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CHUVAS DE JULHO - Um mês depois, cadê os recursos?

Governo do Estado ainda não fez o repasse da verba para reconstrução de moradias nos 28 municípios atingidos pelas tempestades

Fotos: Marcos Zanutto
Na comunidade rural Quilômetro 8, em Francisco Beltrão, as marcas do tornado ainda estão vivas na paisagem e na memória dos moradores
A casa ainda em ruínas: "Nosso objetivo é reconstruir, mas é difícil sem os recursos prometidos", diz filho de um dos proprietários
Francisco Beltrão – Após 30 dias, as marcas da tragédia permanecem visíveis na comunidade rural Quilômetro 8, em Francisco Beltrão (Sudoeste), que foi atingida por um tornado com ventos estimados em 200 km/h no dia 13 de julho. Carros retorcidos, móveis danificados e paredes no chão ainda estão presentes no caótico cenário, modificado pela força imprevisível da natureza. Mas a vontade de recomeçar esbarra na falta de recursos. Assim como Beltrão, os demais 27 municípios paranaenses que declararam estado de emergência por causa das chuvas ainda não receberam a verba prometida pelo governo do Estado.

Procurado pela FOLHA, o Palácio Iguaçu informou que a Defesa Civil do Paraná ainda não concluiu o relatório sobre os danos causados pelas tempestades para solicitar a liberação de verbas com a Secretaria de Fazenda. No mês passado, o governador Beto Richa (PSDB) chegou a visitar a zona rural de Francisco Beltrão após anunciar o repasse de R$ 3 milhões de recursos estaduais para os 28 municípios afetados, durante encontro em Curitiba com o ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi. "A Defesa Civil também informa que já adquiriu telhas. Alguns municípios já receberam o material e outros, por um problema de logística da empresa fornecedora, irão receber nos próximos dias", garantiu a assessoria do governo em nota enviada no final da tarde de ontem à reportagem.

Sem dinheiro, os moradores contam com a solidariedade de desconhecidos e o apoio dos amigos na tentativa de recomeçar do zero. "Recebemos uma doação da comunidade de 50 sacos de cimentos e 12 mil tijolos, mas como nós não temos condição de reconstruir, ainda precisamos de um local para armazenar os materiais para não estragar. Além da casa, o prejuízo foi grande por causa dos carros e do caminhão, que ficou totalmente destruído", afirma o morador de Francisco Beltrão, Manoel Soares, que no dia do tornado estava em uma das casas atingidas na comunidade Quilômetro Oito para comemorar o aniversário de 78 anos do pai. Em poucos segundos, o fenômeno climático destruiu a residência na zona rural e ainda deixou 14 pessoas da família com ferimentos leves. "Meus pais estão morando na minha casa, o nosso objetivo é reconstruir, mas é difícil sem os recursos prometidos", critica.

SÓ A PAREDE
Após receber 1.500 tijolos e 25 sacos de cimento, o pedreiro Antônio Broslavetz reiniciou a construção da residência que foi levada pelos ventos na comunidade rural. "Mais de 90% da casa estava pronta, mas só sobrou uma parede. Eu tive sorte e deixei a construção 20 minutos antes do tornado", lembra. Ele calcula o prejuízo em aproximadamente R$ 40 mil e diz que o proprietário do local está arcando com a maior parte da obra, já que as doações não foram suficientes. "A comunidade recebeu doações de cestas básicas, roupas e outras coisas, mas o que a gente mais precisa neste momento é de material de construção", afirma.

DOAÇÕES
A secretária de Assistência Social de Francisco Beltrão, Ana Lúcia Manfroi, confirma que o município ainda aguarda os recursos do Governo do Estado para reconstrução das casas. Além da comunidade Quilômetro 8, ela lembra que o bairro São Francisco também foi atingido pelo tornado e que a reforma de algumas residencias foi realizada por voluntários com doações de telhas, tijolos e materiais de construção provenientes de todo o Paraná. "A participação da comunidade foi espetacular e viabilizou o início da reconstrução nos locais mais danificados pela força do vento", comenta a secretária, que aguarda a chegada de 2,5 mil telhas do governo estadual.

De acordo com ela, o município recebeu cestas básicas, kits de limpeza e colchões do Ministério da Integração, além da liberação do FGTS e do adiantamento das parcelas do Bolsa Família para os moradores prejudicados. "A Assistência Social também realiza o acompanhamento psicológico de vítimas. Recomeçar pode ser muito difícil para algumas pessoas", comenta.

Em nota, o ministério afirmou que aproximadamente R$ 1,6 milhão foi repassado ao Governo do Estado, responsável pela distribuição aos municípios. De acordo com informações da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec), 1.828 kits de higiene pessoal, 1.828 kits limpeza, 1.883 cestas de alimentos, 950 kits dormitório e 950 colchões foram enviados ao Paraná no primeiro repasse, com valor de R$ 870 mil. "Em 22 de julho, foram autorizados o empenho e o repasse de R$ 784,5 mil ao Governo Estadual para a execução de ações de socorro, assistência às vítimas e restabelecimento de serviços essenciais", acrescenta.

NO ANO PASSADO
O Ministério da Integração Nacional autorizou na última segunda-feira o empenho e a transferência de R$ 36,6 milhões para obras de reconstrução de rodovias danificadas por chuvas intensas no Paraná em junho de 2014. Segundo a Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística (Seil), algumas obras pontuais já foram desenvolvidas para recuperação parcial e manutenção do tráfego, mas outras intervenções dependem do repasse, entre elas, as recuperações das pistas na região de Godoy Moreira (Noroeste). "O recurso será enviado em três parcelas, divididas em 30% do valor dos recursos, 40% e mais 30%", informou a Seil. A Defesa Civil ainda esclareceu que os recursos para recuperação das estradas não podem ser utilizados para a reconstrução de casas e outros prejuízos provocados pelas chuvas no mês passado.

FOLHA DE LONDRINA
Rafael Fantin
Reportagem local
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