Ficou mais difícil para Bolsonaro
MIRIAM LEITÃO
A gravação divulgada pelo senador Jorge Kajuru mostra claramente o presidente Bolsonaro pressionando o Senado para melar a CPI da Covid, e também está querendo levar adiante suas ameaças ao Supremo. Essa CPI já começa complicada. O primeiro ato da própria comissão deveria discutir este telefonema do presidente, pois está explícita a tentativa de interferência. Com a revelação deste plano do presidente, fica mais difícil para ele executá-lo.
Kajuru fez bem ao divulgar por ser uma informação relevante e de interesse público. No entanto, é uma conversa inaceitável de ambas as partes. O senador aparece concordando com esta ideia de ampliar o escopo da investigação para incluir governadores e prefeitos. É uma manobra diversionista. O co-autor do pedido de CPI, senador Alessandro Vieira já havia apresentado no sábado requerimento em que pediu a extensão da apuração para gestores estaduais e municipais. Tecnicamente, a CPI tem que ter um fato determinado. Não pode-se abrir o leque nem incluir um segundo fato.
O senador Rodrigo Pacheco também errou nesse episódio porque estava engavetando o pedido de CPI apesar de a Constituição ser clara sobre o direito da minoria. Quem acertou foi o ministro Barroso, que mandou cumprir a Constituição.
Na conversa, o presidente faz ainda uma confusão porque ele quer que o senador pressione o Supremo a abrir um processo de impeachment de um ministro quando a prerrogativa é do Senado.
O que deve ser investigado no Congresso são os erros do governo federal na condução do combate à pandemia. Se esta comissão tivesse sido instalada há um ano, muitas vidas poderiam ter sido salvas.
Em sua coluna na “Folha”, o colunista Celso Rocha de Barros lembra que houve uma mudança na conduta do presidente assim que a CPI foi instalada. Deu a autorização para a Comunicação fazer campanha para estimular o uso de máscara e das medidas de proteção.
No entanto, na prática, o presidente continua com o comportamento de disseminador de vírus. Passou o final de semana, andando por aí, fazendo contato com o público. O oposto que os médicos mandam, que é o isolamento social.
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