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‘Dia D’ estimula inclusão no mercado de trabalho

Inserção de pessoas com deficiência precisa de atenção; expectativas de empresas e candidatos diferem

Ricardo Chicarelli
Ontem, 103 pessoas foram atendidas na Agência do Trabalhador em Londrina
Cerca de 130 vagas foram ofertadas ontem no "Dia D", dedicado exclusivamente ao atendimento de pessoas com deficiência na Agência do Trabalhador (Sine) em Londrina. Mais de 25 empresas participaram e realizaram, no local, entrevistas com os candidatos encaminhados pela Agência. Durante o dia, 103 pessoas foram atendidas. As vagas davam oportunidade de trabalho em diversos setores, e para algumas ofertas os candidatos precisavam apenas ser alfabetizados. O Dia D é realizado em todo o País.

O número de atendimentos, porém, foi menor que o número de vagas. As empresas presentes declararam ser muito difícil preencher as vagas reservadas para pessoas com deficiência. A Lei Federal 8.213/91 obriga empresas com mais de 100 funcionários a destinar um percentual dos cargos para pessoas com deficiência, que varia de 2% a 5%.

A construtora A. Yoshii tinha cinco vagas para obras nas posições de pedreiro, servente e eletricista. Porém, a psicóloga da construtora, Helen Carolina Ângelo, observa que para alguns tipos de deficiência o trabalho no canteiro de obras pode representar risco, o que acaba reduzindo as possibilidades de preenchimento das vagas. "Na parte administrativa é mais fácil, mas nas obras a atividade acaba colocando a pessoa em risco." Helen esclarece que a construtora precisa preencher cerca de 115 vagas com pessoas com deficiência, e não pode alocar todos na área administrativa.

No caso da Contax, empresa de call center, o auxiliar de Recursos Humanos (RH) Rodrigo Batista de Souza afirma que a dificuldade está em encontrar candidatos com a escolaridade exigida para o cargo. Ontem, a empresa tinha cerca de 10 vagas para representante de atendimento, cuja escolaridade mínima é Ensino Médio completo.

Para a Santa Casa, a dificuldade também está em encontrar candidatos que se encaixem nas atividades das vagas ofertadas. "Não conseguimos encaixar todo tipo de deficiência nas nossas áreas de trabalho, às vezes tem que subir e descer escadas, por exemplo", declara Karen Rancura, analista de RH e seleção da Santa Casa de Londrina.

Do outro lado, candidatos falam de algumas exigências que muitas vezes não conseguem atender. Formado em Direito, Márcio Fernando Rodrigues tem deficiência visual e conta que a falta de experiência dificulta sua colocação no mercado de trabalho. "Como não tenho OAB, estou tentando me inserir no mercado."

Reabilitado, Fábio César não pode mais trabalhar como carreteiro e, como sempre atuou nesta área, tem dificuldades em se encaixar em outras. "Vou ter que me adaptar a algo fora da minha realidade. O difícil é encontrar um bom salário."

AGÊNCIA DO TRABALHADOR
De acordo com a secretária municipal do Trabalho, Emprego e Renda, Kátia Gomes, a Agência do Trabalhador costuma intermediar casos que as exigências das empresas não se encaixam no perfil dos candidatos. "Ainda há trabalho a ser feito, como incentivá-las a ampliar o quadro de vagas para níveis superiores. Não tenho nenhuma vaga (destinada a pessoas com deficiência) para Ensino Superior, mas temos candidatos que são engenheiros, enfermeiros, entre outros."

Ao mesmo tempo, ela confirma que, muitas vezes, a escolaridade dos candidatos fica aquém das expectativas das empresas. "A maioria parou de estudar muito cedo." Além disso, o salário oferecido muitas vezes é baixo, o que desmotiva as pessoas com deficiência a trabalharem.

A secretária avisa que o atendimento a pessoas com deficiência é feito todo dia na Agência do Trabalhador - basta levar RG, CPF e laudo médico indicando o tipo de deficiência. O Sine avalia as vagas que se encaixam no perfil do candidato e o encaminha para entrevista na empresa. Conforme Kátia, a ideia é que o "Dia D" passe a ser realizado com mais frequência.
Mie Francine Chiba
Reportagem Local-FOLHA DE LONDRINA
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