Reinventar-se é preciso
Aos 68 anos, Bento Carmo Bisca é um pequeno produtor paranaense que tem a capacidade de se inventar. Por nenhum instante ao longo de toda a sua vida na lavoura - "desde que ele se conhece por gente" -, pensou em apostar em outra atividade longe da terra. Não que tenha sido fácil: já investiu em leite, abacaxi, produção de ovos... mas foi na sericicultura, com a criação do famigerado bicho-da-seda, que ele se encontrou e hoje já se tornou referência para a região, com sua propriedade em Astorga.
Sua área total conta com 6,5 alqueires, sendo que três alqueires são dedicados à produção de amora, alimento do bicho-da-seda. Na propriedade, eles trabalham em quatro pessoas. Além de Bento, estão a esposa, um dos três filhos que permaneceu firme na propriedade e a nora. Com muita dedicação, eles conseguem produzir por volta de 780 quilos de casulos, em dois barracões, a cada 25 dias. Toda a produção é entregue à Bratac, única fiação de seda do Estado que sobreviveu ao longo dos anos e que trabalha em parceria com os produtores, oferecendo inclusive, assistência técnica.
Para ele, a maior qualidade do produtor rural de pequeno porte é não desistir frente às adversidades que, por ventura, surjam. No abacaxi, ele teve problemas de contaminação das mudas; com os ovos, o preço do farelo ficou caro demais para alimentar as galinhas; e no leite houve dificuldades de produção. "Estou com a sericicultura há 40 anos e chegou um momento em que resolvi me dedicar apenas a esse trabalho. Criei meus três filhos dentro do barracão. No início foi difícil, vendia o almoço para comprar a janta, mas foi o bicho-da-seda que me deu tudo que tenho hoje."
O pedaço de terra deixado pelo pai foi dividido entre os irmãos. Mas Bento acabou comprando a parte de todos eles, pois só ele permaneceu firme no negócio. Para sobreviver e prosperar, ele conta que foi preciso mudar muita coisa ao longo do anos. O investimento na produção e a tecnificação dos barracões foram peças-chave neste processo. "Antes, em torno de 70% da atividade era braçal. Hoje cortamos a amora com máquinas, limpamos o barracão com o trator e os casulos são retirados automaticamente. Gastei em torno de R$ 8 mil. Aliás, foi no ano passado que eu e meu filho decidimos construir o segundo barracão."
Outro acontecimento importante foi há cerca de três anos, quando teve início a participação da empresa Bratac junto aos sericicultores da região. A atividade ficou ainda mais intensa, com todo o controle dos levantamentos econômicos, auxílio de técnicos no manejo em uma parceria com o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) e Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), por meio das Redes de Referência para Agricultura Familiar. A propriedade da família acabou se tornando um modelo a ser seguido pelos outros parceiros que estão na atividade. "Já estão me propondo, inclusive, que façamos alguns dias de campo aqui na propriedade para mostrar o nosso trabalho aos demais, diz o sericicultor.
Mas não é porque a família já é uma referência, que a vida é fácil e não precisa de trabalho intenso, muito pelo contrário. "Quando os barracões estão cheios e os bichos-da-seda estão na quinta idade, às cinco horas da manhã já estamos no barracão. Aí vamos até às dez horas da noite tranquilamente. Em propriedade pequena, é preciso vontade de trabalhar e colocar a mão na massa. Investir em soja e milho não dá retorno neste formato."
E será que todo esse trabalho dá retorno financeiro adequado? Pela condição econômica da família Bisca, a resposta é positiva. "Se estivesse na cidade, longe da propriedade, não teria uma vida boa assim. Viajo para praia, para a casa dos meus parentes e o dia que quero comer um frango caipira ou uma leitoa, tenho à disposição. Eu vivo muito bem e com fartura", se alegra Bisca.
NÚMEROS
A produção brasileira de casulo de bicho-da-seda na safra 2014/15 foi de 2,9 mil toneladas, o Paraná respondeu por 2,4 mil toneladas, o que corresponde a 82,7% do total. Segundo dados do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab), houve um crescimento de 9% na produção do Paraná no ciclo. No último levantamento estadual, verificou-se a presença da sericicultura em 174 municípios, envolvendo cerca de 1,79 mil sericicultores em uma área de 3.730 hectares (ha) de amoreiras.
