnica", completou.

O presidente do Simepar (Sindicato dos Médicos no Paraná) Mário Antônio Ferrari, ressalta que a proposta do movimento sindical é que seja implantada a carreira médica em dois níveis: federal e estadual. "Essa experiência já existe no Ministério Público. Temos o Ministério Público Estadual e o Federal. Precisamos ter carreira semelhante a essas", apontou. Ferrari defende que essa carreira seja destinada não apenas aos médicos, mas para todo o núcleo da saúde. "É preciso que essa carreira exista para toda equipe. Para o dentista, para o farmacêutico, para o fisioterapeuta, para o enfermeiro. No Exército funciona assim. A pessoa faz o concurso e vai para cidades do interior e pode ir migrando para outras cidades, que podem ser de porte médio ou cidades grandes. Isso dá a possibilidade do médico permanecer na cidade se assim o preferir", argumentou.

EXCEDENTE 
A pesquisa também aponta que de 1920 a 2017 o total de registros de médicos no País saltou de 14.031 para 451.777 (crescimento de 2.219,8%). No mesmo período, a população foi de 30.635.605 para 207.660.929 habitantes (aumento de 577,8%). Pelos dados, ao longo de 97 anos o total de médicos cresceu 3,7 vezes mais que o da população em geral. No entanto, esse fenômeno se acentuou nas últimas décadas. De 1970 até a atualidade, o total de profissionais da medicina cresceu 665,8%, ou 7,7 vezes. Por sua vez, a população brasileira aumentou 119,7%, ou 2,2 vezes.

O professor Mário Scheffer chama a atenção para a expansão do número de escolas de medicina. Hoje existem no País 289 cursos. Outras 104 escolas foram abertas depois do programa Mais Médicos, mas os dados ainda não foram contabilizados no estudo, porque os estudantes ainda não se formaram. A maior parte das vagas, no entanto, está no setor privado: 65%.

O presidente do Simepar critica a criação indiscriminada dessas faculdades. "Os cursos de medicina têm sido criados sem que haja uma necessidade social, sem que haja espaço de formação acadêmica adequado. Muitos estão vinculados ao lucro, ao ensino privado. Alguns locais têm excedente de faculdades médicas. Há um lobby ligado ao ensino privado que prejudica, porque esses cursos não têm qualidade. Esse excedente de médicos está sendo colocado no mercado de trabalho sem formação adequada, atendendo mais a critérios políticos que à necessidade social", apontou. (Com agências)
Vítor Ogawa
Reportagem Local/FOLHA DE LONDRINA

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