Itambaracá tenta conter avanço da dengue
Município é um dos sete do Estado que enfrentam epidemia da doença

Lixo espalhado por Itambaracá aumenta risco de formação de focos do mosquito Aedes aegypti

A doméstica Maria Helena Oliveira Campos teve dengue no ano passado e conta que redobrou os cuidados para evitar a forma hemorrágica da doença
Itambaracá - A agente de endemias de Itambaracá, Josiana Aparecida Rodrigues, de 29 anos, está preocupada com a saúde da filha Maria Clara, de apenas 3 anos, que está com dengue. Ela é mais uma a engrossar as estatísticas de casos confirmados da doença no município, que tem 52 casos notificados, dos quais 25 foram confirmados, todos autóctones. O crescimento do número de casos levou o comitê de combate à doença, que se reúne de dois em dois meses, a fazer uma reunião de emergência na segunda-feira para definir ações para conter a epidemia da doença.
Incidência superior a 300 casos por 100 mil habitantes indica ocorrência de epidemia. Segundo informe da Secretaria de Estado da Saúde, a taxa em Itambaracá é de 363 casos por 100 mil habitantes. O município está entre os sete do Estado com epidemia confirmada. A coordenadora do programa de combate à dengue no município, Raquel Matsubara, alerta que esses números devem aumentar ainda mais.
Maria Clara apresentou os primeiros sintomas da dengue no dia 5 de janeiro. "Levei ela na unidade básica de saúde e o médico falou que ela estava com a garganta inflamada. Mas a febre não baixava e ela começou a ter dores de cabeça, dores na barriga, não estava se alimentando. E olha que ela é comilona. Ela ficava só deitada, com dores nas pernas", relatou Josiana. "A gente desconfiou que poderia ser dengue. Fizemos o teste rápido e o resultado foi positivo", acrescentou Raquel Matsubara. A garota foi hidratada com soro fisiológico e vem apresentando melhoras.
Josiana expôs que já contraiu dengue no ano passado e outras pessoas da equipe também. "Ninguém vai escapar. Todo mundo está sujeito a pegar a doença", afirmou. Ela revela que ao constatar que a filha estava com dengue, foi realizado o bloqueio para tentar conter a propagação da doença. "Fizemos o bloqueio em um raio de 300 metros ao redor da minha casa e encontramos focos do mosquito", declarou.
A doméstica Maria Helena Oliveira Campos, de 57 anos, também teve dengue no ano passado e conta que redobrou os cuidados para evitar a forma hemorrágica da doença. "Da minha casa eu cuido, mas a gente não pode cuidar das casas dos outros. Lá no meu sítio nunca encontrei larva e os agentes que combatem a dengue que foram lá também não encontraram", garantiu. Ela assegura que nunca deixa objetos acumularem água em seu quintal. "Não deixo nem tampinha de garrafa no chão. Recolho tudo. Não tenho cachorro e nem gato para deixar vasilha com água. Vaso de flores eu também não tenho. Atrás da geladeira sempre estou verificando", declarou.
Já a dona de casa Leonilda Dalaqua, de 56 anos, conta que também está preocupada. Ela conta que nunca havia conhecido alguém que tivesse contraído a doença até que, em dezembro do ano passado, o genro foi picado pelo mosquito. "Há pouco mais de duas semanas ele dormiu fora, em um lugar próximo a uma mata. Então ele não sabe se contraiu lá, naquela noite", relatou.
A equipe de agentes de endemias relata que são inúmeras as desculpas dos moradores para não eliminar os criadouros. Josiana aponta que os moradores não aceitam que os agentes corrijam os maus hábitos deles. "Não são todos, mas a maioria não aceita e nem liga. Se achamos alguma coisa na casa deles, eles começam a acusar os vizinhos", criticou.
CHUVAS
A secretária de Saúde de Itambaracá, Célia Maria Santini de Andrade, diz que não tem noção ainda do que tem provocado a epidemia, já que a equipe de endemias tem realizado "tudo o que pode para conter o avanço da doença". "Os agentes trabalham bem. Eles trazem os problemas e a gente procura resolver. Posso garantir que não foi falta de empenho no serviço, pois o trabalho é muito bem feito", assegurou. Ela acredita que um dos fatores que pode ter contribuído para a evolução da doença no município é o aumento das chuvas. "Tem chovido muito. Tudo quanto é copo ou buraco fica cheio de água e, como faz muito calor, acaba formando um ambiente ideal para a reprodução do mosquito", apontou. Ela explica que não há como os agentes realizarem as visitas nem a aplicação de fumacê em dias de chuva. O problema é que a pulverização deve ser feita em baixas temperaturas, de até 25ºC e que o veneno fica apenas 20 minutos no ar. "Essa pulverização só atinge os mosquitos, mas não adianta nada se os moradores não eliminarem os criadouros. Em 2015, entre maio e junho passamos três vezes o veneno na cidade inteira. Essa pulverização é inseticida, não é larvicida", apontou.
Célia Andrade afirma que a pasta tem adotado todos os meios de divulgação possíveis para tentar conscientizar a população sobre os perigos da doença, mas não tem obtido sucesso. "Aqui em Itambaracá, as pessoas não acreditam que possam pegar a dengue. A gente fez tudo o que podia fazer. Fomos à rádio, fizemos arrastões, chamamos o Tiro de Guerra, fomos até a igreja e nada disso adiantou. Não sei por que isso acontece", expôs. Em alguns casos, aponta ela, os agentes são até hostilizados.
O agente de saúde Paulo Ribeiro Lopes destaca que tem encontrado focos do mosquito nos mais diversos locais. "Já encontrei em pneus, vasos sanitários, tanques, atrás de geladeiras, árvores, latas de tinta, entre outros", enumerou.
Vítor Ogawa
Reportagem Local-FOLHA DE LONDRINA
Reportagem Local-FOLHA DE LONDRINA


