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SEGURANÇA PÚBLICA - Seis em cada dez cidades do PR foram alvos de ataques a bancos

Agência do Banco do Brasil, em Andirá, ainda conserva marcas de ataque ocorrido há um ano: placas de madeira tapam os buracos na vidraça


Dos 399 municípios paranaenses, 244 já registraram ataques de quadrilhas especializadas em roubo a banco, o que representa 61% do total. O levantamento feito pela FOLHA com base em estatísticas do Sindicato dos Vigilantes de Curitiba e Região, que concentra dados de todo o Estado, leva em conta crimes de explosões e arrombamentos de caixas eletrônicos e cofres, e assalto a bancos, lotéricas e correspondentes bancários de 1º de janeiro de 2014 até sexta-feira (9).

Neste período, foram 850 ocorrências, uma média de uma a cada dois dias. O ano mais violento foi 2014, com 359 ataques. Após uma série de medidas de prevenção, como a retirada de caixas eletrônicos de comércios e a restrição de horário de funcionamento, 2015 terminou com 117 casos. Em 2016, as ocorrências voltaram a subir, chegando aos 205 crimes registrados. Já no ano passado, os dados mostram 140 ataques cometidos em todo o Estado. Em pouco mais de 60 dias, 2018 já soma 29 ataques. Apesar da redução de casos nos últimos anos, os crimes se tornaram mais violentos.

A última terça-feira (6) marcou um mês da tentativa de assalto a carros-fortes ocorrida na BR-376, em Palmeira, nos Campos Gerais. Assaltantes bloquearam a rodovia com caminhões e, armados com fuzis e metralhadoras, entraram em confronto com vigilantes da empresa responsável pelo transporte dos valores. A troca de tiros terminou com quatro pessoas mortas: dois vereadores de Barra do Jacaré (Norte Pioneiro), um caminhoneiro e um suspeito de integrar a quadrilha.

PROPOSTA
O presidente do Sindicato dos Vigilantes de Curitiba e Região, João Soares, lamentou as mortes ocorridas. Segundo ele, a tragédia poderia ter sido evitada. "Os valores transportados são muito altos, o que desperta a atenção dos criminosos", expõe. Segundo Soares, o caso de Palmeira despertou a atenção de parlamentares para uma antiga reivindicação da categoria: a de limitar a quantidade de valores transportados. "Queremos limitar a até R$ 5 milhões o volume de dinheiro transportado, isso acompanhado por duas escoltas. Hoje não há um limite", revela.

Na mesma proposta que está sendo apresentada à Câmara Federal e à Assembleia Legislativa do Paraná, Soares aponta a necessidade de limitar os valores nos caixas eletrônicos das pequenas cidades. "O policiamento é muito frágil nas pequenas cidades. O efetivo dificilmente passa de quatro policiais por turno, não há poder de reação contra 20 criminosos fortemente armados", argumenta.



PEQUENAS CIDADES
O plano é basicamente o mesmo: enquanto parte da quadrilha explode caixas eletrônicos, outra se concentra em frente à unidade local da Polícia Militar das pequenas cidades. Rajadas são disparadas nos prédios dos destacamentos para evitar uma reação das forças policiais. Para aumentar a ousadia, nos últimos ataques, os criminosos têm incendiados caminhões nas rodovias para impedir o bloquear o acesso do reforço policial.

A estratégia foi utilizada em Palmeira na sexta-feira passada (2), situação em que criminosos explodiram três agências no centro da cidade. Quatro pessoas foram mantidas reféns. Além do trauma deixado, os ataques também acarretam em transtornos à população. Grandes filas se formaram nas duas lotéricas da cidade.

Os moradores de Andirá (Norte Pioneiro) viveram situação parecida. Em março do ano passado, criminosos explodiram a única agência do Banco do Brasil, no centro da cidade. Dois caminhões foram incendiados na BR-369. Um ano depois, a agência ainda conserva marcas do ataque. Placas de madeira tapam os buracos na vidraça. Segundo moradores ouvidos pela reportagem, a agência ficou oito meses fechada. Durante esse tempo, a agência dos Correios, correspondente fiscal, foi assaltada seis vezes.

