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Agricultura sintrópica chega ao Paraná

Pelo sistema, em um talhão é possível ter um mix de cultivo de produtos, como eucalipto, bananeiras, hortaliças, frutas, olerícolas, grãos, tudo no mesmo lugar


Não há como negar: a agricultura convencional é movida pela monocultura e invariavelmente realizada pela implementação de insumos e agroquímicos para que o sistema mantenha altos níveis de produtividade das commodities. Áreas produtivas e florestas – mesmo com todo foco na importância da preservação ambiental e legislação específica – são vistas, de forma quase unânime, como antagônicas. Ou seja, floresta normalmente é compreendida como um lugar em que não é possível produzir alimentos.

Um conceito que está mudando de forma gradativa a partir da agricultura sintrópica, um modelo de produção desenvolvido e implementado no Brasil pelo suiço Ernst Götsch, na Bahia. A premissa é a possibilidade de trabalhar a favor da natureza e não contra ela – associando cultivos agrícolas e florestais com alta produtividade e sem insumos externos – dependo apenas dos processos que a natureza usa, como biodiversidade, cobertura de solo, estratificação, etc. Ferramentas que estão dentro da sucessão ecológica natural.



O trabalho de Götsch foi disseminado primeiramente na internet, com um vídeo divulgado no final de 2015 que hoje ultrapassa 200 mil visualizações. Mas o "boom" aconteceu ao longo do ano passado, quando o tema foi discutido na novela Velho Chico. Hoje, pessoas ligadas a Ernst promovem cursos de agricultura sintrópica por todo o País, direcionada a produtores que buscam um modelo perfeito entre natureza e produção agrícola. No Paraná, inclusive na região de Londrina, alguns agricultores já iniciam o trabalho em pequenas áreas, mas já há casos de produção em larga escala no País. O exemplo mais conhecido é da Fazenda da Toca, na cidade de Itirapina (SP), do empresário e ex-piloto de Fórmula 1, Pedro Paulo Diniz.

Biólogo e produtor rural em Brasília (DF), Juã Pereira, está ligado diretamente a Ernst Götsch e hoje realiza cursos de agricultura sintrópica pelo País. Inclusive no segundo semestre estará na região de Londrina. Em 2004, ele conheceu o trabalho do suíço e ficou completamente impactado. Hoje, sua propriedade de cinco hectares se tornou um modelo de agricultura sintrópica, no que ele define como uma "floresta de comida". "Estamos investindo na recuperação de áreas e produzindo florestas de comida; um sistema bem diferente de reflorestamento. De forma simples, estamos sendo inteligentes e utilizando a natureza para produzir alimentos", resume.

No sistema de agricultura sintrópica em um simples talhão é possível ter um mix enorme de produtos, como eucalipto, bananeiras, hortaliças, frutas, olerícolas, grãos, tudo no mesmo lugar. "Podemos começar do simples e deixar o sistema mais complexo, colocando árvores, produzindo biomassa e melhorando o solo sem trazer insumos de fora, diminuindo a zero a necessidade de adubo, irrigação, defensivos, fazendo que o sistema funcione sozinho."

Segundo Juã, na primeira semana de trabalho já é possível ver um crescimento diferenciado das plantas, com diminuição de pragas e doenças, produtos mais sadios, maiores que a média e colheitas rápidas. "Hoje eu colho rúcula com 18 dias, rabanete com 25 e alface com 30 dias. Nas feiras de orgânicos que frequento, os clientes dizem que os produtos duram mais na geladeira, o alface está mais firme, o morango é mais doce, a mandioca é mais graúda, ou seja, tudo é melhor. Com dois meses, colho mais de sete produtos diferentes numa mesma área, o sistema já está se pagando com três meses e o retorno financeiro começa a acontecer".
Victor Lopes
Reportagem Local/FOLHA DE LONDRINA

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