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Mata dos Godoy - 640 hectares de encantos desconhecidos

23/11/2014 -- 00h00

Mata dos Godoy - 640 hectares de encantos desconhecidos

Torezan e sua fome de conhecimento: a cada incursão, a magia de uma descoberta
O Parque Estadual Mata dos Godoy tem 670 hectares, dos quais 640 são ocupados pela vegetação de floresta. Uma área considerada grande para os atuais padrões de Mata Atlântica, mas pequena se pensarmos no volume que foi desmatado – de 97% a 98% da mata original da região. De acordo com o professor José Marcelo Domingues Torezan, coordenador do sítio Mata Atlântica do Norte do Paraná (Manp), não é possível afirmar com exatidão quantas espécies vegetais e animais a reserva abriga. Só de aves, segundo o professor, há 300 espécies catalogadas atualmente. São 240 espécies de árvores, mas se forem computados todos os vegetais presentes no parque, este número pode chegar a 800 ou mais, já que a conta está longe de ser fechada.

Frequentemente a mata oferece surpresas aos pesquisadores. Mesmo com os fartos estudos sobre árvores, que são espécies mais bem estudadas por serem grandes e fáceis de ser percebidas, a Mata dos Godoy já revelou duas espécies desconhecidas - uma delas recebeu um nome em homenagem ao parque: Exostyles godoyensis. "Imaginamos que em se tratando de micróbios e insetos, que são mais difíceis de ser visualizados, devem existir milhares ainda não identificados", afirma Torezan. Na visita feita pela reportagem à mata, o pesquisador avistou em meio às folhas uma cigarra colorida que pode ser uma espécie não catalogada. "Eu duvido que ela tenha nome", disse, enquanto apressou-se em fotografá-la. Também foram localizadas ali, de acordo com o professor, espécies que se julgavam extintas, como a rã de vidro (espécie assim chamada por ser transparente) e uma pequena lagosta, hipersensível à poluição.

Para Torezan, a criação de mais uma área de monitoramento da rede Peld no Paraná é oportuna. "Estamos na era da recuperação, e não mais na era do desmatamento", diz ele. O pesquisador defende, porém, que o ônus gerado pela extinção de matas tem que ser dividido. "No passado o Estado estimulou o desmatamento. Os proprietários rurais não fizeram isso por maldade, fizeram porque era parte essencial da atividade deles. Hoje precisamos recuperar, será preciso encolher áreas agrícolas para termos mais áreas de conservação e serviço ambiental, como regulação climática e água de superfície. E os proprietários devem ganhar por isso."

O coordenador do Manp explica que a crise hídrica que vivemos hoje tem a ver com o desmatamento por dois eixos: o da regularização das chuvas e o da manutenção da qualidade da água que se encontra nos rios. Ele lembra que uma árvore de porte grande joga de 300 a 400 litros de água por dia na atmosfera, na forma de vapor. Portanto, quando a floresta faz o trabalho de bombear água do solo e jogar na atmosfera, cria uma camada muito úmida na baixa atmosfera. Quando vem uma frente fria, ela resfria esse ar e provoca a chuva. "Quando não há cobertura florestal a frente fria chega, não encontra a camada úmida e pronto, não tem chuva."

Além da regularização das chuvas, as matas têm papel importantíssimo na manutenção da qualidade da água das nascentes de onde se capta água. Torezan ressalta que se elas estiverem expostas, a qualidade cai muito, pela presença de fertilizantes e pesticidas que vêm da agricultura. Segundo o pesquisador, até hoje não foi desenvolvida tecnologia capaz de limpar a água como a floresta faz. (S.L.)

folha de londrina
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