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Acidente alerta para formação de motoristas


Legislação prevê inspeção de caminhões e capacitação periódica para quem transporta cargas perigosas

Divulgação/PRF
Desastre com um caminhão-tanque carregado de etanol na BR-277 envolveu 12 veículos e resultou na morte de seis pessoas

O acidente com um caminhão-tanque carregado de etanol na BR-277, no domingo, em Morretes (Litoral), que envolveu 12 veículos e resultou na morte de seis pessoas, chama a atenção para a necessidade de investir na formação de motoristas profissionais. Fontes ouvidas pela FOLHA apontam que, ao que tudo indica, o acidente foi causado por um erro básico na direção de caminhões. Em serras, os veículos devem descer com freio motor engrenado para não ganhar muita velocidade. Caso contrário, perdem a capacidade dos freios ao final da descida, o que pode resultar em tragédia.
Gilberto Cantú, presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas no Estado do Paraná (Setcepar), alerta para a necessidade de investir no treinamento dos motoristas. "As falhas humanas podem acontecer, por mais que as empresas sigam as normas. Os motoristas são mal preparados", critica ele, que considera também a fiscalização das leis bastante falha. "Ainda há muita impunidade em relação a motoristas que provocam acidentes, não só no setor de cargas, mas no trânsito em geral", diz.
Ciente de que é preciso investir em capacitação, o sindicato mantém há oito anos um instituto para formação de condutores profissionais. O problema, segundo ele, é que a base de atuação da entidade tem 10 mil empresas e apenas 450 são sindicalizadas. "Esse tipo de curso deveria ser oferecido em uma escala gigantesca. A formação dos motoristas, no Brasil, é mal feita", insiste.
Cantú avalia que os caminhões oferecem um potencial gigante de estragos, em caso de acidentes, e também são os responsáveis por transportar os maiores ativos das empresas da área de logística, o que aumenta a importância da formação dos profissionais. "Falta consciência sobre a necessidade de investir em segurança e treinamento", critica, lembrando que os motoristas clandestinos são outro problema para a segurança nas estradas. "Eles não respeitam sequer a lei do descanso", lamenta, referindo-se à legislação que impõe obrigatoriedade de descanso de 11 horas a cada 24 horas trabalhadas, sendo 8 delas ininterruptas.

LEI
No Brasil, o transporte de cargas perigosas é regulado pela lei 96.044, que dispõe sobre a necessidade de inspeção regular do veículo e também obriga os motoristas a fazerem cursos periódicos de capacitação. O engenheiro mecânico especializado em transportes Rubem Penteado de Melo explica que se enquadram na categoria produtos como combustíveis líquidos, GLP, lixo hospitalar, ácidos e produtos químicos, como é o caso de tintas, entre outros materiais. A fiscalização é rígida e as multas são pesadas. Mesmo assim, acidentes evitáveis continuam acontecendo por falhas humanas ou até mesmo negligência na manutenção dos carros.
Os veículos destinados ao transporte de cargas perigosas são inspecionados na parte mecânica, freios, pneus e sinalização sobre o tipo de carga transportada. "O tanque também precisa de um certificado específico", esclarece, destacando que, no Brasil, ao contrário da maioria dos países com grandes frotas, os caminhões para as chamadas cargas gerais não passam por inspeção. "A regra só é válida para as cargas perigosas", reforça.
Ele destaca que, apesar dos veículos passarem por inspeção, cabe às empresas fazer manutenção antes do prazo caso haja alguma falha mecânica. No caso do acidente na BR-277, investiga-se a hipótese de ter havido um problema nos freios.
Já os motoristas que trabalham com esse tipo de material são obrigados a fazer cursos de capacitação periódicos chamados de MOPP (Movimentação de Produtos Perigosos). Nestes treinamentos, eles aprendem técnicas de condução segura e também como proceder no caso de acidentes, desde dicas sobre a sinalização da rodovia até os primeiros socorros.
Penteado relata que acidentes em serras são muito comuns justamente porque os motoristas fazem a descida de forma errada. "Eles descem sem usar o freio motor, confiando apenas no freio de pé, que superaquece e falha. Tem que usar freio motor e carga reduzida para não ganhar velocidade", ensina. Para os carros de passeio que circulam em serras onde há caminhões, ele dá algumas dicas importantes de segurança. "Fique atento ao cheiro de lona queimada ou fumaça nas rodas dos caminhões, porque são sinais de que o veículo está perdendo a capacidade nos freios. Além disso, nunca compartilhe curvas com caminhões", alerta.
Carolina Avansini
Reportagem Local/FOLHA DE LONDRINA

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