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Falta de formação ‘engessa’ policiais civis

Mais da metade dos últimos nomeados pelo Estado não exerce plenamente a função por falta de treinamento

Fotos: Saulo Ohara
Sem capacitação, investigadores não podem ir para a rua e fazem apenas trabalho administrativo
Mais da metade dos investigadores, escrivães, papiloscopistas e delegados contratados desde 2011 para atuar na Polícia Civil paranaense assumiu a função sem receber a formação adequada. São 936 profissionais de um total de 2.075 servidores, o equivalente a 54%, segundo levantamento da instituição feito a pedido da FOLHA. Dos 1.540 investigadores nomeados, 654 não passaram pela Escola Superior de Polícia Civil. O mesmo ocorre com 222 dos 354 escrivães convocados e com 50 de 107 novos papiloscopistas. Entre os delegados, dez, de um universo de 74 aprovados, seguem trabalhando sem passar pela academia.

Entre os cursos que os ingressos deixam de fazer na Escola de Superior de Polícia Civil, situada em Curitiba, estão direitos humanos, técnicas policiais de investigação, sistemas informatizados, gestão pessoal e liderança. Por conta da falta de treinamento, não podem fazer plantões, usar armas nem sair para as ruas, ainda que tenham feito um curso de uma semana, conhecido entre eles por "express". Todo o trabalho é administrativo.

É o que relata uma investigadora lotada na região de Londrina, nomeada em julho do ano passado, e que prefere ser identificada na reportagem. "Só fiz um curso intensivo para poder ter uma base para trabalhar. Sobre a escola, ainda não temos previsão", diz. O curso completo na Escola Superior de Polícia Civil tem cerca de três meses de duração, com aproximadamente 360 horas-aula.

Segundo a policial, não são poucos os colegas na mesma situação. Há, inclusive, servidores que estão prestes a concluir o período de estágio probatório e que ainda não passaram pela formação. "Estão sem escola e sem arma para trabalhar", enfatiza. Quem quer se sentir mais seguro, acaba comprando a própria arma.

Na delegacia onde atua, a investigadora recém-contratada faz a função de escrivã ad-hoc. "É devido à falta de escrivães", observa. Todas as atividades são desenvolvidas com base apenas na orientação de colegas mais velhos, o que não impede a frustração de alguns agentes por não poderem atuar como deveriam. "Vou falar por mim. Como vou ser uma investigadora sem poder fazer diligências na rua e estar armada?", questiona.

Para o presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Londrina e Região (Sindipol), Ademilson Alves Batista, a situação é complicada para a categoria e também para a comunidade. Isso porque a convocação dos aprovados nestas condições seria a última saída para evitar a expiração do prazo do concurso. Ao mesmo tempo, mesmo sem exercer devidamente a função para a qual foram nomeados, os agentes recebem integralmente os vencimentos previstos para cada cargo. "Solicitamos que o governo regionalizasse esse curso, para que não ficasse restrito só a Curitiba. É algo que frustra o próprio policial, que está há anos ou meses trabalhando sem atuar efetivamente", assinala Batista.

Na opinião dele, o problema não é causado apenas pela estrutura insuficiente da Escola de Polícia Civil, mas também pela falta de planejamento e de verba. "A escola depende de dinheiro para alimentação, cursos, munição. Se não tiver isso, como vão pagar?", alfinete.

De acordo com a Polícia Civil do Paraná, todos os nomeados exercem "funções relevantes", mesmo que limitados a questões administrativas. Hoje, a capacidade da Escola Superior de Polícia Civil é de 232 alunos, o equivalente a oito turmas de 29. O atraso na formação dos servidores já nomeados, conforme o órgão, se deve a uma adequação de calendário. A previsão é que uma nova turma seja iniciada em agosto. Para isso, no entanto, ainda é necessária aprovação de projeto pelo Conselho da Polícia Civil.
Antoniele Luciano
Reportagem Local-FOLHA DE LONDRINA
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