Sua área total conta com 6,5 alqueires, sendo que três alqueires são dedicados à produção de amora, alimento do bicho-da-seda. Na propriedade, eles trabalham em quatro pessoas. Além de Bento, estão a esposa, um dos três filhos que permaneceu firme na propriedade e a nora. Com muita dedicação, eles conseguem produzir por volta de 780 quilos de casulos, em dois barracões, a cada 25 dias. Toda a produção é entregue à Bratac, única fiação de seda do Estado que sobreviveu ao longo dos anos e que trabalha em parceria com os produtores, oferecendo inclusive, assistência técnica.
Para ele, a maior qualidade do produtor rural de pequeno porte é não desistir frente às adversidades que, por ventura, surjam. No abacaxi, ele teve problemas de contaminação das mudas; com os ovos, o preço do farelo ficou caro demais para alimentar as galinhas; e no leite houve dificuldades de produção. "Estou com a sericicultura há 40 anos e chegou um momento em que resolvi me dedicar apenas a esse trabalho. Criei meus três filhos dentro do barracão. No início foi difícil, vendia o almoço para comprar a janta, mas foi o bicho-da-seda que me deu tudo que tenho hoje."
O pedaço de terra deixado pelo pai foi dividido entre os irmãos. Mas Bento acabou comprando a parte de todos eles, pois só ele permaneceu firme no negócio. Para sobreviver e prosperar, ele conta que foi preciso mudar muita coisa ao longo do anos. O investimento na produção e a tecnificação dos barracões foram peças-chave neste processo. "Antes, em torno de 70% da atividade era braçal. Hoje cortamos a amora com máquinas, limpamos o barracão com o trator e os casulos são retirados automaticamente. Gastei em torno de R$ 8 mil. Aliás, foi no ano passado que eu e meu filho decidimos construir o segundo barracão."
Outro acontecimento importante foi há cerca de três anos, quando teve início a participação da empresa Bratac junto aos sericicultores da região. A atividade ficou ainda mais intensa, com todo o controle dos levantamentos econômicos, auxílio de técnicos no manejo em uma parceria com o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) e Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), por meio das Redes de Referência para Agricultura Familiar. A propriedade da família acabou se tornando um modelo a ser seguido pelos outros parceiros que estão na atividade. "Já estão me propondo, inclusive, que façamos alguns dias de campo aqui na propriedade para mostrar o nosso trabalho aos demais, diz o sericicultor.
Mas não é porque a família já é uma referência, que a vida é fácil e não precisa de trabalho intenso, muito pelo contrário. "Quando os barracões estão cheios e os bichos-da-seda estão na quinta idade, às cinco horas da manhã já estamos no barracão. Aí vamos até às dez horas da noite tranquilamente. Em propriedade pequena, é preciso vontade de trabalhar e colocar a mão na massa. Investir em soja e milho não dá retorno neste formato."
E será que todo esse trabalho dá retorno financeiro adequado? Pela condição econômica da família Bisca, a resposta é positiva. "Se estivesse na cidade, longe da propriedade, não teria uma vida boa assim. Viajo para praia, para a casa dos meus parentes e o dia que quero comer um frango caipira ou uma leitoa, tenho à disposição. Eu vivo muito bem e com fartura", se alegra Bisca.
NÚMEROS
A produção brasileira de casulo de bicho-da-seda na safra 2014/15 foi de 2,9 mil toneladas, o Paraná respondeu por 2,4 mil toneladas, o que corresponde a 82,7% do total. Segundo dados do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab), houve um crescimento de 9% na produção do Paraná no ciclo. No último levantamento estadual, verificou-se a presença da sericicultura em 174 municípios, envolvendo cerca de 1,79 mil sericicultores em uma área de 3.730 hectares (ha) de amoreiras.
Victor Lopes
Reportagem Local/FOLHA DE LONDRINA
Reportagem Local/FOLHA DE LONDRINA