[Fechar]

Últimas notícias

RENDA - Agronegócio puxa redução da desigualdade no Paraná

Estado é o segundo com menor desigualdade social no País. Modelo agrícola baseado em pequenas e médias propriedades garante que mais gente se beneficie da renda da terra

 
O Paraná é o segundo estado com menor desigualdade de renda no Brasil, de acordo com ranking de 2013 elaborado a partir do índice de Gini, que mede a distribuição de renda entre a população. O Estado também é o único, entre os primeiros colocados, que subiu de posição em relação a 2012, passando do quarto para o segundo lugar. Santa Catarina, o campeão da igualdade, manteve-se estável nos dois anos avaliados.

As políticas sociais implementadas no País na última década – e que provocaram redução da desigualdade em todo o território nacional – são um dos fatores que explicam o desempenho do Paraná. Especialistas ouvidos pela FOLHA concordam, entretanto, que os bons resultados do agronegócio também influenciaram o ranking. Diante de um modelo agrícola baseado em pequenas e médias propriedades organizadas pelo cooperativismo, a conclusão é que o bom preço das commodities acabou beneficiando maior volume de pessoas, ao contrário de estados com economia baseada na agricultura praticada em grandes propriedades.

O índice de Gini considera como menos desiguais aqueles que possuem nota mais próxima de zero. O índice do Paraná, em 2013, foi 0,469, enquanto Santa Catarina, o primeiro colocado, ficou com 0,435. O Paraná também foi o único estado, entre os quatro melhores no ranking, a subir de posição de 2012 – quando foi avaliado com 0,483 – para 2013. Santa Catarina, no mesmo ano, ficou praticamente estável, com 0,424.

O ranking foi elaborado de acordo com dados da Pesquisa Anual por Amostra de Domicílio (PNAD), que detectou também que, nos três estados da região Sul, o índice de pessoas que trabalham na agricultura para si próprios - seja como proprietários, em terras da família ou arrendatários – é de 79%, acima da média nacional de 70%. Nos estados do Centro-Oeste, caracterizados pela concentração de terras nas mãos de poucos, apenas 47,5% das pessoas que trabalham no setor agrícola o fazem para si próprios.

Julio Suzuki, diretor-presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), afirma que o resultado obtido pelo Paraná em 2013 decorre também da maior inserção das pessoas no mercado de trabalho. Naquele ano, a taxa de desemprego no Estado era de 4,5%, contra a média nacional de 7,1%. "Os programas de distribuição de renda também influenciaram a redução da desigualdade, mas o principal fator é econômico. O agronegócio paranaense gerou muitos empregos no interior do Estado", considera. Outros setores que se destacaram, segundo ele, foram o de serviços e construção civil.

O desempenho no passado está inclusive influenciando a situação econômica atual. Enquanto a taxa de desemprego brasileira ficou em 8% no primeiro trimestre de 2015, no Estado foi de 5,3%. "Mas é possível, infelizmente, que o índice de desigualdade possa piorar quando saírem os resultados de 2015, diante da retração do mercado. Os mais prejudicados devem ser os menos escolarizados", analisa.

Brasil

O pesquisador Sergei Soares, do Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea), lembra que o Brasil, na última década, teve uma queda de quase 8 pontos no índice de Gini, o que indica melhoria da desigualdade em todo o País. Em 2013, o Brasil estava com a nota 0,495. "Os países mais igualitários do mundo ficam em torno de 0,20. O Paraná tem uma avaliação parecida com a dos Estados Unidos, que é um dos países mais desiguais entre os desenvolvidos. Ainda há muito o que melhorar", opina, lembrando que uma meta razoável, para o Brasil, seria chegar a 0,30. "Ainda há muito a ser feito", afirma.

Sergei destaca que a redução da desigualdade de renda na última década foi causada por aumento do salário mínimo – que minimizou a desigualdade da previdência social -, a instituição da Bolsa Família, o mercado de trabalho aquecido, o maior acesso à educação e a tendência demográfica favorável, com famílias menores e o mesmo número de pessoas trabalhando. "Os dois primeiros fatores já não contribuem para reduzir a desigualdade, pois os valores estão congelados. O mesmo vale para o mercado de trabalho, que não deve voltar a aquecer até a economia brasileira se recuperar. Por isso, a tendência é que o ritmo de redução da desigualdade diminua", acredita, destacando que o inaceitável é que os índices voltem a aumentar.

Ele concorda, porém, que os estados do Sul possam estar se beneficiando da agricultura familiar consolidada em relação à construção de sociedades mais igualitárias. "São estados onde há pequenas e médias propriedades, com agricultores capitalizados e uma classe média agrícola", considera.

Para evitar retrocesso, o conselho é investir em educação de qualidade, na manutenção dos programas de distribuição de renda e que o apoio ao agronegócio seja concentrado no modelo familiar. "O sistema cooperativo, por exemplo, garante acesso dos pequenos produtores ao mercado das commodities", exemplifica.

folha de londrina
Carolina Avansini
Reportagem Local
UA-102978914-2