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Suco concentrado de laranja processado em Uraí conquista o mercado exterior

Do pomar para o mundo

Suco concentrado de laranja processado em Uraí conquista o mercado exterior; a produção da safra atual é estimada em 6.500 toneladas

Fotos: Gustavo Carneiro
Além do suco, a unidade extrai óleos essenciais da casca para indústrias de cosméticos e tintas; bagaço vai para a produção de ração animal
Satisfeito com os resultados, Osvaldo Kubiraki está trocando a área de 1,5 alqueire de café por mais espaço para as laranjas
Uraí - A todo vapor, trabalhando em três turnos, a Unidade Industrial de Sucos (UIS) da Cooperativa Integrada, em Uraí, estima processar até o final da safra, em fevereiro do ano que vem, 6.500 toneladas de suco concentrado congelado de laranja. Com a produção dirigida ao mercado externo (apenas uma pequena porcentagem é disponibilizada para o consumo dos cooperados), os contêineres saem diretamente da fábrica para os portos. No prazo médio de um mês, o produto está disponível ao importador para que ele faça a "reconstituição" do suco – adicionando ingredientes como água e açúcar – e criando seu "blend" particular sob marca própria. O mercado consumidor inclui mais de 20 países da Europa, da Ásia, do Oriente Médio e da América Latina.

A expectativa é processar de 1,8 milhão a 2 milhões de caixas de laranjas nesta safra (capacidade nominal da indústria). A produção dos 130 cooperados de 26 municípios das regiões norte e norte pioneiro (que engloba em torno de 600 mil plantas em 1.300 hectares) representa metade da demanda: o restante é comprado de produtores cadastrados de outros municípios do Paraná e do sudoeste de São Paulo.

"Isso demonstra o quanto ainda podemos crescer na produção local. A Integrada foi a única indústria de suco que se instalou em uma região em que não havia previamente uma grande área produtora de laranja, mas acreditou no negócio como forma de incentivar a diversificação de culturas agrícolas na região. A laranja é uma commodity que merece ser valorizada pela sua estabilidade e pelo seu retorno", destaca o gerente industrial Paulo Antonio Rizzo.

Hoje, o preço da laranja está cotado entre US$ 1.600 e US$ 1.700/tonelada (posto no porto); há dois anos, a commodity chegou a ser negociada a US$ 2 mil/t. "Outra vantagem é a ‘janela de colheita’ que a laranja permite, podendo a fruta ficar no pé até dois meses após a maturação; diferentemente dos cereais, que exigem uma colheita mais rápida e sentem mais a instabilidade do tempo", observa Rizzo.

Em funcionamento desde 2013, a indústria – atualmente a única do Norte do Paraná - contou com projeto de incentivo aos cooperados para o plantio de mudas de laranja a partir de 2008 para que em cinco anos os laranjais da região já estivessem em ponto de maturação para começar atender a demanda industrial. "Trabalhamos com variedades de colheita precoce, como a Iapar 73, taquari; intermediária, como a laranja pera, e vamos seguindo até o final da safra com variedades mais tardias, como folha murcha, valência e natal. A ideia é que sempre tenhamos produtos frescos durante toda a safra e fazemos um controle rigoroso do momento certo de colheita, com testes de amostragem que atestam quantidade de açúcar e acidez adequada", explica Rizzo. A unidade fabril tem hoje 55 funcionários, sendo que, de forma indireta, estima-se que a atividade envolva aproximadamente 400 pessoas durante a safra.



NO ESTADO
O engenheiro agrônomo do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura do Estado (Seab), Paulo Andrade, lembra que o Paraná até agora não conseguiu atingir a meta de área, estabelecida em meados de 1990, de 30 mil hectares de laranja (hoje a área é de 26,6 mil ha), mas acredita no potencial da laranja. "Com a redução gradativa da produção de laranja na Flórida, a demanda dos mercados norte-americano e europeu tendem a aumentar e a laranja produzida no Paraná, devido à variabilidade climática, confere um suco mais encorpado que é bastante valorizado. O produtor paranaense ainda é cauteloso no investimento em culturas perenes, mas é importante se organizar e ter uma mudança de visão de médio e longo prazos", pontua. "A Integrada teve uma ação ousada, baseada em estudos de mercado, que fortalece o sistema cooperativista, diferentemente do que acontece em São Paulo, e promove a diversificação da atividade agrícola", acrescenta. Na safra paranaense do ano passado, foram produzidas 958,4 mil toneladas de laranja.

PRODUÇÃO INDUSTRIAL
Localizada na PR-442, km 17, em uma área de 15 mil metros quadrados, que custou investimentos em torno de R$ 20 milhões, a unidade fabril segue rigorosos padrões de qualidade. Do momento em que o caminhão descarrega as laranjas até o armazenamento do suco em tonéis de aço em câmara fria a menos de 20 graus – já prontos para o carregamento – um detalhado processo está por trás.

Na fase inicial, as laranjas são lavadas e classificadas por tamanho. Por esteira mecânica, seguem para a sala de extração refrigerada onde diversas máquinas retiram o suco de cada uma das laranjas sem que haja o contato com a casca, que é automaticamente separada, assim como o bagaço. Da casca, serão extraídos óleos essenciais, que são destinados à indústria de cosméticos e perfumaria, e o D-Limoneno, que é utilizado como base para tintas, vernizes e outros produtos da indústria química. Já o bagaço é utilizado como ração animal.

Após análises físico-químicas e microbiológicas feitas em laboratório próprio, que certificam a qualidade de cada remessa de suco (cada lote recebe um ‘score’ com detalhes sobre coloração, sabor, açúcar e acidez, entre outras características), o produto é mantido em tanque de 26 toneladas até seguir para o envase em tonéis de aço que serão armazenados na câmara fria até o momento de serem transportados para exportação.

Amostras de cada lote são preservadas para que possam ser enviadas de avião quando os clientes solicitam. "Hoje mesmo iremos encaminhar amostras para um cliente de Israel. O produto é embalado em gelo gel e em sete dias já pode ser testado pelo cliente", observa Rizzo.

Em um manejo sustentável, o que sobra é a água da laranja que é reaproveitada em todo processo até ser utilizada para irrigar plantação de cana-de-açúcar em área anexa à indústria. "Ainda é possível aproveitar muita coisa da laranja e já estamos estudando sobre a produção das ‘células’ congeladas da laranja, que são os gominhos que podem ser adicionados ao suco e reforçar aquela sensação de frescor da bebida", adianta o gerente industrial.


Ana Paula Nascimento
Reportagem Local-folha de londrina
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