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Maioria dos brasileiros prefere trabalhar em casa ou fora da empresa

Em pesquisa do Ibope encomendada pela CNI, entrevistados dizem que aceitam trabalhar mais horas em troca de folga e reduzir horário de almoço para sair mais cedo

David Alves/Fotos Públicas
Para CNI, pesquisa reafirma necessidade de o País modernizar as relações de trabalho; sindicatos veem flexibilização como precarização

Sete em cada dez brasileiros gostariam de ter flexibilidade de horário de trabalho. A mesma proporção teria preferência por trabalhar em casa ou em local alternativo à sede da empresa. E 58% gostariam de fragmentar as férias em mais de dois períodos no ano. Os dados fazem parte de uma pesquisa feita pelo Ibope, por encomenda da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada ontem.
Apesar de desejarem um horário de trabalho flexível, segundo o levantamento, somente 38% dos trabalhadores com emprego formal têm essa possibilidade. Já, entre os informais, são 76%. De acordo com o Ibope, 42% dos que têm vínculo formal contam com flexibilidade em relação ao local do trabalho. Naturalmente, entre os informais, essa porcentagem sobe para 74%.
O Ibope também revela outras situações sobre as quais os brasileiros aceitariam regras mais flexíveis: 58% gostariam de poder entrar em acordo com o chefe para reduzir o horário de almoço e sair mais cedo; 63% gostariam de poder fazer o mesmo para trabalhar mais horas por dia em troca de mais folgas na semana; e 62% aceitariam receber o vale-transporte diretamente em dinheiro.
Por outro lado, a celebração de acordos coletivos para redução de jornada de trabalho em tempos de crise não é aceita pela maioria dos brasileiros. De acordo com a pesquisa, só 43% concordam com essa possibilidade.
A gerente-executiva de Relações do Trabalho da CNI, Sylvia Lorena, considera que a pesquisa reafirma a necessidade de o País modernizar as relações de trabalho. "Os brasileiros querem valorizar a negociação entre as empresas e trabalhadores de modo a poder ajustar sua rotina de trabalho", declara. Ela lembra que a legislação trabalhista atual é da década de 1940. "Está desatualizada, não acompanhou as novas formas de se trabalhar, produzir e competir. Precisa ser modernizada", defende.
Lorena ressalta que o Ibope mostrou altas porcentagens de apoio à flexibilização da legislação trabalhista e que essa é uma das principais "agendas" da CNI. "O importante é deixar claro que flexibilizar mediante negociação não significa suprimir direitos."

Sindicatos
Mas não é essa a visão dos sindicatos. "Flexibilizar é precarizar", declara a presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Paraná, Regina Cruz. Segundo ela, a central é a favor de "algumas mudanças", desde que os direitos dos trabalhadores sejam preservados. Para Regina, o momento em que a pesquisa foi feita por encomenda da CNI tem "simbolismo". "É um golpe. A campanha da Fiep (Federação da Indústria do Estado do Paraná) traz o pato. Os empresários não querem pagar o pato, querem que o trabalhador pague", acusa.
Nelson Silva de Souza, o Nelsão, presidente da Força Sindical no Paraná, também diz ser contra flexibilizar a legislação. "Fazer essa pesquisa neste momento de crise é temeroso porque o trabalhador está abalado, preocupado com o emprego", questiona. Segundo ele, se fosse feita há dois anos, "quando a produção estava bombando", o resultado seria outro. "A Força Sindical no Paraná é contra a flexibilização", avisa.
Nelsão, que é funcionário da Volvo desde 1980, conta que existe flexibilização na empresa. "Mas foi discutida durante 20 anos com o sindicato." Nesta perspectiva, segundo ele, regras flexíveis são benéficas para ambas as partes. "Mas, em categorias cujo sindicato de trabalhadores é fraco, a vantagem é só para a empresa", afirma.

Nelson Bortolin
Reportagem Local/FOLHA DE LONDRINA
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