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Só 2,6% dos alunos superdotados do PR têm atendimento especializado

Dos 39 mil estudantes superdotados/com altas habilidades existentes no Paraná, apenas 1.021, do sexto ano do ensino fundamental ao terceiro ano do ensino médio, são atendidos nas 108 salas multifuncionais para altas habilidades existentes no Estado. A informação é da coordenadora de atendimento educacional especializado Denise Matos, do departamento de educação especial da Secretaria de Estado de Educação. Ele participa do 1º Congresso Brasileiro de Educação para Altas Habilidades/Superdotação, realizado no Teatro do Colégio Mãe de Deus desde terça-feira (27) até esta quinta-feira (29). "Não chegamos nem próximo do ideal. Falta muito a caminhar. Isso decorre da falta de conhecimento e de formação de profissionais. As universidades atualmente não trabalham com o enfoque nas altas habilidades, mas nas dificuldades de aprendizagem", salientou.

Questionada sobre como o estado pode expandir esse atendimento, ela destacou que um evento como o congresso realizado em Londrina é uma grande oportunidade para divulgar o conhecimento sobre a área. "Isso ajuda na formação de professores. O trabalho junto a universidades deve ser ampliado nas licenciaturas, principalmente nos cursos de psicologia e pedagogia, que são os cursos diretamente ligados à estrutura educacional. As próprias redes de ensino pública e privada devem se envolver mais nessa temática e criar cursos de capacitação para identificar estudantes com essas altas habilidades", apontou. Denise Matos ressalta que o trabalho de identificação de estudantes com altas habilidades começou no Paraná em 2001. "Abrimos a primeira sala em 2004, em Curitiba. Desde então, avançamos bem", apontou.

INICIATIVA DO MEC
A coordenadora do NAAH/S–PR (Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação do Paraná) em Londrina Fernanda Maria de Souza, explicou que partiu do MEC (Ministério da Educação) e da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) a iniciativa de implantar a educação especializada para essas crianças. "Em 2010, esses núcleos estavam sendo implantados nas capitais e, por questões políticas, em Curitiba já tinha. Com isso, Londrina foi privilegiada e ganhou o NAAH/S", ressaltou. Até 2017, a regional possuía 262 estudantes em Londrina, Cambé, Rolândia, Bela Vista do Paraíso e Sertanópolis.
A professora Francislene Sabaini Ramos Salmen conta que o trabalho em Sertanópolis é realizado há cinco anos. Os alunos são indicados de acordo com suas características pela equipe pedagógica ou pelos próprios amigos ou professores. "Para identificá-los, utilizamos o referencial teórico do psicólogo Joseph Renzulle, que é o adotado pelo MEC. São consideradas as habilidades artísticas (na música ou artes visuais); de liderança (aquele que é um líder nato, que organiza e resolve tudo); possui psicomotricidade acima da média (Neymar é um exemplo disso); habilidade acadêmica (demonstra potencial acadêmico elevado, com bom histórico escolar); ou intelectual (demonstra quociente de inteligência -QI- acima de 130. Dentro dessas características é um aluno que apresenta habilidade acima da média, criatividade e envolvimento com a tarefa. É aquele aluno que sempre quer mais, tem sede do conhecimento e habilidade acima da média em uma ou mais áreas", completou.

DESAFIOS
Uma das palestrantes no congresso foi Eunice Maria Lima Soriani de Alencar, professora emérita da Universidade de Brasília que estuda a área da superdotação há 50 anos. "Os EUA investem muito nessa área. São milhares de alunos que participam de programas especias. A Universidade de Harvard, uma das melhores do planeta, já tinha um programa para os melhores estudantes, com atenção diferenciada, já em 1873", apontou. Ela ressaltou que na Finlândia há estudantes que se destacam internacionalmente porque os professores são altamente qualificados e possuem grande prestígio naquele país. "Lá eles têm ênfase na criatividade, na produção de ideias, no brincar com essas ideias. A educação finlandesa possui um foco grande no desenvolvimento da pessoa, não só cognitivo, mas também emocional e ético. A gente sabe que a base de qualquer sociedade é a ética", apontou.
Ela ressalta que um grande desafio reside na formação de professores para a identificação dos alunos com altas habilidades. "Existem os estereótipos e problemas de gênero. Atualmente os professores indicam mais homens que mulheres para os núcleos de altas habilidades, embora o número de mulheres até o ensino médio seja superior ao de homens", apontou.

Anderson Coelho
Anderson Coelho - Beatriz Alvares, 16, instrumentista autodidata e compositora: altas habilidades musicais
Beatriz Alvares, 16, instrumentista autodidata e compositora: altas habilidades musicais


DESTAQUE NA MÚSICA
Beatriz Alvares, 16, aluna do Colégio Estadual Machado de Assis de Sertanópolis, participa do programa para alunos com altas habilidades/superdotação no Colégio Estadual Monteiro Lobato depois de ter sido identificada como uma estudante com altas habilidades na área musical. "Eu tinha cinco anos quando comecei de verdade a levar a sério a música. Quando estava na educação infantil os professores escolhiam alguns alunos para cantar e selecionavam a criança mais afinada. Desde aquela época eu me destacava na afinação", apontou.
Embora não tenha ouvido absoluto (capacidade de identificar as notas musicais ao ouvi-las) Alvares sempre demonstrou ter uma boa percepção musical e demonstra aptidão na área. Para tocar violão, por exemplo, foi autodidata e com um mês de treinamento olhando vídeos no YouTube já era capaz de tocar músicas inteiras sozinha. "Eu não faço aula. Fui aprendendo sozinha", destacou.
Compositora de canções de MPB, ela destaca que busca inspiração em um gênero completamente diferente. "O estilo MPB me encanta, mas para ouvir sou eclética. Eu me inspiro nas letras de rap para compor MPB, porque acho que as letras de rap traduzem o mundo como ele é", apontou.
A alta habilidade parece ser coisa de família. A irmã Nathália Alvares também foi aluna do NAAH/S (Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação do Paraná) de Sertanópolis por sua habilidade com a música e com a matemática. "Hoje ela é aluna de matemática na universidade. A música tem a ver com a matemática pelas escalas", apontou a estudante. A jovem Beatriz pretende fazer faculdade de música e seguir a área artística.
Vítor Ogawa
Reportagem Local/folha de londrina

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