"O prejuízo é enorme, principalmente para o comércio. O trabalhador vai para outra cidade receber e acaba deixando o dinheiro lá. O movimento caiu bastante nos últimos meses", contou Leandro César Príncipe, gerente de uma loja de móveis. Na loja de ferragens, em frente à agência dos Correios, os funcionários disseram que "já cansaram" de ver assaltos. "Quando vejo as pessoas se jogando no chão já sei que é mais um assalto", relata José Odécio Furlan. "Não conseguimos fazer pagamentos de duplicatas de mais de R$ 2 mil. Está difícil trabalhar", lamenta.

Elisandro Lotin, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, aponta que o cenário é reflexo da interiorização e especialização do crime. "Na medida que os grandes centros são mais policiados, então os criminosos atacam onde a estrutura é mais deficiente. Assim, eles se aperfeiçoam, usando armamento pesado, sabendo que terão mais chances de concluir o assalto com êxito", avalia.

ESTADO
Por meio de nota, a Sesp (Secretaria da Segurança Pública e Administração Penitenciária) reforçou que "todos os crimes relacionados a ataques de caixas eletrônicos são monitorados e contam com o apoio do Diep (Departamento de Inteligência do Estado do Paraná) nas investigações e ações desenvolvidas, por meio de uma força-tarefa composta por policiais civis e militares".

A nota traz ainda que mais de 200 criminosos envolvidos nessa atividade ilícita foram presos nos últimos anos. Os dados da Sesp divergem das estatísticas do Sindicato dos Vigilantes. Segundo a pasta, 2017 apresentou redução de 61,8% nas explosões de caixas eletrônicos em comparação com o ano anterior. "Em 2017 foram 50 casos e, em 2016, foram 131. Além disso, o índice de roubo a bancos reduziu em 30% em todo o Estado. Em 2016 foram 26 registros e em 2017 foram 18."

Barra do Jacaré, uma cidade em luto

Com 2.800 habitantes, Barra do Jacaré é um dos menores municípios do Norte Pioneiro e do Estado. No último mês, o clima acolhedor que sempre marcou a cidade, deu lugar a uma profunda melancolia. No lugar onde quase todos os habitantes têm um parente em comum, semblantes carregados lembram a perda de Miguel Calixto, 54, e Elton Aguiar, o Coruja, 36. Os dois vereadores morreram após serem alvejados na troca de tiros entre assaltantes e vigilantes durante uma tentativa de assalto a carros-fortes, na BR-376, em Palmeira (Campos Gerais), na manhã de 6 de fevereiro.

Aguiar morreu ainda na rodovia. Já Calixto chegou a ser socorrido, mas morreu no hospital dois dias depois. Um terceiro vereador que viajava no mesmo carro, Edival do Nascimento, escapou ileso. Em entrevistas anteriores, ele chegou a relatar que os disparos que mataram os colegas partiram das armas dos vigilantes. Procurado novamente, Nascimento relatou que passa por tratamento psiquiátrico e preferiu não relembrar o ocorrido.

O professor Gilberto Freitas Aguiar, 56, é tio de Elton Coruja. Ele diz não encontrar palavras para definir o que ocorreu. "Foi uma tragédia que assolou toda a cidade. A mãe do Elton, minha irmã, teve o quadro de depressão agravado. Ela e outros parentes mais próximos estão vivendo sob efeito de remédios. Isso tudo por conta da insegurança que vitima as pessoas de bem", queixa-se.

Dois dias antes de perder o sobrinho, ele teve a casa invadida por criminosos. Além de ser roubado, os assaltantes o obrigaram a levá-los até à casa da mãe dele, em uma chácara, para completar o roubo. "É preciso fazer uma análise de País. Quem tem condições está indo embora porque não se sente seguro. Não temos segurança. O que antes era um problemas das grandes cidades, hoje está disseminado."

O prefeito de Barra do Jacaré, Adalberto de Freitas Aguiar, o Berano, cobra uma resposta para que o caso não fique impune. "Todos esses crimes bárbaros são episódios lamentáveis que carecem de uma resposta. A impunidade desencadeia uma revolta na população. Não podemos chegar ao ponto de um pai de família fazer justiça com as próprias mãos", alerta. Ele comentou sobre as perdas. "Calixto era meu amigo de infância. O trabalho que ele fazia com as crianças, de oferecer atividades esportivas, era de tirar o chapéu. O Coruja também vai fazer muita falta, era um ótimo professor."
Celso Felizardo
Reportagem Local/FOLHA DE LONDRINA

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