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CAFEEIROS - Sustentável por muitas vidas

Adenir e Jean Rafel Crespo: investimentos na melhoria da produção e da produtividade dos cafeeiros como forma de garantir renda e manter toda a família no campo


Respeitar o ambiente garante sustentabilidade e continuidade ao trabalho no campo. A terceira geração da família Crespo começa a escrever a própria história na área rural de Cambira, Região Metropolitana de Maringá, com a lógica da convivência pacífica, mas ativa, com o solo que lhe garante o ganha pão. Exemplo que serve de inspiração e de homenagem aos bons e éticos homens e mulheres lembrados em cada 28 de julho, no Dia do Agricultor.

A sustentabilidade na agropecuária passa a ser tema recorrente e obrigatório para entidades e produtores rurais, principalmente com o aumento dos sinais de mudanças climáticas por interferência humana. Cuidar do solo, das fontes de água e reduzir o uso de agroquímicos por meio de análises técnicas de plantas e solo são apenas algumas das medidas que garantem o futuro e a sucessão no campo.

É o caso de Adenir Crespo. Depois da morte do pai, ele assumiu a propriedade de 21 hectares de café, em Cambira. Aos poucos, buscou tornar cada vez mais rentável o trabalho, para facilitar a sobrevivência da família, que aumentou ao longo dos anos. "Meus irmãos eram todos solteiros, então acabei de ajeitar o lado deles. Depois foi casando um irmão, ficou junto da gente, casou o outro, ficou junto, e agora estão casando os filhos e sobrinhos, que estão ficando junto", diz.

Hoje são 33 hectares que garantem o sustento de oito famílias, entre filhos, sobrinhos e irmãos, que somente prosperam porque aplicam a cada dia novas ações de proteção ao solo, à água e ao ambiente. "Sair hoje daqui, com pouco estudo, é difícil, então o caminho é ficar onde se tem condições de ter uma vida de razoável para boa", conta. "Conseguimos uma renda para tocar o ano e, de repente, adquirir alguma coisa no fim do ano", completa.

Os Crespo sempre fizeram o plantio de café em nível, com curvas pequenas e pouco elevadas, para facilitar a mecanização, e integradas ao carreador, com lombadas. Todos os agroquímicos usados são indicados por técnicos após análise de solo e de plantas e as minas d'água são protegidas por vegetação. Porém, o grande salto de produtividade ocorreu, mesmo, há cinco anos.

A dificuldade em encontrar mão de obra levou a família Crespo a implantar neste ano a mecanização na lavoura
A dificuldade em encontrar mão de obra levou a família Crespo a implantar neste ano a mecanização na lavoura


TÉCNICA E TECNOLOGIA
Quando a família comprou uma propriedade de café de 21 hectares, em Minas Gerais, o aprendizado recomeçou. "Costumávamos carpir entre as ruas, deixar todas limpas, e lá era diferente. Lá, eles deixam o mato e só roçam e limpam, sem carpir, para a colheita", conta.

A mudança parece pequena, mas garante, justamente, a saúde do solo. Sem a capina, o mato chega a um metro durante a condução da plantação e evita que a chuva atinja diretamente ao solo. Ainda, a raiz da vegetação favorece a absorção de água e garante uma reserva mesmo para períodos de seca. Durante a colheita, são feitas até quatro roçagens para facilitar o trabalho e a matéria morta também ajuda a conservar o solo.

O resultado neste ano é uma previsão de 60 sacas de 60 quilos de café limpo por hectare. Segundo Adenir, é o dobro do registrado na região e próximo ao máximo obtido por produtores mineiros. "Claro que foi um ano muito bom em condições de chuva, mas nossa lavoura é diferenciada. Se comparar a nossa com a de um vizinho, você vai ver a diferença a olho nu."

A previsão dele é passar de 1,2 mil sacas nesta safra, bem acima das 480 de 2016 e das 930 de 2015. Ainda, com a produção em escala, a família passou a fornecer para um intermediário que faz exportação, com qualidade arábica tipo 6 duro. A cotação na última quinta-feira no mercado físico de Maringá estava em R$ 440 por saca. "A ideia é aumentar a área de café para onde tivermos área, porque é uma cultura que remunera bem o produtor e dá condição para a família ficar na propriedade", diz Adenir. "O milho ou a soja são inviáveis para oito famílias em 33 hectares."



Prosperidade garante sucessão
A produtividade e prosperidade garantem a sucessão familiar para a família Crespo. O pai, Adenir, atua mais com a administração e serviços bancários, enquanto os filhos, sobrinhos e irmãos dele buscam mais soluções para o trabalho com o café. "Quero que meus filhos e os filhos deles possam permanecer na atividade. Quer dizer, é um sonho meu e não sei se vai ser assim, mas nosso objetivo é cuidar bem para que as futuras gerações possam continuar a trabalhar na cultura", diz Adernir.

Um dos filhos dele, Jean Rafael Crespo, mostra estar de acordo com o sonho do pai. "Nasci no campo, sempre fiquei aqui e minha intenção é continuar na lavoura de café", conta. Para ele, a qualidade de vida na zona rural é muito superior à vida urbana. "Se precisar de alimento, é você que produz, criamos animais no sítio e internet, hoje, tem em qualquer lugar", afirma.

Ainda, Jean traz do pai a consciência de que o cuidado com o ambiente é que garante o futuro e a prosperidade da propriedade.

MECANIZAÇÃO
A dificuldade em encontrar mão de obra é um dos principais desafios para a cafeicultura, segundo a família. Por isso, Jean e os companheiros de lida, o irmão, Thiago Henrique Crespo, os primos Adriano de Moraes Crespo, Renan Alessandro Crespo e Evandro Moraes Crespo, os tios Devair e Debarci Crespo, além do pai Adenir, começaram a implantar neste ano a mecanização na lavoura. "Trouxemos a modernização do uso de máquinas, porque adquirimos uma de recolher café do chão e não precisamos mais ficar abanando os grãos", diz Jean.

Mesmo a roçagem do mato nas ruas entre os pés é feita por um trator cafeeiro. Adenir conta que a propriedade que a família tem em Minas Gerais é 100% mecanizada, mas como a área em Cambira é em declive, ele espera chegar a 70% na região. "Vai diminuir muito a mão de obra e isso vai propiciar a chance de abrirmos mais áreas e plantar mais café", conta o pai.

Hoje, o maior trabalho da família é derriçar os grãos das árvores, o que também fazem com maquinário próprio e alinhar o café para o meio da rua. "A máquina já colheu 2,5 mil saquinhos em menos de três semanas. Se fosse pagar por trabalhador, seria R$ 6 por saquinho e daria R$ 15 mil, o que significa que economizamos bem acima da parcela que vamos pagar por ano", diz Adenir. "Para colher o mesmo tanto na mão, demoraríamos três meses", completa Jean. (F.G.)
Fábio Galiotto
Reportagem Local/FOLHA DE LONDRINA

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