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MANDIOCA NA BALANÇA - Preço do produto dispara com queda da área plantada

"Tive um prejuízo de 30% ou mais e fiz dívidas que ainda não terminei de pagar", diz o produtor Denilson Alves Lima, de Alto Paraná, que planta mandioca há 20 anos


O preço da tonelada de mandioca voltou às alturas e ultrapassou R$ 600 na última semana, em Paranavaí, de acordo com levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP). As cotações apontam para a repetição de um cenário prejudicial tanto ao agricultor quanto ao industrial, que começou há quatro anos e que serve de alerta para que ambos voltem à mesa de negociação e fechem acordos para tornar estável a relação entre oferta e demanda.

Isso porque a seca no Nordeste em 2013 fez com que fosse elevada a procura pelo produto paranaense, o que deixou os valores em patamar semelhante ao atual. A rentabilidade fez com que crescessem os olhos de produtores tradicionais de mandioca e também dos que se dedicavam a outras culturas. Como resultado, houve excesso da raiz em 2015 e o preço caiu abaixo do custo de produção, o que fez com que agricultores quebrassem ou ficassem inadimplentes.

Sem conseguir crédito para a safra seguinte, a colheita atual apresenta queda de 21% na área plantada no Paraná, de acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab), o que levou a nova disparada da cotação do produto. O espaço ocupado pela mandioca passou de 132,4 mil hectares na safra 2015/16 para 104,7 mil no ciclo 2016/17. Ainda, a expectativa de produção é de redução de 24%, de 3,6 milhões de toneladas para 2,7 milhões, no mesmo comparativo.

De acordo com o Cepea, o valor médio da tonelada da mandioca foi de R$ 618,12 na semana entre 23 e 27 de janeiro, em Paranavaí, e continua a crescer. Apesar de industriais e produtores da região dizerem que o valor já passou de R$ 600 em outras oportunidades, o órgão da USP aponta R$ 598,48 como cotação máxima para a raiz, na semana encerrada em 13 de dezembro de 2013. E, como mínima, os R$ 127,49 do período até 17 de julho de 2015.



Importância
Para o técnico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e professor de economia rural da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Eugenio Stefanelo, não se dá a devida importância para o mercado de mandioca, apesar de ter derivados usados em cerca de 1,5 mil produtos, desde setores como mineração e petroquímico ao de papel. "O Paraná é o maior produtor de fécula do Brasil e responde em média por 70% do volume produzido, além de ser o segundo em produção de farinha, atrás apenas do Pará", diz.

Os núcleos regionais mais representativos são Paranavaí, Campo Mourão, Toledo e Umuarama. São 42 fecularias ativas no Estado, o equivalente a 57% do parque nacional, além de 60 indústrias de farinha. Porém, as fábricas trabalham com ociosidade próxima a 50%, segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca (Abam).



A área plantada chegou a 184 mil hectares em 2011, ano de produção recorde de 4,1 milhões de toneladas, e está em queda desde então no Paraná. Trata-se de uma queda de 43,5% na área estimada até a previsão para este ano, com redução de 33,8% na produção. "É o segundo ano consecutivo de grande redução na área plantada, o que é a causa dessa oferta menor e do maior preço", diz o economista do Deral especialista no produto, Methodio Groxko. Ele conta que o tombo de 2015 fez com que muitos produtores migrassem para culturas como a soja.

Por isso, o presidente do Sindicato das Indústrias da Mandioca do Estado do Paraná, João Pasquini, faz um alerta. "Gostaria que o produtor lembrasse do que ocorreu nos últimos anos e não fizesse loucuras, mantendo a área plantada em patamares parecidos com a demanda da indústria, sem diminuir nem aumentar tanto a área plantada."
Fábio Galiotto
Reportagem Local/FOLHA DE LONDRINA

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