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Juros para agricultura ainda são considerados altos

Segundo o Mapa, houve expansão de 14% no crédito oficial na atual temporada


Devido à redução da taxa Selic, que desceu de 14,25% em agosto de 2016 para 6,75% ao ano no mês passado (menor nível da atual série histórica), os produtores rurais acham que os juros que pagam pelo financiamento de suas atividades estão altos. Para o pequeno produtor, a taxa média é de 5,5%; para o médio, de 7,6%; e para o grande, de 8,6%.

"Antes, o crédito rural tinha subsídio e custava abaixo da Selic, o que não acontece com tanta efetividade hoje", reclama Martinho Ferreira, gerente Financeiro da Cooperativa Integrada.
Coordenador do Departamento Técnico-Econômico da Faep (Federação da Agricultura do Paraná), Pedro Loyola aponta que a taxa de juros por si só não é tão prejudicial, mas que somada a outros encargos encarece o crédito rural. "Existem os custos com o cartório, pagamento de assistência técnica e honorários com projetos. Quando começa a somar, este custo ultrapassa 13% e fica pesado para o produtor, que muitas vezes vende o produto com um preço baixo", explica.
O Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) divulgou na semana passada que os médios e grandes produtores rurais tomaram R$ 92,1 bilhões em empréstimos por meio do crédito oficial na temporada agrícola 2017/2018. O montante representa aumento de 12,4% em relação ao que foi contratado em igual período da safra anterior.
A reportagem pediu ao Mapa os números do financiamento referentes ao Paraná, mas a informação não foi enviada até o fechamento desta edição. Segundo a Faep, o Estado tem participação de 16% no crédito total, o que representaria algo próximo de R$ 15 bilhões. No Paraná, segundo a entidade, aproximadamente 87% das propriedades contratam o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) e Pronamp (Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural).
A expansão do crédito informada pelo Mapa não foi sentida na Integrada. "Esta informação nos surpreendeu. Temos dois tipos de financiamento para o produtor: direto no banco e com a cooperativa. Esse segundo ficou mais restrito pois o governo burocratizou muito, pedindo muitas garantias. No nosso caso, houve uma diminuição de 15% (na concessão de crédito na atual safra)", lamenta o gerente Financeiro, Martinho Ferreira. Na cooperativa, o financiamento a partir da associação configura aproximadamente 70% do custeio para os produtores.
Já no Sicredi, o aumento do crédito foi de 20%, acima da média nacional informada pelo ministério. Mas, a cooperativa de crédito esperava mais. "Tínhamos uma expectativa maior de contratação do crédito rural nesta safra em relação a anterior. Tivemos um aumento de 20% em volume e 15% em operações levando em conta as linhas de custeio, industrialização, comercialização e investimento. Porém, esperávamos mais", conta Gilberto Paulo Rauber, assessor de Crédito Rural do Sicredi das regiões Norte e Noroeste do Paraná e Centro-Oeste de São Paulo.
Para Rauber, o preço do milho safrinha em 2017 interferiu. "Por conta dos altos valores, muitos produtores não plantaram para este ano e como decorrência temos este cenário", afirma. O preço deprimido da soja durante o segundo semestre do ano passado e neste início de 2018 também pode ter influenciado para que o Sicredi concedesse menos crédito que o esperado.

INDADIMPLÊNCIA
Apesar dos juros considerados altos, em geral, o produtor paranaense está adimplente. Programas do Ministério da Agricultura, como o Proagro e o Seguro Rural ajudam os agricultores a manterem a saúde financeira. "Ainda é insuficiente perto do que deveria ser (a quantidade de contratações nesses programas), mas dá uma boa ajuda. O Paraná é o que mais contrata o seguro. Já no Proagro é sinal de que o produtor continua investindo em tecnologia. Gera um ciclo virtuoso, pois ele não para a atividade para pagar divida", ressalta Pedro Loyolla.
A taxa de inadimplência do setor no Estado está em 2% atualmente. Na cooperativa Integrada, o percentual de devedores é ainda menor, entre 1% e 1,5%. "A nível de cooperativismo não houve aumento neste aspecto. Quando se fala na aquisição direta de produtos no ano passado até teve um ligeiro crescimento na inadimplência, entretanto dentro da normalidade", afirma o gerente Financeiro.

EXPECTATIVA
O governo federal deu sinais de que pretende adiantar a divulgação do plano safra 2018/2019 para o mês de abril. A expectativa do setor agropecuário é que, junto com este anúncio, sejam divulgadas melhorias no crédito rural. "A tendência é de redução destas taxas", projeta Gilberto Paulo Rauber. "Se isso acontecer será bem mais fácil", anima-se Martinho Ferreira.
Já Loyolla acredita que a tendência é que haja uma redução do sistema de financiamento via governo federal, abrindo espaço para produtos financeiros do setor privado. "Atualmente está aumentando a contratação do produtor por meio da LCA (Letra de Crédito do Agronegócio). Isto é interessante, pois o governo está com menos recurso, as pessoas estão investindo mais junto aos bancos. Aumenta a captação e canaliza para o produtor", explica.
Entre julho de 2017 e fevereiro deste ano, a LCA registrou contratação de R$ 14,4 milhões, contra R$ 10 milhões da safra 2016/2017.
Pedro Marconi
Reportagem Local/FOLHA DE LONDRINA

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