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Paraná é o líder de cesarianas no Sul

63,5% dos partos no Estado foram feitos com intervenções cirúrgicas em 2013, o quarto maior índice do País

 
Londrina - Enquanto o governo federal estabelece novas regras para estimular o parto natural no País, o Paraná lidera o número de cesarianas na região Sul. Segundo os dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), do Ministério da Saúde, dos mais de 155 mil bebês paranaenses nascidos em 2013, 98,4 mil partos foram realizados por meio de cesarianas, o que representa 63,5% do total. No Rio Grande do Sul, foram mais de 141 mil nascimentos com 88,4 mil cesarianas ou 62,5% de partos com intervenções. Já Santa Catarina teve 61,3% de cesarianas em 2013. Os índices na região Sul são superiores à média nacional, que é de 55,6%.

Em todo o Brasil, o Paraná aparece na quarta colocação no números de cesarianas, atrás de Espírito Santo, Goiás e Rondônia, estados com índices acima de 65%. A Secretaria Estadual de Saúde informou que o percentual de cesarianas no Paraná continua superior aos 63%, segundo os dados de 2014. No ano passado, foram cerca de 160 mil nascidos vivos, sendo que 94,9 mil nascimentos foram realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), com 55% de partos naturais. Já a rede privada teve 64,6 mil nascimentos, com 83% de cesarianas durante o ano passado em todo o Estado.

A assessora técnica do programa Rede Mãe Paranaense, Débora Mara Bilovus, defende que a cesariana não deve ser a primeira opção para as gestantes e afirma que as intervenções cirúrgicas desnecessárias, principalmente em casos de 37 semanas, eleva a taxa de mortalidade de recém-nascidos no período de até seis dias, além do risco de complicações e problemas respiratórios. "A cesariana é muito importante quando necessária e salva vidas de gestantes e bebês, mas não pode ser a primeira opção", pondera. Questionada sobre o índice de cesarianas no Paraná, ela responde que o SUS trabalha no incentivo dos partos normais, no entanto, o alto número de cesarianas pelos planos de saúde influencia o percentual registrado no Estado.

No início deste mês, passaram a vigorar as novas regras da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para realização de cesarianas com intuito de diminuir o número de intervenções cirúrgicas desnecessárias. A resolução prevê a divulgação dos percentuais de cirurgias cesáreas e de partos normais por estabelecimento de saúde e por médico pelos planos de saúde, além do fornecimento obrigatório do Cartão da Gestante e a Carta de Informação à Gestante, no qual deverá constar o registro de todo o pré-natal. O partograma também será exigido com informações sobre o trabalho de parto de cada gestante. Os últimos dados da ANS, referentes ao ano de 2013, apresentam 30 planos de saúde no Paraná com a média de 92,6% de cesarianas.

CULTURA

Na avaliação do diretor da Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Paraná (Fehospar), Benno Kreisel, o alto índice de cirurgias é uma "questão cultural" e que a situação não deve mudar em curto prazo. "Até os anos 1990, o SUS não pagava pela analgesia no parto normal e as gestantes optavam pela cirurgia por causa da dor. Isso é um dos motivos para a cultura atual da cesariana", analisa.

Kreisel lembra que a nova resolução menciona que a gestante que optar pela cesariana mesmo sem ter indicação clínica deverá assinar um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O documento vai acompanhar o relatório médico. De acordo com ele, os médicos apresentam as opções para as pacientes e respeitam a decisão entre o parto normal e a cesariana. "Hoje também existe uma pressão por parte das parturientes para realização das cesarianas. Algumas pacientes chegam até a mudar de médico. Em outros casos, as gestantes querem escolher a data e a hora da cirurgia por questões de crenças e superstições", comenta o diretor, acrescentando que a remuneração pelos partos normais também é discutida pela classe médica, já que a necessidade de tempo para atendimento é superior aos casos de cesariana.

Kreisel ainda rebate o argumento de que as cesarianas colocam em risco os bebês por conta da prematuridade dos partos. "Se a cesariana for feita no momento correto com o acompanhamento médico, existem perfeitas condições para evitar o nascimento prematuro", responde.
Rafael Fantin
Reportagem local-FOLHA DE LONDRINA
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